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Ares Grecco

- Me envie esses documentos amanhã. - Peço a Bertha, minha secretária. Ela acena com a cabeça, enquanto deixa a minha sala com o amontoado de páginas juntas em seu braço.

Meu celular toca sobre a minha mesa e eu me estico para pegá-lo. O nome de Hades brilha na tela e eu franzo o meu cenho, me recostando na minha cadeira. Arrasto o botão para o lado e o levo ao ouvido:
- Espero que seja um problema muito grande. - Grunhi.

- Ares, perdemos uma das garotas. - Ele diz, sua voz é fria, impassível.

- O que eu tenho haver com isso? - Pergunto, enquanto giro a minha cadeira de um lado para o outro.

- Dessa vez é sério. A ratinha é arisca e pode acabar falando demais; Preciso que monitore, procure e cuide de qualquer burburinho que possa crescer na mídia. - Ele começa ordenar. - Não permita que isso vaze, Ares.

- Eu tenho mesmo que salvar a sua pele sempre que você erra? - Solto um suspiro alto. - Você não me dá ordens.

- Minha vida seria mais fácil se você não tivesse fugido. Eu adoraria estar do lado de fora também. - Debocha. - Apenas faça isso, Ares. Eu vou achar a garota.

- Ok! - Digo, por fim. - Como estão as coisas?

- Saberia se não tivesse fugido.

Ele desliga, e eu retiro o celular do ouvido, o encarando por alguns segundos antes de me levantar para ir embora. Havia sido um dia longo e cansativo, eu tinha que admitir. Eu estava cuidando de tudo sozinho agora que nosso pai se aposentou definitivamente.

"Deveria parar de comprar o seu jantar e contratar uma cozinheira," A mensagem de Nathaniel brilha em meu visor, enquanto entro no meu carro e enfio a chave na ignição.

"Deveria cuidar de si mesmo." Envio.

Odiava que entrassem no meu apartamento e, se não fosse pela senhora que tinha o costume de ir limpar meu apartamento semanalmente, seria minha própria caverna.

Começo a dirigir para o lugar que conheço bem há algum tempo, desde que descobri que vendiam refeições prontas e rápidas. Era melhor que pedir delivery, demorava menos e me requeria bem menos esforço.
Então, desço do carro, tranco-o e entro, indo diretamente para a seção de refrigerados. Me vejo à frente de um montante de potes disponíveis.

- Você está aqui todos os dias. - Dona Anna murmura, parando ao meu lado.

- Sim. - Eu aceno com a cabeça, sério.

- Deveria comer melhor, garoto. - Ela resmunga. - Um homem grande e forte como você, comendo porcarias industrializadas.

- Não tenho tempo. - É tudo que digo.

- Pois deveria. - Ela revira os olhos, olhando fixamente para um ponto atrás de mim. - Pobre menina!

Viro-me para olhar para o mesmo ponto que ela. E então, é a primeira vez que coloco meus olhos nela.

- Quem ela é? - É a primeira vez, também, que faço uma pergunta para Dona Anna.

- Não sei. Está sentada aí na frente a horas. - Ela dá de ombros. - Dei-lhe um pouco de comida, mas está começando a esfriar e ela não vai embora.

- Ela não deve ter para onde ir. - Constato o óbvio.

- Sim, é mesmo uma situação triste. - Ela suspira. - Pensei em dar um emprego a ela, mas sabe... eu não a conheço.

Eu aceno com a cabeça e olho novamente para o freezer, pegando duas travessas de espaguete congelados. Deve servir. Pego também duas cervejas. Levo tudo ao caixa e pago, saindo da conveniência com minhas compras pouco depois.

Paro alguns segundos para encará-la. É linda, está enfiada em um vestido preto colado e curto demais, seus joelhos estão juntos ao seu peito e ela não encara nada em especial. Desvio os olhos dela para o meu e enfim, me dou por vencido e ando até ela.

- Não deveria estar sozinha a essa hora. - Digo.

Ela se assusta e olha para mim, encolhendo-se mais. Ela não me responde, não fala nada.

- Qual é o seu nome?

Silêncio.

Suspiro pesadamente e me sento ao seu lado, apoiando os meus cotovelos nos meus próprios joelhos. Ela fica em silêncio, mas agora seus olhos estão focados em mim.

- Não sou uma prostituta.

- Que bom, afinal, você está muito suja. Ninguém pagaria um programa com você. - Dou de ombros.

Ela me encara boquiaberta e pisca para mim.

- Agora, me diga... qual o motivo de estar na rua?

- Não é da sua conta.

Ela era arisca e parecia ter a resposta na ponta da língua, sempre pronta para atacar quem quer que chegasse perto. Um dos lados da sua bochecha está inchado e vermelho.

- O que houve com você? - Sussurro, mas ela me escuta, seus olhos estão nos meus agora e eles me perfuram.

- Eu já disse que não sou nenhuma prostituta.

Suas roupas poderiam dizer ao contrário. Podiam dizer que, na verdade, ela é sim uma prostituta. Mas quem sou eu para argumentar contra suas palavras?

Um suspiro alto deixa a minha boca e eu me levanto, parando a sua frente.

- Você precisa de algum lugar para ficar?

- Eu não sou uma...

- Prostituta. - Reviro os meus olhos. - Eu já ouvi. Estou perguntando se você precisa de um lugar para ficar.

Ela franze o cenho, apertando ainda mais seus braços contra seus joelhos dobrados. Ela me analisa por um tempo.

- Porque?

- Porque o que? - Ergui minha sobrancelha.

A pergunta me pegou de surpresa, porque a verdade é que sequer eu sabia o motivo de estar perguntando isso a ela.

Eu odiava visitas ou intrusos no meu apartamento. Sequer meus irmãos entravam e agora eu estava pensando em deixar uma estranha entrar?

Mas, eu não conseguia tirar meus olhos dela. Essa garota tinha algum tipo de feitiço em si. Além do mais, ela era extremamente intrigante.

- Talvez, eu tenha um lugar que possa ficar por algumas noites. - Franzi meus olhos, a encarando. - Não é definitivo, mas é o suficiente.

- E porque você faria isso?

- Porque é perigoso para uma mulher aqui fora.

- E se eu for a pessoa perigosa?

- Se você fosse perigosa, não estaria na rua e suja.

- Eu não vou transar com você.

- Eu não pensei nisso em momento nenhum. - Dou de ombros, a encarando de cima abaixo.

Ela se levanta levemente e abaixa o vestido.

- Porque eu deveria confiar em você?

- Porque sim. Pelo mesmo motivo em que eu vou confiar em você. - Dou um passo em sua direção, me aproximando dela. - Além disso, porque eu iria querer transar com você? Você está suja e fedida.

Ela abre a boca completamente chocada, dando um passo atrás. Seus olhos comprimem em minha direção e ela, enfim, abre um pequeno sorriso.

- Ótimo. - Suspira. - É bom saber que não corro riscos com você.

- Meu nome é Ares.

- Eu sou a Olívia. - E é tudo que falamos antes que ela me siga até o meu carro.

OBSESSÃO INSANA | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora