O Visitante Misterioso

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Mauritshuis se encontrava calmo no dia 13 de dezembro de 1970. Seus diversos corredores se encontravam vazios e repletos de quadros com histórias das quais poucos sabiam ou compreendiam. O ar gélido de um final de tarde pairava pelo casarão como companhia para os poucos visitantes que se encontravam apreciando cada uma das obras de arte que ali eram expostas. No entanto, um visitante em específico chamara a atenção dos funcionários do museu, pois este havia chego com duas malas de couro pela manhã e desde então se encontrava observando a tão sublime Meisje met de parel.

Era um homem alto e bem vestido. Seu sobretudo marrom chegava a esvoaçar junto do ar que adentrava as janelas de vidro da sala a qual estava. Seus olhos – completamente distintos – não desgrudavam nem por um segundo do quadro com a imagem da mulher bonançosa e os olhos curiosos poderiam até mesmo jurar que este conversava com ela. E era o que verdadeiramente acontecia.

Os dedos magros e pálidos do homem eram enfeitadas por manchas avermelhadas e minuciosas cicatrizes e, mesmo que tentasse esconder as marcas por luvas surradas, elas eram bem visíveis para qualquer um que se considerasse um perfeito amante dos pequenos detalhes. Visualizando cada traço da pintura, este conseguia escutar alguns comentários vindo daqueles que já haviam o apelidado de "O Visitante Misterioso''. Contudo, não se importava com o que diziam, mas sim em apenas poder vê-la novamente.

Levou uma das mãos em direção do quadro, como se quisesse o alcançar no alto da parede para em seguida lhe direcionar uma pergunta:

— Ó tão bela moça de olhar apaixonado e sereno, o que escondes por detrás de tamanha formosura e quietude?

Porém, não se teve uma resposta. Os olhos curiosos ainda encaravam a figura do homem parado à frente da obra de arte e assim que um deles resolveu tomar a frente e ir falar com o tal homem, para perguntar se estava tudo bem, uma voz rouca chamou-lhes a atenção.

— O que vocês estão fazendo? — perguntou um senhorzinho vendo em seguida um dos funcionários ir até ele.

— Estamos preocupados com o visitante ali, senhor. Ele chegou pela manhã e bom, já se passa das dezesseis horas. — informou, fazendo com que o homem desse alguns passos a frente para pôde olhar dentro da sala.

— Ora essa, de que visitante vocês estão falando? — questionou o senhor ao mesmo tempo que franzia a testa por começar a achar que estavam zombando dele.

— Daquele a... — ao adentrar a sala o funcionário pode constar que estava vazia, sem nenhum rastro que fosse do homem.

Incrédulo, o funcionário deu alguns passos para trás enquanto colocava ambas as mãos na boca.

— Ele estava ali, não é pessoal? — questionou aos demais amigos que confirmaram um por um.

O senhor olhou para eles completamente desconfiado de suas intenções, mas preferiu por deixar de lhes darem broncas por mais mentiras.

— Voltem para as suas tarefas, agora — ordenou. — Esqueçam o que quer que tenham visto e sigam fazendo o que devem fazer.

E sem pensar duas vezes, todos seguiram seus caminhos.

Bento era o nome do senhorzinho que após a retirada dos funcionários, resolveu adentrar a sala e visualizá-la melhor. Ela era a única sala que não havia outra porta sequer aquele que servia para entrada, então, se alguém tivesse estado lá a minutos antes, não teria por onde sair a não ser que fosse pelas janelas. Pensando nisso ele resolveu checar cada uma para ver se o tal homem de que os funcionários falavam era de fato real e possivelmente louco, mas assim que olhou pode constar que tudo estava como antes, sem nenhuma alteração.

— Esse meu pessoal — disse passando os dedos pela barba e parando de frente para o quadro disse: — Você não viu alguém por aqui, né? — perguntou em tom zombeteiro antes de gargalhar do feito. — Bom, até logo, Griet! — disse seguindo em direção da saída e sumindo pelos corredores do museu.

Não demorou muito para que o museu fechasse suas portas naquele dia e os funcionários fossem para as suas casas se perguntando sobre o que haviam visto e por assim iriam seguir, pois poucos conheciam a história por detrás da obra e, principalmente que a cada ano, no dia 13 de dezembro, Johannes Vermeer visitava sua tão adorável obra, para assim sempre se lembrar de sua amada.


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Quando realizei a criação desse conto, o intuito era acusar a minha imaginação fértil com relação a pequenos devaneios que costumo criar com assuntos diversos.

Para o dia da criação desse conto, foi justamente sobre as grandiosas obras de arte que acompanham nossa trajetória como humanidade, não apenas como patrimônios históricos, mas o quanto trazem consigo, de forma implícita, a essência de seu criador. Pois para mim, criar arte é se fragmentar em pensamentos, emoções e ideias, além claro de se imortalizar em vida.

Abraços para quem leu e espero te ver em outros momentos. Até!

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⏰ Última atualização: Jun 30 ⏰

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