PRÓL1GO.

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Woonhak assistia as partículas molhadas escorregarem em sua janela, junto ao balanço da cortina por razão da ventania gelada que acompanhava a garoa. Retalhava a pele morta ao redor de suas unhas usando os dentes, numa tentativa falha de transferir a sua dor interna para o corpo físico.

Seu cérebro estava pilhado. Desde que passou a jogar futebol, suas noites de sono por causa da ansiedade da próxima partida foram bem prejudicadas, sempre estava pensando em como seria divertido praticar mais uma vez, se imaginava com a bola no meio da quadra acertando o gol de uma distância, humanamente, impossível. Ou driblando um zagueiro bombado e no mais além, recebendo premiações de ícones do futebol que admirava.

Seus sonhos saudáveis sumiram a medida que foi crescendo e descobrindo que existiam coisas mais intrigantes que futebol. Como o amor.

Se espreguiçou na cama, tomando noção de que seu dedo estava machucado a ponto de sangrar. Resolveu se erguer para lavar a mão e talvez tomar algo para que relaxasse em paz, já que seu cérebro não o fazia por conta própria.

─ Hak? ─  A voz mansa de Taesan soou em seu encalço, não se deu o trabalho de virar o rosto e responder. Continuou com a mão na água que caia da torneira da cozinha, talvez ele tivesse escutado o barulho da pia e resolveu conferir. - Tá tarde, você tava jogando?

─ Não. ─ Respondeu simples, chacoalhando as mãos molhadas, assim que desligou a pia e enchendo um copo com água em seguida. ─ Você que tava, né?

Percebeu o estado do irmão, o cabelo intacto, apenas uma calça moletom e pantufas de vaquinha. Certamente, estava acordado a um tempo. Taesan sorriu por ter sido pego e abriu um dos armários, vasculhando os alimentos.

─ Sim, agora vim buscar um lanchinho depois de lanchar aquele boss imundo. ─ Disse como se fosse uma frase de efeito. Woonhak negou com a cabeça, sempre achando o irmão um bobo. ─ Sua rinite atacou?

─ Rinite?

─ É, o antialérgico tá na bancada. ─ Apontou para o remédio com o queixo.

─ Ah, sim. ─ Deu um riso anasalado, terminando de encher o copo com água para ingerir um comprimido da cartela. ─ É a mudança de clima.

Tirou um remédio no mesmo momento que Taesan abriu seu pacote de salgadinhos.

─ Nem te escutei espirrar, vou abaixar o volume do fone. ─ Disse simples, depois de levar um petisco a boca e sair andando devagar do cômodo, deixando um Woonhak sem graça para trás. ─ Se sua alergia piorar, me chama. Dorme bem, Hak.

─ Tá bom. ─ Segurou o copo com ambas as mãos. ─ Dorme bem, Hanie.

Viu ele acenar de costas com a mão ensebada de farelos e olhou para o copo cheio em mãos. Se via como aquela vidraça, preenchido de medos e anseios, questões ambíguas que temia revelar. Pôs o rémedio na língua e engoliu, mais uma vez, seus impasses em forma líquida.

A água desceu como um punhado de farinha, difícil de atravessar a garganta. Como se estivesse reprimindo suas sensações irreversíveis e desejos inconvenientes, acumulando tudo no estômago sabendo que um dia vomitaria suas dores. Na cama, martilizou seus dilemas até conseguir dormir sem sentir o sabor da realidade amarga.

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