Capítulo 2 - Sob o Signo de Ankh

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Com Kenai desfalecido no chão, aquelas criaturas persistiam em encarar o garoto, preparavam-se para avançar e brigar pela carne, vísceras e ossos do mesmo. Porém, antes que o fizessem, a atenção foi tomada por duas figuras que surgiam lentamente atrás da imagem do garoto. 
Em cima de um cavalo caramelo, um homem branco, de olhos azuis como o mar e barba grisalha, vestia uma blusa de manga longa, calça e capa, todas de cetim que cobriam todo o seu corpo. As vestes eram de um tom de verde tão escuro que poderiam ser confundidas facilmente com preto. Havia detalhes em dourado brilhante, com desenhos de ramos de árvores, folhas e raízes, em destaque no centro do peito, estava bordado em dourado o símbolo de Ankh. 

À sua direita, montada em um cavalo negro, estava uma garota jovem e evidentemente mais baixa do que o homem. Sua pele negra contrastava com os detalhes prateados em suas tranças. Ela vestia o mesmo "uniforme" que o homem ao lado, porém a cor de seu cetim era púrpura. Os detalhes em suas vestes eram prateados e não havia símbolo algum em seu peito.

As criaturas ao longe não conseguiam se conter, sabiam muito bem o que estava prestes a acontecer e logo começaram a agir. Pulando como primatas desordenados, berravam e se colocavam sobre duas patas, tentando intimidar os dois. 
Simultaneamente, os cavalos pararam ao lado do corpo de Kenai, as duas pessoas desceram. O mais velho ajoelhou-se ao lado do corpo do garoto, estendendo rapidamente suas mãos enrugadas e pálidas com as palmas em direção ao peito dele. Nesse gesto, uma esfera formada por uma espécie de energia verde começou a ser criada, suspensa no ar, e logo sua essência fluía como fumaça e se conectava  ao peito do garoto. Conectando-se, a energia começou a se distribuir lentamente.

— Ele ainda está vivo. — Disse o senhor com sua voz serena e rouca, aliviado.

A jovem confirmou com a cabeça, olhou em direção às criaturas ao longe e começou a andar em direção a elas.

— Presta atenção, não vai perder o que vou fazer, hein! — Dizia confiante e animada. A voz meiga da garota não combinava nada com seus traços sérios.

Ao longe, sem entender o som que a garota fazia com a boca, aqueles seres se sentiam ainda mais tomados pela sede de sangue. Continuaram reafirmando sinais de ataque e tentando se apresentar como ameaçadores, até que então sumiram repentinamente. 
Tomando alguns metros de distância dos outros dois, a garota parou de caminhar. Na mesma velocidade que o garoto, horas antes, não conseguia acompanhar, todas aquelas criaturas avançavam em direção a ela. Porém, diferentemente de Kenai, a menina conseguia acompanhar seus movimentos com seus olhos esverdeados, podia ver suas patas batendo contra o solo, seus corpos tropeçando uns sobre os outros, algumas daquelas presas afiadas como adagas preparando-se para a morder e algumas garras prontas para dilacerar. As criaturas se colocaram à sua frente em segundos, estavam separadas por menos de dois metros de distância. 

A  palma direita da jovem  foi à frente em direção às criaturas, sua boca sibilou algo sem fazer som algum, e então ao fazer isso, ela sorriu de canto.

Uma faísca surgiu no meio daquele emaranhado de criaturas, a mesma se expandiu quase que imediatamente, transformando-se em uma labareda de fogo que se ergueu aos céus em milissegundos, superando quase o dobro da altura das árvores que rodeavam o vilarejo. As chamas se espalharam horizontalmente pelo campo de batalha, alcançando e carbonizando todas aquelas criaturas, que em resposta só puderam gritar de agonia e dor. 
A labareda persistiu por mais alguns segundos e então se dissipou completamente, não deixando nenhum resto sequer daqueles seres. A garota levou as mãos até a cintura, orgulhosa, e se virou novamente caminhando em direção aos dois.

— Maya! Eu já te falei para não usar magias desse grau sem seu cajado! — Disse o homem levantando-se, aparentemente já havia encerrado sua parte.

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