Núpcias

4 1 0
                                    

As paredes de pedra do castelo de Dreadforge pareciam apertar ao redor deles, tornando o ar quase palpável. Ao chegarem à porta do quarto, os guardas abriram, permitindo que Eridessa passasse primeiro. Os guardas cruzaram as lanças para ele, Kellan que corria atrás de Eridessa sem saber o que fazer, ele ficou impactado com a reação deles. Eridessa percebeu e fez sinal para os guardas deixarem ele entrar, e deu um sorriso de desdém para Kellan.

Assim que a porta se fechou atrás deles, o quarto mergulhou em uma penumbra iluminada apenas pelas chamas trêmulas das velas. A atmosfera era carregada de uma tensão quase tangível, uma eletricidade invisível que percorria o ar entre eles. Eridessa virou-se lentamente para encarar Kellan, seus olhos fixos nele com uma intensidade que queimava mais do que qualquer chama."Por que você tem que ser tão incrédulo?" Eridessa sussurrou, sua voz baixa e quase rouca. Havia um brilho desafiador em seus olhos, uma chama que dançava à luz das velas. Kellan deu um passo em direção a ela, seu olhar igualmente ardente. "Porque," ele murmurou, a voz grave e carregada de uma emoção contida, "eu sei que há mais em você do que você deixa transparecer, Eridessa. Essa fachada de controle absoluto... é apenas isso, uma fachada."Eridessa ergueu o queixo, desafiando-o silenciosamente, sorriu "Aquilo no meu salão da coroa foi completamente vergonhoso."Ele deu mais um passo, reduzindo a distância entre eles. "Ah, sua sala da coroa?" disse ele, sua voz um murmúrio sedutor "Então me trazer aqui foi um plano? Eu sou uma peça no seu xadrez é isso?" Ele riu com graça pegou uma garrafa separada no canto com duas taças de vinho, tirou a rolha, encheu uma taça logo encheu a outra e ofereceu para Eridessa, que estranhamente aceitou a taça. Ambos sentaram em namoradeiras uma de frente para a outra. "Quero entender por que uma mulher tão poderosa e determinada como você se esconde atrás de planos e intrigas."-"Você é insuportável," ela murmurou, mas sua voz não tinha convicção. Havia uma vulnerabilidade ali, uma hesitação que ele não deixaria passar despercebida. "Admita que te provoco," ele sussurrou e ela disse "Você provoca ânsia de gorfo em mim", ele rosnou ao ouvir e alfinetou após virar a taça inteira "Quando encostei na sua cintura hoje mais cedo, não parecia que queria vomitar"Ela fechou os olhos, sua respiração se acelerando. Cada centímetro dela consciente da proximidade dele. Kellan se levantou e encheu a taça mais uma vez, e isso fez Eridessa se reajustar na namoradeira.

"Kellan," ela começou, a voz ainda trêmula de emoção. "Você me causou vergonha na sala do trono hoje. Na frente do meu pai, dos conselheiros, de todos os nobres. Você questionou minha autoridade e a legitimidade da maldição. Isso... isso não pode acontecer."Kellan olhou para ela, o semblante endurecido, mas seus olhos revelavam um misto de arrependimento e determinação. "Eridessa, eu apenas disse o que todos estavam pensando. É uma loucura acreditar em maldições."

