Teatro

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O salão estava em completo silêncio após as palavras de Malia ecoarem pelas paredes de pedra. O ar estava carregado de uma energia sombria, as velas tremeluziram e uma sensação de inquietação se espalhou entre os presentes. Eridessa, agora coroada, sentia o peso da coroa sobre sua cabeça, mas seu olhar estava fixo em Kellan, que se encontrava ao seu lado no altar. Eridessa se afastou dele, seus olhos ainda frios e calculistas, mas com uma sombra de arrependimento passando rapidamente por sua expressão.

Os convidados começaram a murmurar, a confusão se espalhando rapidamente. O rei, pai de Eridessa, observava a cena com um olhar que misturava choque e questionamento. Aquela bruxa era familiar para ele, mas só conseguia lembrar das palavras que ela proferiu.

"Guardas!" O rei ordenou, sua voz firme. "A bruxa!"

Os murmúrios aumentaram, mas desta vez havia um tom de aceitação misturado à confusão.  Os guardas se movimentaram rapidamente, cercando Malia enquanto ela permanecia calmamente em seu lugar. Seus olhos, um misto de desafio e resignação, encontraram os do rei por um breve instante antes que ela abaixasse o olhar em sinal de respeito.

 A coroa pesava sobre a cabeça de Eridessa, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. Ela sabia que a decisão que Malia tomara traria consequências imprevisíveis, mesmo que estivesse alinhada com seus próprios planos ambiciosos. Seu olhar se encontrou com o de Kellan, que estava ao seu lado, perplexo com a reviravolta dos acontecimentos.

"O que isso significa?" Kellan sussurrou para Eridessa, sua voz carregada de incredulidade e confusão.
Eridessa não respondeu imediatamente. Ela ponderava sobre como agir, sobre as palavras que deveria escolher para acalmar a situação que ameaçava sair de controle. O rei avançou na direção de Malia, sua expressão severa contrastando com a hesitação visível nos rostos dos guardas.

"Quem é você e o que pensa que está fazendo?" O rei exigiu, sua voz ressoando pelo salão agora tenso.
Malia ergueu o queixo, não recuando diante da autoridade do rei. "Não me reconhece?" ela começou, sua voz firme. 

Os murmúrios dos convidados aumentaram, criando um zumbido constante que ecoava pelas paredes de pedra do salão. Eridessa sentiu a necessidade de intervir antes que a situação se descontrolasse completamente. 

Os passos sucederam o som da porta batendo.

 Kellan, seu pai, o antigo rei, e um seleto grupo de conselheiros e nobres caminharam até a sala da coroa, um ambiente reservado e propício para deliberações de Estado. Os guardas formaram um cordão de segurança ao redor do grupo, garantindo não apenas a segurança física, mas também a confidencialidade necessária para uma reunião de tal importância.

Kellan caminhava e ainda vestia a roupa da cerimônia, seu semblante uma mistura intrigante de preocupação e curiosidade. De tempos em tempos, seus olhares se voltavam em busca de explicações ou sinais de como proceder diante da reviravolta que presenciaram. Eridessa foi a última a adentrar a sala, por sua vez, mantinha uma postura de rainha recém-coroada, embora não conseguisse esconder inteiramente o leve traço de tensão que se refletia em seus olhos. Ela compreendia plenamente a necessidade de agir com cautela e determinação diante das figuras influentes que a rodeavam. Ela trocou a roupa rapidamente para um vestido mais leve vermelho escuro.

Ao adentrarem a sala da coroa, uma atmosfera solene e imponente os recebeu. A sala estava iluminada por candelabros de prata que projetavam sombras dançantes sobre os brasões e símbolos do reino esculpidos na mesa de carvalho maciço. O ambiente reverberava com a seriedade do momento, enquanto os presentes se acomodavam em torno da mesa, preparando-se para uma discussão que moldaria o destino de Dreadforge.

Eridessa quebrou o silêncio tenso com sua voz firme e controlada. "Pai, nobres presentes." começou, buscando conectar-se com cada um dos presentes com seu olhar determinado. "O que testemunhamos no salão foi uma revelação inesperada, porém, estou convicta de houve uma falha na cobertura da segurança da minha cerimônia, esse evento pode gerar consequências no meu povo, se causarem alarde precisaremos aumentar a segurança ao redor do castelo e nos centros comerciais." - Eridessa disse como se já tivesse ensaiado várias vezes esse trecho.

