Prólogo

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Em uma manhã nada incomum na minha vida, me arrumo trinta minutos antes da minha irmã mais velha acordar. Como irmã mais nova tenho apenas duas opções, me arrumar trinta minutos antes ou me arrumar trinta minutos depois em apenas dez minutos para que não nos atrasasse. E assim era também com as oportunidades que me davam, antes dadas a Madelynn e eu acabar ficando com o resto. Não lembro quantas vezes deixei meu pensamento me levar ao desejo de não a ter aqui, que o tempo passasse rápido o suficiente para que ela tivesse sua própria família. E assim eu não ficasse apenas com o resto de suas decisões, as primeiras oportunidades e chances seriam minhas, e eu apenas teria de escolhê-las.

Um grito estridente me lembra que ainda sou a irmã mais nova.

-Mãeeeeeee, Anna ainda está no banheiro e eu estou atrasada!

Bufo com a infelicidade de ainda estar terminando meu cabelo e ter que desistir das minhas tranças. Abro a porta dando de cara com um rosto ainda inchado e cabelos embaraçados um no outro. Meu Deus, que bagunça, ela dormiu de ponta cabeça?

-O que foi? - ela questiona me olhando com cara de poucos amigos.

-Nada, só estou estranhando o fato da sua cabeça parecer maior hoje, ela está em fase de crescimento? - digo apenas para acabar com o resto de paciência que ainda existia em Maddy. E consigo. Sua resposta foi uma batida forte na porta do banheiro que estranhamente me dizia "cala a boca" sem precisar usar palavras.

Apesar do péssimo humor matinal, Maddy era a garota doce que todos amavam, a filha que todos desejavam, e a amiga que você provavelmente procuraria se precisasse de um abraço caloroso. Eu admito, ela era perfeita em ser perfeita. Em todos os lugares havia um espaço reservado a Maddy, como se todos esperassem sua doce presença para que pudesse enfim começar seu dia. Toda a cidade parecia desejar o melhor a ela, como se ela fosse a única que verdadeiramente merecesse a felicidade. Minha mãe se orgulhava tanto disso, a cada pergunta de amigas vizinhas sobre as conquistas da minha irmã e as felicitações que vinham a seguir deixava seu sorriso cada vez mais aberto e as vezes chegava até a chorar. Eu ria. Era como se pudesse ver minha mãe nas nuvens.

Termino de soltar meu cabelo das tranças mal-acabadas e desço já reservando minha mochila e a de Maddy na sala, indo até a cozinha separar o café da manhã dela. Isso era uma coisa que eu fazia diariamente, gostava de pensar que era apenas para evitar contratempos e acabar nos atrasando, mas era mais do que isso. Eu era como o restante da cidade, vivia pela felicidade de Madelynn.

Vejo ela terminar seu café da manhã e vou em direção a porta pronta para pegar meu caminho até a escola, até ouvir o resmungo da minha mãe.

-Não vão se despedir? - e aponta para sua bochecha fazendo eu e minha irmã revirarmos os olhos.

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12pm - fim das aulas.

O sol começava a esquentar debaixo do meu cardigã e penso seriamente em tirá-lo. Assim que o tiro, ouço minha amiga resmungar ao meu lado. Alicent era boa com isso.

-Agora que essa garota estúpida sumiu, meus pais não estão deixando eu ir andando pra casa. - Espere, o quê?

-Quem sumiu, Ali? – aquilo me assustou mais do que eu poderia explicar. Eu não era uma garota que se assustava com coisas sobrenaturais, na verdade preferia encontrar o capeta cara á cara do que ser raptada.

-Bonner. Disseram que ela foi embora com o namorado mais velho, mas os pais insistem em dizer que foi sequestro. – Bom, Bonner era esse tipo de garota, e já tinha um tempo em que ela se gabava do seu namorado universitário. – Agora meus pais estão revezando para me trazer e buscar. Achei que soubesse, achei que a cidade inteira soubesse. Você vai querer uma carona?

-Preciso ver com Madelynn. – Minha amiga concorda com a cabeça enquanto me distancio para encontrar minha irmã.

Paro no meio do caminho ao identificar seu cabelo loiro escuro sendo acariciado por uma mão masculina. Eu sabia quem ele era. John Allen, nosso vizinho. Pelo menos o gosto de minha irmã aparentemente é bom, ele é um gato. Dou meia volta e tento me dirigir de volta até Ali mas alguém me para antes mesmo que eu pudesse dar o primeiro passo.

- Oi... Acho que meu irmão vai levar sua irmã pra casa hoje. – Jake diz com um sorriso tímido. Deus, como ele é lindo. Suas sobrancelhas grossas e escuras davam destaque para seus olhos azuis profundos, seus cílios tão gigantes que poderia jurar que usava máscara, sua boca tão desenhada que eu poderia imaginar Deus reservando um tempo para que fosse criada com perfeição. Jake Allen. – Talvez eu possa te levar, se não se importa. Sabe, não quero que ande por aí sozinha, é perigoso.

- Você vai me proteger? – Ok, isso foi uma coisa bem idiota a ser perguntada. Eu já estava arrependida, mas quando Jake riu eu quis ainda mais me esconder e ir sozinha para casa, poderia enfrentar o sequestrador.

- Vou sim, claro. – Seu sorriso era a coisa mais linda que já tinha visto. – Vou ser seu guarda-costas.

Eu conheci o amor aos seis anos de idade, mas só ali, aos onze, ele foi florescer. E eu sabia que o amor tinha olhos claros e sobrancelhas escuras.

I Hate It HereOnde histórias criam vida. Descubra agora