Gotta Go Fast

Memórias despertadas

  Ao entardecer de uma sexta-feira, Steve se prepara no palco de um bar para tocar com sua banda. Rick, com sua guitarra cuidadosamente ajustada, emite sons psicodélicos, sintonizando-se com a atmosfera do lugar. Hannah afina as cordas de seu baixo, sua expressão serena mas cheia de energia. Steve, no centro do palco, ajusta os pratos de sua bateria com precisão, pronto para comandar a batida que guiará a noite.

  Um momento de silêncio tenso paira sobre o palco enquanto os três se olham, uma conexão instantânea é estabelecida entre eles, uma comunhão de propósito e paixão pela música.

  Então, Hannah, com seu suéter listrado, se aproxima do microfone, a sua presença domina o espaço. Todos na plateia, composta por jovens alternativos, se voltam para o palco, capturados pela promessa do que está prestes a acontecer.

  Steve puxa a primeira música da noite com uma batida firme e pulsante, "Only Shallow" do My Bloody Valentine. A guitarra e o baixo entram em harmonia, tecendo uma tapeçaria sonora que envolve a todos no ambiente. Hannah se entrega à música, sua voz ecoa pela sala, seu corpo se move em sintonia com a batida, seus olhos fechados em êxtase puro.

  O tempo parece suspender-se enquanto a música flui, preenchendo cada canto do bar. E então, como num piscar de olhos, a canção chega ao fim, deixando para trás um rastro de emoção palpável.

  Os aplausos irrompem da plateia. Hannah, com um sorriso radiante, afasta a franja dos olhos, seu peito inflado de gratidão. Ela respira fundo, absorvendo a energia emanada pela multidão, pronta para a próxima música.

  — Nós somos a Misty Mirage! — exclama Hannah, segurando o microfone no suporte — Quem aí tá pronto pra curtir a noite toda?

  A plateia grita. No meio deles estão Will, John e Sally, os três pulam prestigiando a banda de Steve.

  —  Ae, Will. — diz Sally — A banda do seu irmão é muito irada!

  — Bota irada nisso! — incrementa John — Deve ser incrível ter um irmão assim!

  — Sabem como é né? Se tem um Miller no meio, sempre dá certo! — exclama Will, exibindo um enorme sorriso.

  Rick puxa na guitarra a introdução de "Invisible Man", da banda The Breeders, com um riff cativante que preenche o espaço do bar. Hannah lança um sorriso para Steve e, eles entram com o baixo e a bateria, criando uma base sólida e pulsante, enquanto o vocal hipnotiza a todos com sua intensidade. Os jovens na plateia, contagiados pelo ritmo, pulam e cantam junto com a banda, criando uma atmosfera vibrante.

  Em seguida, com uma transição fluida, a banda mergulha em "Peng! 33", da Stereolab. O bar, mergulhado em uma penumbra sugestiva, é tomado por movimentos frenéticos e sorrisos extasiados. Enquanto Will admira orgulhosamente seu irmão na bateria, Sally balança a cabeça em sincronia com o ritmo contagiante, e John, imerso no som, simplesmente se entrega à experiência sensorial. 

  Ao fim da música, Rick avança e rouba o microfone, surpreendendo a todos. Hannah olha para Steve, confusa. Ele sorri, e move seus lábios lentamente, dizendo: “Deixa rolar”.

  — E aí pessoal! — exclama Rick, se dirigindo a plateia — Quem aí tá afim de um som pesado?

  Os jovens pulsam e gritam, formando uma maré viva de energia na plateia. Rick sorri, seus olhos brilham de empolgação. Ele olha de soslaio para Hannah, que está ao seu lado no palco. Ela suspira profundamente, deixando-se levar pelo momento, e retribui o sorriso acompanhado de um olhar cúmplice.

  O guitarrista, se aproxima de Steve e cochicha algo em seu ouvido. O baterista ouve atentamente, e um largo sorriso se abre em seu rosto. Ele dá um leve aceno com a cabeça, concordando com o plano. Em seguida, Rick volta à frente do palco, onde o público pode vê-lo claramente. Ele olha para a baixista, e, com um brilho malicioso nos olhos, soletra — R E V E R I E — com os lábios. Hannah entende a mensagem instantaneamente e se prepara.