Capítulo Um

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Dói respirar.

Cada inspiração é um lembrete agonizante da dor que percorre seu corpo. Tudo está muito claro e fora de foco, as vozes e rostos aparecem em explosões de cor e som. Ren Takagi quer fechar os olhos, render-se ao cansaço, mas ele sente que está em movimento constante, sendo empurrado ou carregado.

— Trauma grave na cabeça.

Os azulejos brancos do teto acima dele estão embaçados, as luzes fluorescentes são apenas borrões. Máquinas apitam em ritmos frenéticos, e mãos enluvadas tocam seu corpo ferido com uma precisão quase mecânica.

— Takagi? Takagi. Olhe para mim.

Ele luta para focar na voz e, ao conseguir, vê que ela vem de uma mulher. Seu cabelo ruivo está preso em um rabo de cavalo feito às pressas, com algumas mechas caindo ao redor de um par de olhos azuis intensos que rapidamente entram em foco.

— Bom. Isso é bom. Eu sou a doutora Melanie. Sou neurocirurgiã — os lábios dela se movem e Ren se concentra no movimento para tentar entender o que ela está dizendo. — Eu vou cuidar de você, ok?

Ele tenta encarar a doutora, mas outra voz interrompe sua concentração.

— Fêmur fraturado e lacerações interescapulares...

— Esse cara fala demais, não é? — Ela diz, dando uma piscadela rápida e confiante para Ren.

Nos óculos da doutora Melanie, Ren conseguiu ver seu reflexo. Seu nariz está salpicado de sangue, e um pedaço de sua testa está aberto, expondo o osso branco por baixo.

As portas duplas da sala de emergência se abrem com tudo atrás da doutora Melanie e outra maca é trazida para dentro. Ren sente seus olhos se fechando, o último vestígio de energia o abandonando.

— Fique comigo, Takagi! — a voz da médica ecoa em seus ouvidos. — Sala de operação três! Agora!

Ele luta para manter os olhos abertos, mas as luzes fluorescentes o cegam enquanto piscam no alto, uma depois da outra, cada vez mais rápido.

Pisca, pisca, pisca.

Ele vê um médico carregando uma criança.

Pisca.

Uma mulher mais velha recebendo oxigênio.

Pisca.

Ele vê o jaleco branco da doutora Melanie esvoaçando em sua frente, embaçando e se expandindo em um brilho que consome todo o corredor, até que não há mais nada além da luz branca que o cega.

Seis anos depois

Os flashes das câmeras cegavam Takagi enquanto ele saía de seu carro. A luz intensa piscava incessantemente, transformando a multidão ao seu redor em silhuetas indistintas. Pessoas se amontoavam, ansiosas por uma foto do ator que havia passado tanto tempo afastado. O tumulto era palpável, vozes se sobrepondo em um mar de murmúrios e gritos excitados.

— Olá a todos! — Ren cumprimentou gentilmente, erguendo a mão em um aceno amigável. Ele varreu o olhar pela multidão, reconhecendo rostos de fãs antigos e novos. — Infelizmente, não poderei dar atenção a todos vocês agora, peço mil perdões — disse ele com um sorriso pesaroso, enquanto seguranças abriam caminho para ele entrar no hotel luxuoso onde ficaria hospedado durante sua estadia em Tóquio.

O lobby do hotel era um oásis de tranquilidade em contraste com a algazarra do lado de fora. Lustres de cristal pendiam do teto alto, espalhando uma luz suave sobre o mármore impecável do chão. Arranjos de flores exóticas decoravam o ambiente, exalando um perfume sutil e reconfortante.

O Príncipe Da Farsa • Kenji Sato Onde histórias criam vida. Descubra agora