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A primeira coisa que reparei quando entrei na sala de estar da cobertura de Ares, era que ele era muito, muito rico.

Em segundo lugar, reparei que ele podia ser alguém perigoso.

E em terceiro lugar, reparei no quanto ele era deliciosamente atraente enquanto afrouxava a gravata e jogava o seu blazer sobre o sofá, dando um suspiro cansado.

- Você não deveria me deixar entrar na sua casa. - Murmuro, passando a mão sobre o couro do sofá. Isso deve ser estupidamente caro. - Pode ser perigoso.

- Você não deveria aceitar entrar na minha casa. Pode ser perigoso. - Ele usa minhas palavras contra mim

Reviro meus olhos e suspiro. Me sinto suja dentro dessa casa - não que eu não esteja, com medo de tocar qualquer coisa e deixar uma mancha preta enorme.

No fundo, estou grata por ter onde dormir essa noite, mesmo estando com medo dele. Estou com medo dele pois certamente sei que as probabilidades de eu ser ajudada nessa cidade enorme é mínima.

- Você sempre trás moças sujas e indefesas para a a sua casa?

- Sabe que não? - Ele me encara por alguns segundos. - Bem, depende do seu ponto de vista. Nunca sei se elas realmente são indefesas, mas definitivamente, nunca sujas. Você é a primeira.

- Obrigada por citar suja. - Sorrio.

- Vamos, eu vou mostrar o quarto que você pode ficar. Lá tem um banheiro... e uma chave. - Ele me encara por alguns segundos. - Eu realmente não sei o que aconteceu com você, Olívia, mas eu não sou do tipo que abusa de garotas.

Eu o encaro por alguns segundos e lhe um dou um sorriso mínimo, piscando algumas vezes.

- Obrigada. - É a única coisa que consigo pensar em dizer.

Ele anda na minha frente e faz um leve movimento com a cabeça, indicando que quer que eu o siga. O faço, receosa.

Olho para as minhas mãos e me pergunto em que momento eu soltei a porcaria da garrafa, mas agora é tarde e minha única defesa contra esse homem enorme deve ser minhas poucas artes de lutas, que seria chutá-lo com força nos testículos caso ele tente me tocar.

Mas, quando ele abre a porta do quarto e eu dou os primeiros cinco passos para dentro, percebo que ele não me segue. Ele está parado na porta como um demônio, esperando a permissão para entrar.

- Bem, fique a vontade. - Ele sorri. - Tem roupas no closet. São minhas ou talvez sejam de algum irmão meu, mas quem se importa? Fique a vontade. - Ele exita um segundo. - Desça para jantar, aposto que está com fome.

E ele me deixa sozinha. Fecho a porta imediatamente e a tranco, me recosto sobre a madeira pesada e suspiro aliviada, escorregando até tocar o chão.

Caramba! Que merda. Estou na casa de um completo desconhecido, o homem mais mal encarado e gentil que já tive o prazer de conhecer.

Me levanto do chão e abro a primeira porta, dando de cara com o closet. É incrível! Faço um tour por dentro, abro todas as portas e escolho uma roupa - enorme, por sinal -, que se constitui de uma blusa social branca e uma calça de moletom, que com alguma sorte, vai caber se eu puxar o suficiente a corda.

Me arrasto para o banheiro e quase choro quando a água quentinha entra em contato com a minha pele. Primeiro, não me lembro da sensação de usar um chuveiro quente desde o meu segundo programa, que foi num motel caro da cidade e depois, no bordel nos limitavam a água gelada e um banho de balde.

Era realmente insalubre. A situação melhorou um pouco depois que ganhei meu próprio quarto, mas mesmo com o banheiro minúsculo e um chuveiro, eu ainda tinha que tomar banho com a água mais gelada que eu podia encontrar.

Cheguei a me perguntar se eles não colocavam gelos nas caixas de água, mas acho que eu só era azarada ao extremo.

Quando termino de tomar banho, me encaro no espelho e dou um 360° geral no meu corpo, listando todos os machucados que tenho.

Será que ele percebeu?

Meu rosto ainda está um pouco inchada pelo tapa - mas eles nunca me batiam no rosto -, minha costela tinha uma grande mancha roxa e esverdeada, até um pouco dolorida. Minhas mãos estavam arranhadas e cortadas e minhas coxas mantinham os arranhões dolorosos de quando dormi embaixo da lixeira.

Eu estava decadente.

Procurei por uma caixa de primeiros socorros, mas não encontrei nada, então me vesti, olhando mais uma vez para a minha imagem no espelho.

Tampada, eu quase podia me considerar bonita de novo.

Quando me dou por vencida, saio do banheiro e depois do quarto, dando passos exitantes em direção ao primeiro andar novamente.

Tenho que admitir. A cobertura é imensa e muito linda.

O cheiro de comida faz meu estômago revirar e a minha boca encher de água. Persigo o cheiro como o Tom persegue o Jerry.

Quando atravesso a sala de jantar e enfim entro na cozinha, tenho a melhor visão possível e me sinto sortuda para caramba de poder ver um deus grego de perto.

Ares está sem camisa, seu quadril está apoiado sobre a bancada e ele parece um pouco atento ao celular enquanto espera que algo aconteça com a panela que está a apenas alguns centímetros dele.

Seu corpo é escultural e me pergunto o quanto de trabalho ele teve para mantê-lo. Não me movo por algum tempo, apenas apreciando a vista e permito que minha mente flutue por um cenário que não deveria.

Imagine ser casada com esse homem e ter a sorte de vê-lo cozinhando todos os dias sem camisa?

- Vai ficar parada aí? - Ele pergunta, me encarando agora. Uma risadinha deixa seus lábios quando ele me analisa. - Bela escolha.

- Suas roupas são enormes. - Murmuro, enquanto ponho meus pés sobre o banquinho e me impulsionou para me sentar na bancada. - Fazia tanto tempo que não tomava um banho descente.

Ele sorri gentilmente.

- Fico feliz. É uma pena que a única refeição que eu possa te oferecer hoje é comida pronta do mercado. - ele ri, enquanto abre o microondas e serve as duas porções de macarrão.

- Isso é melhor do que nada, e nesse exato momento, senhor Ares, eu estou em nada. - Dou de ombros.

Ele empurra um prato para mim e me entrega um garfo.

- Coma.

Seu tom é mais uma ordem, mas não me importo. Não agora. Não quando ele está me alimentando descentemente depois de incontáveis horas de fome.

 Não quando ele está me alimentando descentemente depois de incontáveis horas de fome

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