Akemi Hathaway - 7 de julho de 2020

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Quando Kyori confirma que gosta de Ayla minha cabeça lateja e tudo fica preto. Quando eu abro os olhos, não vejo Kyori ou a casa da praia. Parece que eu estou num quarto mais rústico, parecido com o estilo do castelo que às vezes visito em meus sonhos.

Há um livro em minha frente, um livro grande e velho, e uma névoa paira sobre ele. Uma névoa escura, igual à que eu vivo sonhando repetidamente.

Tudo fica escuro novamente, e quando abro os olhos estou de volta à casa da praia, Kyori está do meu lado me segurando e Ayla está entrando no cômodo.

– O que aconteceu?

– Não sei, ela ficou assim do nada, igual eu fiquei no mar ontem. Você viu alguma coisa Akemi?

Ainda estou meio tonta, mas consigo responder.

– Vi sim... um livro.

– Um livro? – elas perguntam juntas.

– É. Parecia ser um livro de feitiços, e sabem aquela névoa negra que a gente foge nos sonhos? Parecia estar saindo dele.

Elas se entreolham.

– Vocês tão pensando no que eu estou pensando? – Ayla pergunta.

Kyori concorda com a cabeça, mas eu ainda estou muito desnorteada para tirar alguma conclusão.

– Esse livro... – Kyori diz – O feitiço, ou seja lá o que for, pode ter vindo dele.

E então tudo se esclarece em minha mente.

O livro, eu já tinha visto ele antes. Lá em casa, no dia que as aulas começaram esse ano. Eu estava procurando meus tênis e achei esse livro embaixo da minha cama.

Achei muito estranho, já que nunca tinha visto ele antes. Apenas ignorei e guardei no guarda-roupa de minha mãe, assumindo que o livro era dela.

– O que foi, Akemi? – Kyori percebe minha expressão facial se iluminando.

– Eu preciso ligar pra minha mãe.

– Quê? – elas perguntam confusas, num uníssono.

– Eu já tinha visto esse livro de feitiços antes lá em casa – explico enquanto corro para pegar meu celular.

– Como assim? ­– Ayla pergunta indo atrás de mim.

Ignoro sua pergunta e inicio uma chamada de vídeo com a minha mãe. Dentro e alguns segundos ela atende, perguntando se está tudo bem e como está sendo a viagem, mas eu apressadamente peço para ela procurar o livro.

– Que história é essa, Akemi? – ela pergunta confusa. – Eu nunca vi nenhum livro com essas características que você me falou. Grande, velho, com páginas amareladas e uma capa marrom. Tá pirando, é?

– Por favor, mãe, procura pra mim. No começo do ano eu tinha colocado ele no fundo do seu guarda-roupa, tem que estar lá ainda.

Ayla e Kyori estão atrás de mim, sem entender muita coisa, mas consigo ver uma faísca de esperança em seus olhos.

Minha mãe revira os olhos e vai em direção ao seu quarto. Em alguns minutos ela aparece na tela com um livro exatamente igual ao da minha visão em suas mãos.

– É isso?

– Sim!

– E por que você precisava que eu encontrasse isso?

– Nada não, coisa minha e das meninas. Você consegue ver se tem alguma página falando sobre feitiço pra mudar de realidade, algo do tipo?

Ela me encara desconfiada, mas não questiona, apenas começa a folhear o livro.

– Não encontrei nada sobre mudar de realidade – ela diz depois de olhar o livro inteiro. – O máximo que eu encontrei foi um negócio que diz mudar o tempo e o lugar das pessoas ao redor de quem realizou o feitiço. – meus olhos se iluminam. Só pode ser esse. – Que livro é esse, Akemi? Onde você arranjou isso?

– Sei lá, mãe, depois eu explico. Pode ler pra mim essa página que você disse?

Ainda desconfiada, ela procura a página novamente.

– O título é "Feitiço Temporal". A descrição é "Magia para mudar o tempo, podendo mudar a hora, data e até mesmo lugar da pessoa que conjurou e outros ao seu redor, podendo também alterar as memórias daqueles que forem atingidos. Não é um feitiço das trevas, mas quem usá-lo poderá ser punido, considerando sua instabilidade e insegurança, podendo causar efeitos indesejados pelo conjurador". Aí tem o modo de realizar, e o contrafeitiço.

– ISSO! – grito, dando um susto em todas. – Desculpa. Mãe, pode me mantar foto do contrafeitiço, por favor?

– O que vocês estão aprontando, Akemi?

– Nada mãe! Por favor, só manda.

Estou começando a ficar desesperada.

Assim que ela encerra a chamada, as meninas começam a falar.

– Se esse for mesmo o feitiço... – Kyori começa.

– E nós achamos o contrafeitiço... – Ayla continua.

– Isso significa que nós podemos voltar pra onde viemos – eu termino.

Recebo a foto de minha mãe, e vejo o que está escrito.

Parece ser simples, só há umas frases em latim escritas, e a única instrução é se concentrar.

– E alguma de nós sabe falar latim? – Ayla pergunta.

– Acho que não, mas eu dou um jeito.

– E por que é você que tem que fazer? – Kyori protesta. – Eu e Ayla também poderíamos testar.

– Bom, sei lá. O livro estava comigo, talvez seja um sinal.

Elas se encaram e dão de ombros.

– Tudo bem, pode fazer então – a ruivinha aceita.

– Pode ir lá no quarto pra ter uma concentração melhor, eu e Kyori ficamos aqui. Dá uma meditada antes, talvez ajude.

Eu concordo e vou.

Moonfaith: O Feitiço TemporalOnde histórias criam vida. Descubra agora