Moonfaith: O Feitiço Temporal

Amélie Leblanc - 1° de agosto de 1837

Muitos pensamentos passam pela minha cabeça e muitos sentimentos se passam no meu coração. Dentro de mim, tudo é confusão.

Eu sei que foi bastante egoísmo da minha parte mudar a vida delas, que era boa, para uma vida desconhecida, mas eu não conseguia mais imaginar o que seria de mim se eu não tivesse elas ao meu lado.

Até encontrar as meninas, eu me sentia muito sozinha, mas aí elas entraram na minha vida e a coloriram quando tudo parecia preto e branco.

Assim que Lia pisou naquele Castelo pela primeira vez, tímida, quieta e retraída, eu já sabia que ela seria alguém especial. Mesmo estando triste, ela era completamente meiga e educada e conforme o tempo foi passando e ela foi se soltando, eu me encontrei nela. Sua forma de falar e de pensar se encaixava muito com a minha.

Confesso que, no começo, quando ela me falava de Leanor, eu ficava com um pouco de ciúmes da amizade delas, então eu a conheci. Outra pessoa muito incrível que entrou na minha vida para colori-la mais ainda.

Elas se tornaram minhas melhores amigas. Sempre estarão nas minhas melhores lembranças.

Com elas, eu esquecia todos os meus problemas. Eu amava quando elas iam ao Castelo para me distrair, quando íamos para o campo de flores apenas jogar conversa fora e ríamos até o rosto doer, quando brincávamos de esconde-esconde na floresta até anoitecer e quando íamos para a praia, o nosso lugarzinho secreto, e de mais ninguém.

Mas com o tempo, tudo isso foi se perdendo. Mesmo com Henry entrando na minha vida, nada era o mesmo. Ninguém mais me distraía quando eu estava estressada, ninguém mais fazia minha barriga doer de dar gargalhadas, a floresta se tornou um ponto de encontro onde eu não era bem-vinda e a praia estava sempre vazia.

Lembro o que Lia disse para mim sobre eu ter que achar minha luz. O problema é que elas eram a minha fonte de luminosidade e, enquanto elas sumiam vagarosamente da minha vida, a escuridão vinha me tomar novamente.

Meu maior medo foi se tornando realidade, e eu tinha que fazer algo para mudar, juro que não foi por maldade.

Por pouco tempo fui feliz novamente, então elas começaram a se apaixonar de novo e tão repentinamente quanto o feitiço foi realizado, ele também foi quebrado.

Agora que nós estamos de volta, tudo mudou para ainda pior. Não consegui aguentar o olhar de tristeza de Lia, o enfurecido da Leanor e o olhar magoado do Henry, todos eles direcionados a mim.

Minha tristeza foi se tornando raiva e então fiz algo que não deveria. Nunca consegui controlar direito minhas emoções e não tinha noção de como magia poderia ser perigosa.

Quando eu acertei Lia, uma onda de medo e desespero me atingiu. Não sabia o que esperar, já que eu estava com raiva.

Juro que não foi proposital. Normalmente, eu tenho que me concentrar tanto para fazer magia com as minhas mãos, mas dessa vez eu nem senti.

Respirei em alívio quando aparentemente não aconteceu nada, mas quando ela começou a perder as forças, sabia que eu havia estragado tudo de vez.

Vejo o desespero de Leanor enquanto Lia perde a vida e eu não consigo fazer nada. Estou apenas paralisada, sem conseguir falar ou me mexer.

Consigo perceber que no rosto de Leanor que ela não está apenas triste, mas também está com muita raiva. Ouço passos atrás de mim e viro, me deparando com Henry voltando correndo. Quando olho para frente novamente, eu não tenho nem tempo de raciocinar o que estava prestes a acontecer. Em uma fração de segundo, sinto uma dor latejante na minha barriga. Olho para baixo e vejo uma espada me atravessando. Não uma espada qualquer, a espada de Lia.

A dor física é enorme, mas não é maior que a dor emocional que eu estou sentindo por ter causado isso tudo. Nada disso era para ter acontecido.

Talvez eu mereça morrer mesmo.

À medida que o sangue vai caindo no chão, minha visão começa a escurecer. Sempre tive medo da morte, mas agora isso não me parece tão ruim.

Continuar viva sabendo de tudo o que eu fiz é o que seria verdadeiramente assustador.

Caio no chão e enquanto o sangue me deixa com a minha vida, no fundo consigo ouvir a voz desesperada de Leanor gritando "o que você fez?!".