O rei assentiu lentamente, seus olhos perscrutando Eridessa com uma mistura de admiração paterna e preocupação. Era evidente que aquela revelação abalara não apenas suas convicções, mas também as alianças estratégicas que mantinha com outros reinos. "Eridessa," disse o velho rei de Dreadforge com calma, "essa maldição, tem implicações que vão além de nossa compreensão imediata. Afeta não apenas nossa soberania, mas também nossa reputação perante os outros reinos."Kellan interveio, sua voz carregada de preocupação e determinação. "Majestade," dirigiu-se ao rei com respeito, "Acho que é uma opção nós conversarmos com essa tal bruxa, para descobrirmos quais foram seus motivos de interver a cerimônia, isso é relevante pode ser uma ameaça de algum inimigo." Os conselheiros e nobres ao redor da mesa trocaram olhares significativos, sussurros cautelosos preenchendo brevemente o espaço antes que o rei erguesse a mão para silenciá-los. "É essencial que sejamos meticulosos em nossas decisões daqui em diante, não estou afim de mexer com magia" declarou com firmeza, sua voz ecoando na sala da coroa. "Precisamos avaliar todas as ramificações dessa revelação e determinar os passos a seguir com cuidado e discernimento."Eridessa disse com seriedade, consciente da gravidade da situação. Ela compreendia que cabia a ela guiar o reino por esse momento de incerteza com sabedoria e determinação, exatamente como ela havia planejado.

Kellan, no entanto, não pôde conter um sorriso sarcástico que se formou em seus lábios. "Maldição? Magia? Realmente, estamos levando isso a sério?" Sua voz carregava um tom de deboche. "Majestade, com todo respeito, não estamos em uma peça de teatro. O que vimos foi um show de ilusionismo, nada mais. Esta tal bruxa, Malia, é uma farsante. Devemos focar em questões reais, não em superstições."Eridessa lançou um olhar gelado para Kellan, mas ele continuou, desafiando-a. "Eridessa, você realmente acredita nisso? Uma maldição que cai sobre o reino? Parece mais uma história para assustar crianças. Devemos estar preocupados com forças políticas e militares, não com contos de fada."O rei, visivelmente incomodado com a postura de Kellan, franziu o cenho. "Kellan, a questão aqui não é apenas a magia em si, mas a percepção que ela cria. Os reinos vizinhos podem usar isso contra nós, enfraquecer nossa posição. Não podemos nos dar ao luxo de ignorar o impacto disso. Além disso, Malia, a bruxa, já foi parte do nosso conselho. Pode até ser parte de um plano de vingança."

Kellan suspirou, cruzando os braços. "Então, vamos nos rebaixar a negociar com uma bruxa? Como isso nos faz parecer? Fracos, manipuláveis. Precisamos mostrar força, não vulnerabilidade a feitiçarias."Os conselheiros murmuraram novamente, a tensão na sala aumentando. O rei pai de Eridessa, firme em sua postura, respondeu com frieza: "Kellan, subestimar o poder da percepção é um erro grave. As ações de Malia, sejam elas mágicas ou não, já abalaram a confiança no nosso povo. Precisamos ser inteligentes e estrategistas. E quanto a você, talvez devesse aprender a diferença entre força e arrogância. Lembre-se que eu já fui rei de Dreadforge."Kellan "Com todo respeito, meu senhor, mas agora eu também sou rei e eu digo o que é melhor para meu povo." 


"Seu povo?" - Eridessa levantou o olhar do mapa central para ele - "Ele é seu povo tem duas horas. Esse é meu povo por 18 anos e foi do meu pai por 67 anos. Tenha respeito ao falar com ele, ou passará a noite de núpcias junto com os cavalos no estábulo." Pelo menos alguns nobres abriram a boca em choque com Eridessa, Kellan estremeceu um pouco, e o velho rei riu silenciosamente. 

A tensão na sala da coroa era palpável, cada figura importante ali presente ciente de que o futuro de Dreadforge dependia das próximas decisões. E, enquanto os debates continuavam, Eridessa mantinha sua determinação, oculta sob uma fachada de calma e controle, sabendo que cada palavra e ação deveria ser cuidadosamente calculada para alcançar seu verdadeiro objetivo. Kellan pareceu um pouco afetado durante a discussão, por conta do que Eridessa havia dito.


Em meio as conversas era possível ouvir algumas tossidas do pai de Eridessa, e elas começaram a ficar tão fortes de uma maneira que era impossível ignorar. "Majestade?" - Um nobre perguntou. "Acho melhor eu me ausentar" O antigo rei disse se levantando. Eridessa se levantou "Já conversamos o suficiente, depois de ouvir a opinião de todos inclusive do novo rei, acho que devemos manter os olhos bem abertos no nosso povo nessas primeiras horas, podemos investigar se Malia estava sozinha ou não nessa história toda." Kellan interrompe Eridessa "Podemos investigar se o truque de mágica deu certo." O silêncio se manteve vergonhosamente pela mesa, Kellan foi fusilado por Eridessa.

"Engraçado, não lembrava de Malia fazer truques de mágica para a gente." Uma nova voz adentrou o salão. "É muito bom te ver meu filho" - O rei caminhou até a entrada para cumprimenta-lo. "Desculpe atrapalhar a reunião", "Que isso já estavamos encerrando" - Disse o Rei. Emeric e Eridessa cruzam os olhares na saída. A nova rainha se despediu de todos na mesa, e todos fizeram uma reverência. Kellan foi atrás dela como se faz um cachorro.

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