APENAS UM POUCO SEM CORAÇÃO

Capítulo Doze

Os dias seguintes foram alguns dos mais bizarros da vida de Pete. Os idiotas do andar de cima os deixaram sozinhos depois que Pete disse a eles que Vegas ainda estava perto de seu leito de morte - eles só jogavam
comida e água várias vezes ao dia.

Pete estava perfeitamente satisfeito com isso. Na verdade, ele estava
bastante contente em geral, o que era... bizarro. Seus ataques de pânico
desapareceram. As paredes quase pararam de se fechar sobre ele, se ele não se concentrasse nelas. Talvez ele tivesse se acostumado com o porão.
Ou, mais provavelmente, tinha algo a ver com o fato de que ele passava
praticamente todos os momentos acordados envolto de Vegas, às vezes
literalmente.

As costas de Vegas estavam melhores agora, mas ele ainda dormia meio
em cima dele, seu braço pesado jogado sobre o peito de Pete de uma maneira que parecia... Pete eu não conseguia encontrar uma palavra para isso. De qualquer maneira, Pete não conseguia se lembrar. Quando seu mundo era um quarto minúsculo e escuro no subsolo, era a presença de Vegas - seu corpo, suas mãos, sua voz - que o mantinha são. A única coisa para focar.

Pete tinha plena consciência de que estava desenvolvendo rapidamente
algum tipo de... apego doentio, uma dependência que deveria ter cortado pela raiz, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito. Não havia mais nada neste porão além deles. Sem telefones, sem Internet, sem entretenimento.

Apenas eles, enredados um no outro 24 horas por dia, 7 dias por semana. Seus dias começavam e terminavam com Vegas. Ele era a primeira coisa em sua mente quando acordava e a última quando adormecia. A falta de privacidade e o contato físico constante apagavam qualquer limite entre eles, de forma alarmante.

Tudo sobre este homem agora era reconfortante: sua voz baixa, seu humor irônico, até mesmo seu cheiro, que era fodido, porque depois de dias neste porão, nenhum deles cheirava bem objetivamente. Aparentemente, o cheiro do suor de um homem pode parecer agradável e reconfortante nas circunstâncias certas ou erradas. Para seu embaraço, Pete se viu procurando o cheiro do suor de Vegas. Quando Vegas estava dormindo, Pete enterrou o rosto na axila de Vegas, sentindo-se embriagado com o cheiro picante dele, o perfume puro em sua língua.

Pete não sabia o que Vegas pensava sobre sua pegajosidade – se é que
ele a compartilhava. Vegas não era claustrofóbico como ele. Ele não precisava que Pete fosse sua âncora. Mas ele parecia contente o suficiente para estar em todo o espaço pessoal de Pete, tratando-o como seu travesseiro pessoal e permitindo que Pete brincasse com seu cabelo.

Pete não tinha ideia se Vegas se lembrava de todas as bobagens que
lhe disse enquanto estava com febre - esperava que não - mas era inegável que Vegas estava significativamente... mais maduro e mais manhoso com ele do que antes da surra. Suas reservas sobre abraços certamente não pareciam ser vistas em lugar nenhum, e ele não disse nada sobre a nova propensão de Pete para acariciar seu cabelo. Qualquer que seja. Pete decidiu apenas seguir em frente.

Durante aquelas longas horas na semi-escuridão, eles conversaram. Vegas contou-lhe um pouco da sua infância, na sua maioria anedotas divertidas, não muito pessoais, mas que davam a entender a infância
solitária que tivera, porque nunca houve amigos. Pete evitou falar sobre sua infância. Vegas ainda pensava que ele era Porsche, o namorado de Kinn, e Pete não tinha muita vontade de inventar histórias sobre a infância de Porsche. Suas próprias histórias de infância não se encaixariam, porque ele cresceu em um ambiente diferente de Porsche.

Ele meio que queria dizer a Vegas seu nome verdadeiro, mas ele era um
homem de palavra - ele havia prometido a Kinn fazer o papel, então ele o faria. Não era apenas sobre ele, afinal; era uma questão de segurança de Porsche. Não que ele não confiasse em Vegas. O problema era que ele atualmente confiava demais nele, seu cérebro incapaz de compreender que este homem era tudo menos bom, maravilhoso e seguro. Ele tinha que se lembrar de hora em hora que Vegas não era realmente tão legal.