Capítulo 5

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Alguns dias se passaram desde que vi aquela sombra atrás da árvore. Após esse dia também não ouvi mais nada, as portas permaneceram trancadas. Não contei nada ao Hugo, apenas pedi para que ele conferisse o sótão. Assim ele fez... nada. Nem mesmo um rato sequer. Ainda não sei como explicar o barulho que eu ouvia todas as noites nas últimas semanas. Era estranho, pois não haviam cadeiras, mesas ou qualquer outro objeto que pudesse arranhar, mas lá estava o chão todo riscado, como se algum desses objetos tivesse sido arrastado com toda a força possível.

Eu não conseguiria explicar o tempo que estava perdendo, alguns dias eram segundos, minutos e outras vezes horas. Nas semanas que comecei a me sentir cada vez mais perseguida, resolvi parar com a corrida matinal. Meu trabalho era como editora de jornal, então home office me deixava mais tranquila. Já não queria sair de casa, mesmo que ali também estivesse me sufocando num medo terrível.

Já estava a ponto de pedir ajuda psiquiátrica quando o vi pela primeira vez. Kevin, era o seu nome. Tímido, se vestia realmente muito mal, óculos de grau, - não era feio, até que era bonitinho- cabelos tão alinhados e pretos que brilhavam, era de dar inveja em qualquer mulher que por mais que escovasse ou passasse diversos produtos para se livrar do frizz, não conseguisse.

- Ah... - Foi a minha primeira reação. Não estava muito sociável, estava cautelosa. - Prazer, sou a Alice. E o seu nome?

- Kevin. - Foi o que ele respondeu. Ele não me era estranho, sentia que o conhecia, porém eu não conseguia me lembrar de jeito algum.

- Seja muito bem-vindo ao nosso bairro. - Forcei um sorriso e ele o retribuiu.- Nós já nos conhecemos antes? - Queria tirar essa dúvida, mesmo que parecesse grosseria.

- Acho que não. Sou novo na cidade. - Ele parecia nervoso, não mais que eu. Afinal, depois de muito tempo, ele era o primeiro que estava me "visitando". Eu estava exclusa do mundo, não via mais minha mãe, não recebia mais as ligações de minhas irmãs. Não queria contato com ninguém, não até saber o que de fato havia de errado comigo, o motivo de estar esquecendo coisas.

- A que devo a honra da sua visita? - Perguntei.

- Só queria mesmo me apresentar. Já passei em outras duas casas também. Quero que saibam que se precisarem de algo, estou à disposição. - Ele disse.

- Agradeço. Em breve meu marido chegará em casa e direi à ele sobre você. Sei que ficará feliz em fazer um novo amigo. - Queria me livrar logo dele, não sei porquê. 

- Eu irei esperá-lo então. - Ele sorriu e começou a ir embora. - Estou indo para casa, preciso terminar de arrumar minha mudança. - Ele se despede e então se vira para ir embora.

Eu não sei o que houve comigo. Quando dei por mim, já o estava convidando para entrar. Foi aí que tudo começou a dar errado outra vez.

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