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Pov Soraya

Amargurada, com raiva, de mal com o mundo, era assim que eu vivia nos últimos 4 anos da minha vida, eu me culpo pela morte de Lia até hoje, não consigo me desprender por que foi por conta de uma discussão que ela saiu de casa com raiva e capotou o carro não sobrando nada, me deixou sozinha cuidando de duas crianças, Maria Fernanda e Maria Eduarda tem 10 anos, as meninas são a minha vida, mas com os últimos anos eu me afastei delas, minhas filhas eram parecidas com minha falecida esposa então eu não conseguia ficar mais que 5 minutos dentro do mesmo cômodo que elas, sei que as meninas sentiam a minha ausência mas eu não podia fazer nada, eu não conseguia.

Me casei com Lia quando eu tinha 18 anos, aos 13 anos demos nosso primeiro beijo, com 15 a pedi em namoro e enfim nos casamos, vivemos bem até o 5° ano do nosso casamento, depois disso tudo começou a desandar, eu sempre fui muito dependente emocional de Lia, não sei se por ser com ela todas as minhas primeiras vezes, mas o fato é que ela errava e eu quem pedia desculpas por medo de perder minha mulher.
Ela chegava tarde em casa, com outro perfume na roupa, me xingava a bessa, não dava a atenção para as meninas, dizia que eu era uma inútil por que ela teve que abdicar da sua vida para ter nossas filhas, eu não podia gerar, pelos exames eu tinha um problema no útero, porém eu queria muito ser mãe então ela o fez na época, mas quando brigávamos ela jogava isso na minha cara e me magoava de uma forma irreparável, dizia que eu não era digna de amor, somente de pena, que ficou comigo por que eu não acharia ninguém melhor que ela, e que ninguém olharia pra mim, que eu não era capaz de ser amada, depois me pedia desculpas e agia como se nada tivesse acontecido e eu como uma imbecil, caia feito um patinho.

Não sei se ela se cansou de mim, do nosso casamento, da nossa rotina, não faço ideia do que, mas os últimos anos foram um verdadeiro inferno, eu não conseguia ter outra pessoa para um relacionamento amoroso por que não me sentia digna de nada, minha falecida esposa acabou com tudo de bom que havia dentro de mim, tudo o que passei com ela resultou na pessoa que sou hoje, eu ficava sim com algumas garotas nas noites, mas nada que prendesse a atenção, achava as garotas bonitas claro e além do mais gostosas, porém apenas isso, até ela, até ver os olhos mais intensos e negros como a noite, mesmo com o semblante cansado, ela foi a coisa mais linda que eu já vi em toda a minha vida, sua pele tão branca quanto a neve, seus cabelos longos e pretos tão escuros quanto o céu sem estrelas, eu nunca tinha visto uma moça tão bonita quanto aquela garota do parque, eu estava na minha corrida matinal de todos os dias, distraída trocando a música do meu celular até que esbarrei nela, o esbarrão foi tão forte que caímos ao chão, mas quando seus olhos pousaram aos meus tudo ao redor do mundo parou, sua voz tão suave e ao mesmo tempo tão rouca invadiu meu peito aquecendo meu coração de uma forma que eu não sei explicar.

Ela rapidamente sumiu do meu campo de visão, totalmente constrangida, o que me fez sorrir, terminei minha corrida, fui pra casa e tomei um longo banho para poder ir trabalhar, eu estava irritada por que minha melhor amiga e secretária estava saindo de licença maternidade e precisava urgente de uma secretária nova, todas as que passaram por aqui eu odiei.

Reuniões e mais reuniões no decorrer do dia me deixavam em um humor terrível porém mesmo assim eu não parava de pensar na garota do parque, agora eu iria entrevistar mais algumas, suspiro alto e minha amiga entra na sala.

__ E aí chefinha.

Sua risada debochada me faz revirar os olhos.

__ Não estou para gracinhas Leila.

__ Você nunca está para gracinhas, vamos as garotas estão esperando.

Eu bufo.

__ Eu nem preciso ir até lá, odiei os currículos delas.

Como Eu Era Antes De Você | Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora