ONDA DO MORRO 💣

🔒(24)

A noite tava tensa na quebrada. Mayara descia o beco, tentando manter a pose, mas o coração tava acelerado. Sabia que qualquer vacilo ia entregar o jogo. Não deu dois minutos e já tinha gente de olho nela. Samurai e Valete tavam logo ali, a cara fechada, cheio de ódio.

Valete foi o primeiro a chegar perto, cuspindo as palavras com desprezo.

VALETEE aí, Mayara? Tá com cara de quem fez merda. Viu o moleque ou vai ficar se fazendo de doida?

Mayara deu uma risada debochada, levantando o queixo.

MAYARA:Qual foi, Valete? Vê se para de encher o saco. Não vi nada, não sei de nada. Sai da minha frente."

Valete bufou, mas quem avançou foi Samurai, olhando ela de cima abaixo.

SAMURAI:Cê tá de sacanagem com a gente, né? Fala logo, mulher! Cadê o moleque? Ou vai deixar a situação esquentar pro teu lado?

Mayara manteve a pose, mas as mãos começaram a tremer.

MAYARA:Que que cês tão falando, doido? Não sei de nada, pô! Me deixa passar, que eu não devo satisfação pra ninguém!

Antes que ela pudesse dar mais um passo, Mago gritou do outro lado, segurando o celular na mão, os olhos arregalados.

MAGO:Ei, família, cês não vão acreditar... o Rato ligou! Parece que ele pegou o Lucas!

Foi aí que o berro do Coringa ecoou pela quebrada.  

CORINGA:FILHO DA PUTA!

Ele veio correndo, com Ester logo atrás, a cara desfigurada de desespero. Ele parou na frente de Mago, quase arrancando o celular da mão dele.

ESTHER:Que que ele falou, Luan? Fala logo, caralho!

Mago tava nervosão, gaguejando.

MAGO:Mano... ele falou assim, ó: 'Acho que você perdeu alguma coisa, Coringa'.

Coringa fechou a cara, bufando de raiva.

CORINGA:Puta que pariu, Mago! Cê se passou por mim, mano?"

Mago deu um passo pra trás, tentando explicar. Foi mal, foi mal, mano... só pensei que se eu falasse que era você, ele podia desconfiar e dar ruim pro teu moleque.

Ester já tava em prantos, se agarrando no braço de Mago, implorando.

ESTHER:Pelo amor de Deus, liga pra ele de novo! A gente precisa saber onde o Lucas tá!

Coringa segurou ela, tentando acalmar.

CORINGA:Calma, Ester. Se a gente ficar ligando toda hora, eles podem rastrear ou inventar algum trote pra ferrar com a gente.

Ela perdeu a paciência, soltando o braço dele e gritando, o rosto molhado de lágrimas.

ESTHER:Tá parecendo que cê não tá nem aí pro teu filho! Eu tô pirando só de pensar que alguém pode tá machucando o meu menino, tocando nele, fazendo sei lá o que! Ele é só uma criança, Henrique, não sabe se proteger!

O choro dela só aumentava, enquanto ela continuava.

Se acontecer alguma coisa com o nosso Lucas, cê pode esquecer que eu existo. Nunca mais vou querer olhar pra tua cara. Vou fingir que cê não tá nem aí pra mim também.

As palavras dela deixaram Coringa visivelmente abalado. Ele a puxou pra um abraço apertado, tentando passar segurança.

CORINGA:Ei, calma, meu amor... vai dar tudo certo. A gente vai tirar o nosso moleque dessa, tá ligado? Prometo.

Ele olhou pra Mago, sério.

E aí, irmão, tem mais alguma notícia?

Mago balançou a cabeça, frustrado.

MAGO:Nada por enquanto, mano... Mas já mandei os vapores se espalharem, tão tudo na pista procurando. Ninguém vai descansar até achar o Lucas.

E assim, a noite na favela ganhou um novo peso. Cada um sabia que dali em diante era guerra, e ninguém ia sossegar até trazer o menino de volta.