Eu esqueci você.
Uma semana depois de toda aquela agonia, eu sentia que poderia morrer á qualquer momento, vegetava em minha cama esperando acordar desse pesadelo.
Duas semanas depois, eu estava perdido em bares, calçadas, camas alheias, e uma vez até num gramado. Tentava preencher meu vazio com meus vícios, mas nem eles foram suficientes.
Três semanas depois, eu já estava com um estômago péssimo, uma barba pra fazer, uma casa pra arrumar e lembranças pra queimar. Eu comecei a aceitar que você não voltaria, mas isso não deixava de me destruir.
Um mês depois, eu vendi aquela casa idiota. Joguei fora o meu colchão, pois você já se deitou nele. Joguei a maioria das minhas roupas, pois seu cheiro ainda estava nelas. Dei embora aquele gato idiota que você inventou de resgatar, pois aparentemente ele me odiava por ter deixado você ir. (E meio que eu também.)
Um mês e meio, eu já tô me estabelecendo. Deixei pra trás aquela cidade que me afoga, comprei coisas novas e tô morando num apartamento pequeno pra não dar espaço pro vazio que é existir sem você aqui.
Se você me perguntasse agora onde eu mais queria estar, minha resposta não seria um lugar, seria uma pessoa.
Mentiria se dissesse que não sinto falta, mas preciso aceitar que vai ser assim daqui em diante. A vida vai ser uma droga por um tempo.
Sou grato pelo que me proporcionou, me ensinou, e por nossas memórias.
Aquele dia em que eu fiquei preso numa árvore e você teve que cortar a manga do meu suéter, a gente riu pra caralho e acordou naquele teu carro antigo, pois "dormir" não seria exatamente a palavra certa.
A vez em que estávamos vendo um filme de comédia e você só sabia comentar sobre os furos no roteiro, você tornou meu filme favorito um porre, mas eu mentiria se dissesse que não amei aquilo. Na manhã seguinte estávamos no sofá, cercados por garrafas de vidro e memórias afetivas.
Cada segundo ao seu lado foi como se meu corpo entrasse em combustão e minha mente desse piruetas. Você não tinha noção do que me causava.
Eu acho que nunca realmente amei alguém ao ponto de dizer que morreria por aquela pessoa, mas, por você, eu acho que até viveria.
Será que existe uma poção mágica pra me fazer te esquecer? Inicialmente pensei que o álcool faria isso, mas ele me deu no máximo um fígado desintegrado e uns 10 contatos a mais no meu celular.
Enfim, essa é a última vez que vou me permitir sofrer por você.
Por favor, se houver alguma chance de estar vivo, não ouse me contatar de novo. Não me peça pra ir até você. (Porque, provavelmente, eu vou aceitar.)
-Do cachorro mais burro desse calçadão, C.
