(Esta é apenas uma idéia, não sei se darei
continuidade, mas se você estiver lendo,
me dê sua opinião sincera.)
Isabella Bertolini era como uma flor silvestre entre os olivais¹ da Sicília, crescendo sob o sol e florescendo com a mesma determinação que caracterizava sua família, principalmente as mulheres da família, que eram fortes e determinadas. Desde muito jovem, fora instruída nos caminhos da tradição e do respeito, valores que permeavam cada aspecto da vida dos Bertolini. Seus dias eram preenchidos com as lições de sua mãe, Maria, uma mulher de temperamento gentil e olhar penetrante, que lhe ensinava a importância da família, do dever e da honra.
Giuseppe, seu pai, um homem de poucas palavras, mas de ações decididas, moldara sua infância com histórias sobre os ancestrais que lutaram para preservar a terra e as tradições da família, diferente de outras famílias em seu meio, o seu pai entregava a Isabella e seu irmão mais velho muito amor e companheirismo. Nas noites quentes de verão, sentada no terraço de pedra da casa dos Bertolini, Isabella ouvia atentamente enquanto seu pai descrevia os desafios e triunfos que moldaram a linhagem dos Bertolini ao longo dos séculos.
Isabella sempre compreendeu que seu papel não era apenas o de uma filha, mas também o de um elo na corrente que mantinha viva a essência dos Bertolini. Era por isso que, quando soube sobre o acordo entre seu pai e o pai de Ugo Bianchi, ela aceitou sem questionar. A promessa de casamento, tão antiga quanto as colinas que circundavam San Giovanni, não era apenas um contrato entre duas famílias; era um símbolo de aliança e continuidade, de um pacto que transcendia o tempo e a mudança.
Ugo Bianchi, o capo cujo nome ressoava nas sombras do poder e da influência na Sicília, era uma figura enigmática para Isabella. Ela o conhecia apenas de vista, através das ocasionais aparições em eventos da comunidade onde sua presença era sentida mais do que vista. Seu nome era mencionado em murmúrios e sussurros entre os membros mais velhos da vila, sempre com um respeito misturado com uma leve apreensão.
À medida que Isabella crescia, a sombra do casamento com Ugo se tornava mais iminente. As mulheres da vila murmuravam sobre a sorte de ser prometida a um homem tão poderoso, enquanto as mães sussurravam palavras de conselho sobre a importância de honrar o compromisso feito pelos pais. Para Isabella, não havia dúvida de que seu futuro estava traçado; a única questão era como ela iria abraçar seu destino com graça e coragem. Seria difícil não demonstrar medo, não sabia se um dia o amaria, ou se o casamento deles seria como o de seus pais, com respeito e muito amor, mas torcia para que sim.
Nos momentos sozinha, Isabella se retirava para o jardim dos fundos, onde as oliveiras ofereciam sombra e conforto. Ali, entre o murmúrio suave das folhas e o canto distante dos pássaros, ela refletia sobre seu papel na vida dos Bertolini. Ela se via como um elo frágil, mas essencial, na cadeia de eventos que ligava seu passado ao futuro incerto que se desenrolava diante dela.
Aos dezoito anos, Isabella era uma jovem de beleza serena e modéstia cativante. Seus cabelos negros caíam em cachos suaves sobre os ombros, seus olhos profundos transmitiam medo, mas também ousadia.
Enquanto o dia do casamento se aproximava, a tensão na casa dos Bertolini era palpável. Maria, a mãe amorosa e compassiva, velava por Isabella com uma mistura de orgulho e apreensão. Ela sabia que o casamento significaria a partida de sua filha para um mundo de responsabilidades e expectativas que Maria mesma havia enfrentado em seu tempo. Entretanto Maria se casou por amor, não por obrigação e ela sabia que este destino poderia não ser tão feliz como todos esperavam.
Giuseppe, por outro lado, mantinha-se reservado, como se sua própria dignidade dependesse de como ele conduzia esse momento crucial na vida de sua família. Ele instruiu Lucca, o irmão mais velho de Isabella, a acompanhar sua irmã nos preparativos, lembrando-lhe constantemente da honra que estava em jogo para os Bertolini. Não só Isabella seria afetada pela mudança, mas toda a família sentiria.
