A dor alucinante foi a primeira coisa que percebi, logo que meus olhos se acostumaram com a claridade, reconheci o volante, minhas mãos o pressionavam com tanta força que os nos de meus dedos estavam vermelhos.
Levantei o olhar e vi o vidro trincado, não sabia quanto tempo havia ficado desacordada, mas não parecia ter sido muito tempo, já que a senhora ainda estava sendo devorada em um nível desumano.
As pessoas ainda corriam desesperadas por todos os lados, os carros haviam parado com as buzinas, mas agora barulhos de helicópteros, batidas, e o estralar do fogo havia tomado o ambiente.
Me movi no carro, procurando um jeito de me soltar, a corta estava completamente amassada, não iria abrir para meu lado, minha única saído era a porta do passageiro que por incrível que pareça ainda estava polida.
Me arrastei desajeitada em direção a saída do carro, mas algo atraiu a minha atenção, mais precisamente a senhora. A mulher idosa que antes havia sido mordida e tivera sua carne arrancada, agora estava se levantando, ela tremia e seu corpo se movia de um modo estranho.
A encarei por alguns segundos, até perceber que veias estavam saltando em sua pele, eu conseguia ver a maioria de suas veias e um arrepio tomou conta de cada uma de minhas células no instante em que seu olhar recaiu sobre o meu.
Meu coração acelerou a uma velocidade extraordinária, eu o sentia bater em meus ouvidos. A senhora de cabelos grisalhos e pele enrugada correu em uma velocidade desumana em direção ao meu carro,
Tudo pareceu lento demais, minha garganta secou e tudo o que consegui fazer foi permanecer no lugar, completamente imóvel, eu não conseguia me mexer, meu corpo não obedecia meus comandos.Ela se chocou contra o vidro já trincado, metade do seu corpo estava dentro de meu carro, e ela não me tocava por pouco, mas seus dentes... Seus dentes eram horríveis, ela estava babando sangue e aquele líquido vermelho estava se derramando em minha calça jeans.
Engoli em seco, respirei um pouco desconcertada e forcei meu corpo a se mover, forcei minhas pernas a se mexerem.
Abri a porta do carro e saltei para fora, quase caí na rua, mas não o fiz, a mulher agora rasgava a própria pele para entrar em meu carro.
Um horror tomou conta de mim, trazendo consigo um arrepio sombrio.
Não olhei ao redor, não me mexeria se o fizesse...
Apenas segui reto, para o hotel, para aquele lugar misteriosamente vazio que ainda me cheirava a perigo, mas que era melhor do que permanecer na rua.
Assim que atravessei as portas, as tranquei no mesmo instante e quase que no mesmo segundo duas pessoas se jogavam contra o vidro na tentativa falha de me alcançar. A dor havia sido ignorada, a adrenalina percorria enlouquecidamente o meu corpo.
Uma pequena fechadura surgiu no vidro assim que uma terceira pessoa se juntava a porta, na tentativa de quebra-la.
Olhei para minhas opções, e não era muito, tinha dois corredores, um a direita e outro a esquerda. A única diferença entre os corredores imensamente brancos, era que o da direta tinha uma porta, e aquela pequena diferença que iria salvar minha vida.
Antes que as minhas pernas cedessem obriguei as correr, não poderia perder um único segundo, deveria aproveitar enquanto a adrenalina ainda corriam freneticamente por meu corpo bloqueando qualquer reflexo da terrível dor de cabeça que em breve voltaria.As portas dos quartos estavam todas fechadas, algumas tinham chaves penduradas, indicando que estavam vagas, mas era estranho, adentrei as portas brancos do corretos, através delas pude ver uma imensa cozinha. Ela estava limpa, inteira vazia, as panelas bem ariadas e bem secas penduradas sob o fogão. A pia perfeitamente limpa... E tudo estava tão organizado, era um hotel normal, nada luxuoso, mas ainda assim muito zeloso.
Ouvi o estirou do vidro contra a cerâmica fria do chão e eu sabia que a porta finalmente havia cedido.
Peguei o primeiro pano de prato que havia visto já frente e amarrei as alças da porta, dois nós foram o suficiente, mas para mim não bastava. Eu precisava de mais alguma coisa para permanecer viva... Segura.
Corri para a pia o mais rápido que conseguia, procurei alguma coisa que pudesse me ajudar, e apenas quando abri a gaveta e a visão de um faca se fez presente em minha frente que me senti de fato um pouco segura.
Peguei o objeto cortante e corri ainda desesperada demais, varri cada canto da cozinha inabitada com os olhos.
Ao canto, quase escondida demais por uma geladeira e dois freezer, estava uma pequena porta camuflada demais por sua tintura branca como as paredes.Não consegui hesitar nem mesmo um segundo, as criaturas ainda não haviam notado a porta, mas conseguia ouvir seus passos, ouvir o barulho estranho que eles emitiam, e cada um desses sons me causavam arrepios até em minha alma.
Caminhei apressada, tentando não fazer nenhum barulho, a faca estava aquecida em minhas mãos, meu coração ainda batia em meus ouvidos. Lágrimas escorreram livremente por minha face, e eu fui obrigada a tampar os soluços que lutavam para fugir.
Segurei a maçaneta fria, a girando tão devagar que o mistério quase me deixou irritada, se fosse em outras situações.
O sangue já estava manchando minha mão. E pingava pelo piso branco, agora também manchado com gotículas vermelhas.
A porta fez um estalo alto o suficiente para fazer eco por todo o ambiente. Em um segundo tudo estava quieto, e no outro, a adrenalina voltava a irromper por minhas veias, as criaturas estavam se jogando na porta da imensa cozinha, me obrigando a entrar tão rápido no espaço da cozinha que se algo estivesse do outro lado da porta, já teria me matado sem nenhuma hesitação.
Fechei a porta de aço e a escuridão predominou, não demorou muito para que as criaturas começassem a andar livremente pela cozinha na espectativa de me encontrar, ou de encontrar qualquer criatura que eles pudessem comer.
Segurei a faca ainda mais apertada em minhas mãos e desejei com todo afinco que não tivesse nada naquele lugar...
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A última esperança
Fiksi UmumEm uma noite normal onde Atena percebe que o mundo já não é mais o mesmo, percebe que há muita fumaça na cidade e que o ar não cheirava a ele mesmo, mas sim a queimado e a morte. Atena se vê encurralada e sem nenhuma saída plausível para o lugar...