Quando Kyori confirma que gosta de Ayla minha cabeça lateja e tudo fica preto. Quando eu abro os olhos, não vejo Kyori ou a casa da praia. Parece que eu estou num quarto mais rústico, parecido com o estilo do castelo que às vezes visito em meus sonhos.
Há um livro em minha frente, um livro grande e velho, e uma névoa paira sobre ele. Uma névoa escura, igual à que eu vivo sonhando repetidamente.
Tudo fica escuro novamente, e quando abro os olhos estou de volta à casa da praia, Kyori está do meu lado me segurando e Ayla está entrando no cômodo.
– O que aconteceu?
– Não sei, ela ficou assim do nada, igual eu fiquei no mar ontem. Você viu alguma coisa Akemi?
Ainda estou meio tonta, mas consigo responder.
– Vi sim... um livro.
– Um livro? – elas perguntam juntas.
– É. Parecia ser um livro de feitiços, e sabem aquela névoa negra que a gente foge nos sonhos? Parecia estar saindo dele.
Elas se entreolham.
– Vocês tão pensando no que eu estou pensando? – Ayla pergunta.
Kyori concorda com a cabeça, mas eu ainda estou muito desnorteada para tirar alguma conclusão.
– Esse livro... – Kyori diz – O feitiço, ou seja lá o que for, pode ter vindo dele.
E então tudo se esclarece em minha mente.
O livro, eu já tinha visto ele antes. Lá em casa, no dia que as aulas começaram esse ano. Eu estava procurando meus tênis e achei esse livro embaixo da minha cama.
Achei muito estranho, já que nunca tinha visto ele antes. Apenas ignorei e guardei no guarda-roupa de minha mãe, assumindo que o livro era dela.
– O que foi, Akemi? – Kyori percebe minha expressão facial se iluminando.
– Eu preciso ligar pra minha mãe.
– Quê? – elas perguntam confusas, num uníssono.
– Eu já tinha visto esse livro de feitiços antes lá em casa – explico enquanto corro para pegar meu celular.
– Como assim? – Ayla pergunta indo atrás de mim.
Ignoro sua pergunta e inicio uma chamada de vídeo com a minha mãe. Dentro e alguns segundos ela atende, perguntando se está tudo bem e como está sendo a viagem, mas eu apressadamente peço para ela procurar o livro.
– Que história é essa, Akemi? – ela pergunta confusa. – Eu nunca vi nenhum livro com essas características que você me falou. Grande, velho, com páginas amareladas e uma capa marrom. Tá pirando, é?
– Por favor, mãe, procura pra mim. No começo do ano eu tinha colocado ele no fundo do seu guarda-roupa, tem que estar lá ainda.
Ayla e Kyori estão atrás de mim, sem entender muita coisa, mas consigo ver uma faísca de esperança em seus olhos.
Minha mãe revira os olhos e vai em direção ao seu quarto. Em alguns minutos ela aparece na tela com um livro exatamente igual ao da minha visão em suas mãos.
– É isso?
– Sim!
– E por que você precisava que eu encontrasse isso?
– Nada não, coisa minha e das meninas. Você consegue ver se tem alguma página falando sobre feitiço pra mudar de realidade, algo do tipo?
Ela me encara desconfiada, mas não questiona, apenas começa a folhear o livro.
– Não encontrei nada sobre mudar de realidade – ela diz depois de olhar o livro inteiro. – O máximo que eu encontrei foi um negócio que diz mudar o tempo e o lugar das pessoas ao redor de quem realizou o feitiço. – meus olhos se iluminam. Só pode ser esse. – Que livro é esse, Akemi? Onde você arranjou isso?
– Sei lá, mãe, depois eu explico. Pode ler pra mim essa página que você disse?
Ainda desconfiada, ela procura a página novamente.
– O título é "Feitiço Temporal". A descrição é "Magia para mudar o tempo, podendo mudar a hora, data e até mesmo lugar da pessoa que conjurou e outros ao seu redor, podendo também alterar as memórias daqueles que forem atingidos. Não é um feitiço das trevas, mas quem usá-lo poderá ser punido, considerando sua instabilidade e insegurança, podendo causar efeitos indesejados pelo conjurador". Aí tem o modo de realizar, e o contrafeitiço.
– ISSO! – grito, dando um susto em todas. – Desculpa. Mãe, pode me mantar foto do contrafeitiço, por favor?
– O que vocês estão aprontando, Akemi?
– Nada mãe! Por favor, só manda.
Estou começando a ficar desesperada.
Assim que ela encerra a chamada, as meninas começam a falar.
– Se esse for mesmo o feitiço... – Kyori começa.
– E nós achamos o contrafeitiço... – Ayla continua.
– Isso significa que nós podemos voltar pra onde viemos – eu termino.
Recebo a foto de minha mãe, e vejo o que está escrito.
Parece ser simples, só há umas frases em latim escritas, e a única instrução é se concentrar.
– E alguma de nós sabe falar latim? – Ayla pergunta.
– Acho que não, mas eu dou um jeito.
– E por que é você que tem que fazer? – Kyori protesta. – Eu e Ayla também poderíamos testar.
– Bom, sei lá. O livro estava comigo, talvez seja um sinal.
Elas se encaram e dão de ombros.
– Tudo bem, pode fazer então – a ruivinha aceita.
– Pode ir lá no quarto pra ter uma concentração melhor, eu e Kyori ficamos aqui. Dá uma meditada antes, talvez ajude.
Eu concordo e vou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Moonfaith: O Feitiço Temporal
Novela JuvenilLia Campbell, Amélie Leblanc e Leanor Bennett são três garotas que vivem num Reino mágico chamado Moonfaith no século XIX. No entanto, um feitiço desconhecido as transporta para o século XXI, em uma nova realidade completamente diferente. Com suas...