Enquanto isso, os preparativos para o casamento avançavam. A vila de San Giovanni se preparava para receber não apenas o capo Ugo Bianchi, mas também seu pai que era o tão temido Capo Di Tutti Capi e membros de outras famílias influentes da região. As festividades seriam uma demonstração de poder e aliança, um lembrete para todos de que as tradições e os compromissos eram pilares sobre os quais a vida na Sicília se sustentava.
No entanto, por trás da fachada de celebração, Isabella sentia o peso de suas próprias dúvidas e inseguranças. Ela se perguntava sobre o homem que em breve seria seu marido, sobre o mundo oculto da máfia italiana no qual ele operava com tanta habilidade e autoridade. Ela se perguntava sobre seu próprio papel nesse mundo, sobre como sua vida mudaria assim que ela cruzasse o limiar do casamento.
Em uma tarde cinzar e chuvosa antes do grande dia, Isabella encontrou-se sozinha no jardim dos fundos, observando as nuvens carregadas deslizarem pelo céu. Trovões ressoavam fortemente e em alguns momentos podia ver raios cortando o céu. Ela acariciou seu gatinho, sentindo a textura mácia sob seus dedos. Mimi iria junto com Isabella, ela seria capaz de fugir caso alguém tentasse a afastar de seu pequeno filhinho, que de pequeno não tinha nada. Mimi como era chamado, chegava na casa dos 18 quilos e já era considerado um gato obeso, muitas vezes pensaram que ele era uma gata prenha.
Foi então que Maria se aproximou, seu rosto suave tentava não transparecer nervosismo. Ela se sentou ao lado de Isabella e pegou sua mão, segurando-a com a ternura de quem entendia a mistura de emoções que sua filha estava enfrentando.
— Isabella, minha bambina². — Começou Maria, escolhendo suas palavras com cuidado. — O caminho que você está prestes a seguir não será fácil. Mas lembre-se, você não está sozinha. Nós somos uma família, e sempre estaremos aqui para você. Não importa o que aconteça, seu lugar estará aqui sempre, espero que não precise, mas se precisar volte.
Isabella olhou nos olhos de sua mãe, vendo neles não apenas amor e apoio, mas também a força e a determinação que haviam sustentado os Bertolini por gerações. Ela apertou a mão de Maria com gratidão, sentindo-se fortalecida pela conexão profunda que compartilhavam.
— Eu sei mãe. — Respondeu Isabella com voz firme, decidida a enfrentar o futuro com coragem e dignidade. — Eu farei o que for necessário para honrar nossa família e nossas tradições.
Maria sorriu, um sorriso radiante que iluminou seu rosto. Ela sabia que Isabella encontraria sua própria voz, sua própria maneira de abraçar o destino que estava por vir. Em silêncio, as duas mulheres permaneceram ali, unidas pelo vínculo indissolúvel de amor e confiança que transcende qualquer desafio ou adversidade.
Enquanto a chuva caia firmemente sobre San Giovanni, lançando uma ventania sobre as oliveiras e os telhados de terracota da vila, Isabella sentiu-se pronta para enfrentar o casamento que iria selar seu destino com Ugo Bianchi. Ela sabia que o caminho à frente seria cheio de desafios e sacrifícios, mas também de dever e honra. E enquanto segurava Mimi um pouco mais forte em seu colo, ela fechou os olhos, respirando fundo a promessa de um futuro que ela aceitara com todo o coração.
Assim, entre a beleza serena dos olivais e os segredos profundos das famílias que governavam a Sicília, a história de Isabella Bertolini estava prestes a se desdobrar em uma manta complexa de amor, lealdade, destino e sangue.
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¹. Olivais: Olivais é o plural de olival. Arvore cujo o fruto é a azeitona.
². Bambina: palavra de origem italiana que possui o significado de rapariga, menina, criança.
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Rendida - Forjada em Sangue (Laços da Máfia)
RomanceNa pacata vila de San Giovanni, envolta em olivais e segredos ancestrais, a vida de Isabella Bertolini muda definitivamente quando ela descobre um antigo pacto que vincula a sua família aos poderosos Bianchi, herdeiros da máfia italiana. O segredo r...