Êxodo 20:7

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/Izuku's POV/

                                          👁️

Meu segundo posto.

Lembro de quando cheguei aqui. Era uma quinta-feira, chuvosa. Eu saí da vã vermelha, acompanhado da Tia Chiyo. Ela segurava um guarda-chuva vermelho sobre nossas cabeças. Um guardião tocou a campainha e ela sussurrou em meu ouvido: "Lembre-se, Deus está te vigiando." A porta foi aberta, fui empurrado.

Deparei com uma sala. Azul, tudo era azul. A cor celeste, a cor pura, a cor do véu da mãe de Jesus. Mãe...maternidade. As mães usam essa cor.

Então, ela surgiu na minha frente, com sua bengala.

- Levante a cabeça, garoto. - Ela ordenou. Aos poucos, ergui meu olhar para ela. Sua boca era rosada, sua pele era parda. O cabelo amarrado, num longo rabo de cavalo, debaixo do véu. Vestia um vestido azul, como o céu do verão, bem descente.

As roupas agora são como antigamente. É difícil ver um pedaço de pele, até as mãos possuem luvas.

- Você deve se achar melhor por ser fértil. - Ela insinuou. O que não era verdade. - Quero te ver o menos possível! E quanto ao meu marido, lembre-se, ele é meu marido! Não me traga problemas, se não, trarei problemas para você.  Entendeu? -

- Sim, senhora. -

- Não me chame de senhora! - Ela se irritou. - Você não é uma Martha. -

Não perguntei de que eu deveria chamá-la, porque podia ver que ela esperava que eu nunca tivesse a oportunidade de chamá-la de coisa alguma. Queria ao menos tê-la como uma amiga, ou uma irmã mais velha. Eu lia em livros que as damas eram amigas da rainha. Conselheiras. Já vi que isso aqui não é como os livros... é pior.

Ela, provavelmente estava com vontade de me dar uns tabefes na cara. Eles podem bater em nós, existe precedente nas Escrituras determinando isso. Mas não com qualquer instrumento. Somente com suas mãos.

Sei o nome dela. O comandante já a chamou na minha frente. A Martha também. A mulher à minha frente é Momo Yaoyorozu. Ou tinha sido, antigamente. De modo que a situação era pior do que eu havia imaginado. Minha antiga senhora sempre ficava trancada no seu quarto, o que era favorável.

Antes de subir, escuto-a a murmurar para a Martha: "Agora ele tem que transar com um homem para ter nosso filho. Seja o que Deus quiser."

Abro a porta do quarto (não do meu quarto, não gosto de chamar de meu. Se fosse meu, eu poderia trancar a porta e fazer o que eu quisesse nele) entrei nele e reparei em cada detalhe.

Eles removeram qualquer coisa do teto na qual eu possa amarrar uma corda.

(...)

Durmo numa cama de solteiro, com um travesseiro e um lençol. Só acontece o sono nela, ou a falta dele. Há um closet. Uma cadeira. Um abajur. Uma janela. Posso me sentar no pequeno banquinho que tem nela. Pego a almofada. No meio dela, tem a palavra "FÉ" bordada num tom azul desbotado.

Essa é uma almofada que antes era usada em outro lugar, gasta, mas não o suficiente para jogar fora. De alguma forma deixaram-na passar. Queria ser deixado passar. Posso passar minutos, dezenas de minutos, percorrendo as letras com os olhos: FÉ é a única coisa que me deram para ler.

Se fosse apanhado fazendo isso, será que contaria? Será que arrancariam um de meus olhos como fizeram com uma delas. De certa forma, não é minha culpa. Eu não botei a almofada aqui.

O motor gira, e me inclino para fora, puxando a cortina branca sobre meu rosto, como um véu. É semitransparente, posso ver através dela. Se pressionar meu rosto contra o vidro e olhar para baixo, posso ver a metade de trás da limousine que parou na porta. Ninguém está lá, mas observo o Guardião.

O conto do ômega Onde histórias criam vida. Descubra agora