Eridessa respirou fundo, tentando acalmar a fúria que borbulhava dentro dela. "Sim, é loucura acreditar em maldições. Mas, como sua esposa, dei razão ao que você disse, pelo bem da nossa união e da aparência de solidariedade diante da corte." manteve seu olhar penetrante fixo nele. "Mas nunca mais me faça parecer fraca ou desacreditada diante do conselho, ou haverá consequências."Kellan estreitou os olhos, seu próprio orgulho ferido. "Tenho razão, me sinto uma peça no seu tabuleiro. Cartinha uma ova, casei com uma cínica." Eridessa riu "Ouvir você dizer isso me deixa estranhamente relaxada." "Gosto de saber que está relaxada" Kellan disse e se sentou ao lado dela na namoradeira, e soltou seu corpo no apoio de costas.Eridessa ergueu o queixo, sua postura regia e inabalável. "Sugiro que você confie em mim e na minha liderança."Ele se aproximou dela, a tensão entre eles agora misturada com um entendimento relutante. "Nós estamos nisso juntos, Dessa. Se você me quer como parceiro, então tem que me apoiar também, mesmo quando não concordar. Especialmente quando não concordar... Admito não sei jogar esse jogo, sou um homem de sorte de ter uma mulher tão diplomática. Eu me considero mais um soldado do que um rei, bom é assim que eu me vejo, mas estou disposto a crescer pelo bem da coroa."
Eridessa olhou para ele com vergonha de si mesma, pois por um momento lembrou que aquele homem bom morreria por sua causa. Fazia parte do seu plano. "Eu sou excelente em tudo o que eu faço, sou respeitada na sala da coroa por existirem fortes motivos, dito isso não vou admitir que você fale qualquer coisa naquele ambiente, principalmente desrespeitar meu pai."Kellan acenou com a cabeça, a tensão entre eles começando a se dissipar. "Sim, minha rainha." Ele passou a mão sobre os cabelos de Eridessa tirando os dos ombros, depois enrolou eles com os dedos.
Eridessa olhou de soslaio para a mão dele, um ângulo perfeito para enxergar suas coxas disfarçadamente. Aquele par poderia facilmente esmagar um pescoço. "Desculpa" começou Eridessa e Kellan tirou a mão dos cabelos dela e aguardou o que ela falaria. "Desculpa, por te envolver nisso tudo." Kellan sorriu, "Casar não me parecia uma tarefa fácil, mas sabe, naquela carta você me convenceu que casamento poderia ser algo divertido. Mesmo que a carta fosse uma completa manipulação para noivar uma imperadora." Ambos riram um pro outro. "Ainda existe um pouco daquela Eridessa que escreveu aquela carta?". A rainha sorriu e completou "Bem lá no fundo ainda existe". Kellan se aproximou subtamente dela e quase se debruçou sobre ela, Eridessa congelou mas conseguiu dizer: "Você não sabe o que está pedindo," ela disse aflita e surpresa.
Kellan voltou para sua posição anterior segurando a garrafa de vinho que havia deixado longe, obviamente com os olhos arregalados para ela. Ele só se esticou para pegar a garrafa. "Vinho, eu to pedindo vinho." O silêncio permitiu ouvir o estalar da madeira na lareira. "Então é esse o plano, me embebedar?" Disse Eridessa ainda envergonhada pelo mal entendido. "Você que é a mulher de planos, eu sou um homem de improvisos!" Kellan sorriu e encheu sua taça "aliás você nem está bebendo, você tem cara que nunca bebeu um copo de vinho na vida". Eridessa arrebitou o nariz "Claro que já bebi, só não vou beber hoje, talvez amanhã." Kellan levantou "Então amanhã no mesmo horário."

"Para onde vai?" Eridessa perguntou ainda imerso em pensamentos com aquelas coxas apertadas no couro escuro. "Para mais onde iria? Para meu quarto. Você mesmo pediu para nossos criados para me instalar no quarto de frente ao quarto real, foi você que escolheu a banheira?". Eridessa piscou duas vezes, ela havia esquecido disso "Fui, eu gosto das banheiras redondas, são mais difíceis de encher mais são confortáveis." Ela por um segundo pensou que ele fosse querer dormir ao lado dela naquela noite, sentiu forte vontade de falar algo e pedir para ele ficar, mas tinha um plano para terminar e não podia se envolver com um homem morto. Kellan disse antes de fechar a porta "Boa noite, minha rainha. Sonhe com a terrível maldição." Ele fez uma voz grossa e sussurrenta no final. Eridessa teve que conter um sorriso.

Charmed CrownOnde histórias criam vida. Descubra agora