Prologo - A Semente de Tupã

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" ... A muito tempo atrás, em uma época tão distante que não se pode nem mesmo contar, antes mesmo da primeira letra do alfabeto, antecessor ao próprio infinito, predecessor da própria existência da nossa realidade, havia um ser, um ser tão poderoso e belo que faltam palavras para o descrever.

Sua pele era de um tom dourado brilhante, sua luz era mais forte do que a do nosso próprio sol, mesmo que, naquele momento, nem mesmo o astro rei estava entre nós.
Sua estatura baixa como a de uma criança enganaria muitos dos homens caso hoje fossemos contemplados com sua presença, suas vestes eram brancas como a luz das estrelas que iluminam nosso céu durante a noite. Não tinha olhos, nariz ou cabelos, além de sua pele resplandecente, a única coisa que tinha era um sorriso em sua boca, expondo os dentes de forma alegre e brincalhona.

Não se sabe de onde ele veio, sua existência foi a primeira e principal interrogação da nossa existência, o que se sabe é que o poder dela foi sem dúvida inigualável.
Em meio ao completo nada, bastou um bater de suas palmas e então, como uma gota de tinta que cai sobre o papel espalhando cor, em torno do corpo daquela criatura uma mancha começava a se expandir de forma exponencial e infinita.

Sobre seus pés, o quente astro rei nascia com todo o seu calor e imponência. Ao redor, o vácuo gélido do universo se formava ao mesmo ritmo que pontos brancos, o que hoje chamamos de 'estrelas' ao longe surgiam.
Enquanto o infinito continuava a se expandir e construir consigo estrelas, buracos negros, galáxias e tudo o que hoje conhecemos, o criador encarava planetas próximos ao sol completamente desalinhados e vagos no espaço. Seu braço esquerdo vai a frente, seus dedos deslizam em horizontal, nesse momento a gravidade era configurada em todo o universo, o que imediatamente faz com que os planetas comecem a se alinhar no então sistema solar.

Porém, ainda faltava uma coisa. Olhando para um planeta nem grande demais e nem pequeno demais, nem muito longe, mas também não tão perto, o sorriso do criador voltava a brotar  em seu rosto.
Como um passe de mágica, ele dava um passo à frente e imediatamente se encontrava naquele planeta vazio e sem nenhum tipo de cor, olhava ao redor enquanto milhões de possibilidades passavam pela sua cabeça, mas nenhuma era tão bela quanto a primeira que teve.

Como fazemos em festas,  quando celebramos a vitória de uma missão ou o aniversário de um ente querido ele começava a dançar, uma dança única e até mesmo exótica, seus passos eram firmes como bater em um atabaque, mas seus braços deslizavam ao ar suavemente como tocar uma harpa.
Enquanto bailava em celebração, seus pés eram gentilmente amortizados pela grama verde que começava a nascer naquele plano duro e frio, ela se espalhava gradativamente por toda a circunferência do geóide.

O ar, a grama, nuvens, árvores, cachoeiras, rios, vulcões, montanhas, cavernas, dunas, desertos e mares surgiram naquele mundo assim, rápido e doce como a canção de um bardo inspirado.

Porém, mesmo que tudo isso tivesse sido criado, ainda faltava algo, o principal, o que diferencia nosso planeta dos demais.
Ao realizar o último movimento de sua dança, o criador parava ofegante mas orgulhoso do que havia feito, ao olhar por cima de seus ombros podia ver outro ser que acabara de surgir.
Sua pele era toda branca, seus cabelos longos e prateados se arrastavam pelo chão como um véu de uma noiva. O criador caminha então até aquele ser que, completamente nu esteva ajoelhado ao chão com seus olhos fechados. Passando a frente dele, os dedos dourados do pequeno estalaram incessantemente afim de acordar o outro.

—Dalibor... Dalibor acorda! Já tá na hora! — Sua voz, assim como sua aparência era infantil.

Como um despertar, os olhos púrpura fluorescente de Dalibor, o primeiro "Aram", se abrem prontamente, mesmo ajoelhado ainda era maior do que aquele em sua frente, que colocava as mãos na cintura enquanto o encarava.

—Me perdoe Tupã, saudações majestade! — Ele se curvava reverenciando seu criador.

Tupã, o Criador se virava e caminhava pelo campo  que estava, era tudo verde e além de flores não havia nada ali, somente árvores a alguns quilômetros de distância que cercavam o local.

—Nao precisa dessas coisas! Vem logo! Haha!

Animado, Tupã se aproximava de um buraco que havia sido aberto propositalmente desde o início de sua dança, era fundo como um poço.
Bowthlor se levantava, apresentando seus 3 metros de altura. Caminhava para junto do pequeno divino, se colocando ao seu lado.

—O que é isso, senhor? — Ele questionava, olhando para aquele buraco.

—Um buraco uai, não tá vendo não?

Respondia Tupã com um tom brincalhão, o Aram olhava para seu criador confuso, esperando por alguma orientação.
O pequeno enfia a mão nos bolsos de sua calça cintilante, retirando de lá uma semente pequena como um grão de arroz, ele a encara por alguns segundos e em seguida arremessa a mesma para o alto.
Bowthlor agarra a semente com suas mãos grandes e fortes, era um pouco desengonçado em seus movimentos ainda.

—Faça as honras, meu filho.

O Aram se abaixava e gentilmente depositava a semente no buraco, logo em seguida tampava o mesmo com a terra do campo até que ele estivesse completamente coberto, sentia uma paz em seu coração qual nunca mais pôde sentir após aquele dia, uma espécie de melancolia tomava conta daquele grande ser, ele olha para o lado a procura de Tupã porém o mesmo não estava mais ali.
Dalibor se levanta preocupado e olha em volta novamente, mas não havia nada além do campo e das flores, ele chega a dar alguns passos em direção a floresta à procura de seu criador mas antes que o fizesse, uma ventania descomunal o atinge.

O vento vinha tão forte que até mesmo aquele grande ser podia sentir-se parado pelo mesmo, as árvores ao longe balançavam, folhas eram levantadas agressivamente de maneira como um furacão faria. O vendaval gélido persiste em rodear a região onde Dalibor estava, mas em alguns segundos aquilo cessa repentinamente.
A cabeça do Aram não parava de girar até que então ele olha para o céu, onde vê o sol raiar de forma poderosa e forte, tão forte que seus raios dissiparam todas as nuvens, tão imponente que os movimentos dele travam por completo.

'Dalibor, a semente que você acaba de plantar contém a vida, a mesma que eu e você temos, a mesma que as árvores que vieram antes de ti também possuem, essa vida irá florescer, seja na grama  em tamanhos milímetricos ou em seres tão racionais quanto eu e você. Sua missão é justamente manter e auxiliar a vida nesse mundo, a partir dessa semente podem surgir criaturas boas e criaturas ruins, até mesmo outras como você para te auxiliar nesse processo. Quero que saiba que depois dessa conversa eu não voltarei mais, pois confio em você até mesmo minha própria vida, talvez não entenda como posso confiar tanto assim em ti, mas eu sei o quanto eu posso, afinal tu és parte de mim, sei que será capaz de manter a ordem apesar de no começo ser difícil.
Eu acredito em você, meu filho.'

Em silêncio, Dalibor assiste o cessar do brilho intenso do sol que indicava que Tupã já não estava mais lá, apesar de sentir em seu peito a insegurança por tamanha responsabilidade, no fundo sabia que essa era missão e que conseguiria, estava pronto.'

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