IV

116 17 32
                                    

Com a perda dos Warthog, Leehan não queria sobrecarregar seu irmão com questões desconfortáveis ou lembranças da partida, suas reações para derrota eram sempre dramáticas. Por consequência, criou uma técnica de três fases para quando aquele tipo de incidente acontecia.

Primeiro passo, bajulação.

─ Acho que seu técnico já deveria fazer uma mudança concreta nesse time. ─ Começou dizendo, à medida que Niki se aproximava cabisbaixo. ─ Já tá podendo virar o atacante dos javalis.

─ Se eu fosse bom mesmo, teria feito gols o suficiente. ─ Se jogou no acento vazio, desamarrando as chuteiras. ─ Tô merecendo virar reserva.

Escutou um fungado vindo dele. Aquele era um estágio avançado, Leehan sabia que o irmão chegaria a chorar caso não fosse consolado a tempo.

Desceu de seu acento para sentar ao lado de Niki, que tirava suas chuteiras devagar. Colocou uma toalha branca ao redor do pescoço alheio, enxugando os pingos de suor presentes nas têmporas.

─ Se todo reserva fosse que nem você, o Cristiano Ronaldo nem era atleta. ─ Escutou um riso soprado. ─ Só vai ter jogo daqui a quinze dias, você sabe que eu tenho algumas técnicas e posso te ajudar a treinar.

Niki virou o rosto lentamente, observando Leehan mover as sobrancelhas como se aquela fosse a proposta mais irrecusável já sugerida.

─ Você não tem tempo nem pra respirar, quem dirá me ajudar em alguma coisa. ─ Terminou de guardar as chuteiras na sua bolsa esportiva, vendo o mais velho se escorar no banco. ─ Oferta recusada.

Seu semblante estava mais divertido. Certo. Leehan se ergueu com as mãos na cintura, já partindo para a próxima etapa.

Segundo passo, tenha dinheiro.

─ Nem se a oferta viesse com um combo seu irmão maravilhoso, mais sorvete de chocomenta?─ Niki estreitou os olhos para ele.

─ Aceitaria se tivesse só o sorvete. ─ Arrumou sua bolsa ao redor do pescoço, colocando seus chinelos no chão para calçar em seguida.

O caminho até chegar em casa foi barulhento, como o ocasional. Tomaram sorvete em uma praça de frente para onde moram e até compraram um sabor exótico para experimentar em casa com seus pais, mesmo tendo noção de que sua mãe não podia comer esse tipo de guloseimas frequentemente.

A voz de Niki dando risada foi o que anunciou sua chegada. Seu pai estava na parte de fora da casa, possivelmente cuidando de suas plantas preciosas enquanto sua mãe se prostava na poltrona com uma carranca engraçada olhando para o celular.

─ Meninos. ─ Sua voz chamou alta, ainda com os olhos cerrados para o aparelho. ─ Como eu faço pra saber quem tá me mandando mensagem?

─ Lê o nome do contato, uai.

Niki respondeu simples arremessando sua bolsa no canto da casa, recebendo um xingamento da progenitora e saindo à medida que trocava seus chinelos pelas pantufas enormes do pai. Leehan foi quem recolheu seus pertences, os organizando de uma forma mais harmoniosa antes de dar atenção à mãe, já que o caçula corria em direção ao jardim.

Leehan tinha certeza de que ele estava indo contar suas frustrações ao pai, que deveria estar em paz fertilizando seus frutos premiados.

─ Olha, não tem nada. ─ A progenitora mostrou ao mais velho, que se apoiava nas costas da poltrona para analisar melhor. ─ Tento clicar pra ler a mensagem mas aparece esse hack. Tão tentando roubar minhas informações.

─ Calma, mãe. É só porque a senhora não tem esse número salvo, é um desconhecido. ─ Disse recebendo o aparelho em mãos.

Era um aviso de permissão, já que não tinha o contato salvo, precisava aceitar os termos para ler a conversa. Leehan apenas apertou o botão de consentimento e as mensagens surgiram nítidas.

─ Toma cuidado pra não ser spam, ou algum...

Inconscientemente, leu uma parte do texto antes de devolver o celular a dona, o qual citava o nome de Niki e do próprio Kim. Não queria parecer enxerido, mas acabou se adiantando no tópico e ao ler tudo, percebeu se tratar de uma oferta.

─ Puta que pariu.

No caminho do metrô, Taesan estava ansioso. Não sabia se estava fazendo o certo, a credibilidade que Jaehyun passou em fazer a apresentação da empresa foi suspeita. Ele pode ser um bom profissional em outra área, mas com o público ele é um pouco questionável.

No fim, assim que chegou ao endereço solicitado, deixou todos seus pensamentos contraditórios de lado, pode perceber que aquela oferta não se tratava de nada fútil. As paredes de vidro polidas, tonalizando com o sol, as plantas podadas e simétricas no jardim enorme, a logomarca da BlairFut verde, com letras dez vezes o seu tamanho, tudo tão bem construído e preservado.

O exterior era tão lindo quanto o interior.

Por mais que não houvesse adereços tão atraentes, a simplicidade e limpeza do ambiente captava a admiração de qualquer um. Ficou até receoso de sentar e sujar o banco estofado com sua bunda de pobre.

─ Han Taesan?

Tirou seus olhos do celular, onde mandava inúmeras mensagens ao seu companheiro Sungho, podendo ver uma garota alta de franja castanha com uma prancheta em mãos.

─ Sim, sou eu.

─ Peço para que o senhor me siga até a sala 108. ─ Ela anotou algo na prancheta, esperando Taesan se erguer para seguir corredor adentro. ─ O diretor e o assistente do técnico da base 17 estão esperando pelo senhor. Não se acanhe, responda todas as perguntas com exatidão e caso resolva matricular seu irmão, iremos nos ver novamente para agendar uma reunião com o técnico que cuidara de seus treinos.

Taesan tinha a mania de quase nunca prestar atenção nas pessoas que falavam muito, mas com a falta de estímulos visuais, à medida que seguia a garota, teve que captar cada informação.

Eles eram cuidadosos.

Sentiu-se bem tratado, acolhido. Percebeu que não havia ninguém além dele e dos funcionários vestidos com o uniforme chique da BlairFut pelo prédio, além de que, apenas ao dizer seu nome, aquela garota sabia, exatamente, do que sua presença se tratava. Ficou surpreso pela exclusividade.

Os saltos da garota pararam de soar no chão, indicando que haviam chegado. Ela abriu a porta designada, exibindo duas figuras presentes na sala.

─ Bem vindo, Tisan.

O diretor soou com animação, rotacionando sua cadeira com um sorriso divertido no rosto, sendo parado pelo rapaz ao seu lado.

─ É Taesan, senhor. ─ Leehan corrigiu. ─ Venha, sente-se.

OVERPROTECTIVE  ✦  GONGFOURZ.Onde histórias criam vida. Descubra agora