Quando se deu conta, sua bundinha não estava mais sobre o acento confortável da BlairFut e sim acolchoada no banco traseiro do carro esportivo de sua progenitora. Quis morrer.
Podia sentir, a cada segundo, o olhar estreito de Woonhak sob si. Como se os papéis de irmão houvessem se invertido com o caçula lhe observando com reprovação. Estirou as costas no banco, assistindo a paisagem enquanto apenas o som da rádio ressoava no ambiente.
— Vai me deixar em casa?
— Por que não quis matricular o Woonhak na Blairfut? — Questionou por cima de sua sentença. Ele suspirou alto, fechando os olhos. — É uma oportunidade de ouro e iria desperdiçar sem ao menos conversar comigo antes.
— Você não toma a frente de nenhuma pauta quando se trata dele, mas quando tem dinheiro e carreira envolvido, se paga de mãe boazona.
Sua voz era áspera, não queria mais discutir, mas sua paciência não existia a muito tempo. Queria somente chegar em casa e dormir, pintar até o sol se pôr ou comer carne frita com Sungho enquanto assistiam algum seriado idiota. Seu cérebro não aguentava mais produzir cortisol, quis abrir a porta no meio da estrada e ser alvo de alguma motocicleta em alta velocidade.
— Mude seu tom para falar comigo, Han Taesan! — Ela buzinou furiosa, assustando o pobre Woonhak. — Minha questão não é sobre carreira, dinheiro, nada disso, quero saber porquê não me contatou quando recebeu a proposta.
— Desde quando te interessa?
— Desde que eu pari vocês dois da porra do meu útero. — Podia ver suas veias saltando na testa. — Eu é quem pago as contas dele, quem paga a escola, a comida, as roupas, você é só o irmão mais velho, não tem que tomar a frente de nada. Sou eu quem sou a mãe dele.
— E você, por acaso perguntou se ele queria entrar na BlairFut antes de vir aqui ou tomou as decisões por ele como sempre faz? — A encarava pelo retrovisor. — Hak, você deu sua opinião antes de saber do acordo?
O caçula ia responder mas foi interrompido.
— Sou eu quem sabe o melhor caminho pra ele, Taesan. — Gritava. — Ele ama futebol, passa horas fora de casa jogando, fiz o que você deveria ter feito mas seu egoísmo fala mais alto. Não é porque desperdiçou o seu futuro que deveria tentar estragar o do seu irmão!
— Mãe, calma. — Woonhak interferiu, pode ver a mais velha respirar fundo e o caçula acariciar seu braço no volante.
Sentiu a taquicardia prevalecer em seu peito, seus dentes apertados, as sobrancelhas franzidas ao ponto de rachar a testa. Aquele carro estava tomado de negatividade, os vidros fechados mantinham as palavras duras de ambos flutuando sem chances de escapar. Não podia se mover, não conseguia fazer muita coisa além de respirar pesado e tentar disfarçar seu incômodo para Woonhak.
Olhou uma última vez para suas orbes castanhas no retrovisor, relembrando sua trajetória de vida sob aquele olhar obscuro. Apenas não queria que Woonhak fosse mais uma vítima.
O silêncio prevaleceu até a rua de seu apartamento, assim que o carro estacionou, não tardou em abrir a porta. Por um instante não conseguiu.
— Filho, eu amo você. — Travou o maxilar. — Mas não tente desferir sua frustração no futuro do Woonhak. E vê se atende minhas ligações.— Foi tudo que escutou antes de fugir daquele automóvel.
Abriu a porta abruptamente, saindo em passos duros até o elevador de seu prédio.
Seu estresse irradiando como piolhos, estava prestes a explodir. Lágrimas desceram por sua bochecha, seu queixo tremelicou e sua respiração parecia pesada. O ar frio do elevador relembrava o momento tenso que passou a instantes, tudo acumulado em sua mente miúda que resolvia desfigurar sua dor em líquido salgado.
A porta do elevador se abriu após um sino.
— Taesan? — Tirou seu olhar do chão, podendo ver Sungho com sua mochila a frente do corpo e feição perdida. — Oh, meu bem.
ꕀ
— Ainda não entendi direito. — O som da carne grelhando na frigideira aquecia os ouvidos de Taesan, que permanecia deitado em seu sofá quentinho desde que entrou em casa. — Você brigou com o menino da empresa e agora com sua mãe?
— A mãe do Woonhak.
— Tá. — Sungho piscou, pendendo o peso do corpo para a perna esquerda. — Tudo por causa de uma vaga pro Woonhak na equipe de futebol?
— Vai além de uma vaga. Não quero que o Woonhak fique em um lugar que eu não confie.
— E no que você confia? — Disse irônico, despejando a proteína em um prato. — Tu é muito besta, só não quis colocar ele lá por orgulho.
— Não sou orgulhoso.
— O garoto que trabalha lá, não é o menino que você vê todo sábado no dulwich?
─ E o que tem?
─ Então não é orgulhoso, é ego ferido. ─ Pôs uma carne na boca, a mordendo tentando não queimar sua língua.
Taesan não respondeu, apenas murmurou, sem querer arrumar outra encrenca. Viu ele se aproximar com suas luvas fofas e o prato com as carnes fatiadas. Não se moveu.
— Você age muito com a emoção, deve ter sentido raiva na hora e ficou por isso mesmo. — Sungho saiu da sala novamente, voltando para cozinha para buscar duas embalagens de arroz instantâneo e uma latinha de cerveja. — Você sabe que poderia ter evitado isso, né?
Sentiu a mão do moreno dar dois tapinhas em sua nádega, pedindo espaço no sofá miúdo. Taesan se encolheu, o observando arrumar as comidas sobre a mesinha de centro.
— Já pensou em trancar a gastronomia e virar psicólogo? — Sungho riu.
— E você já pensou em tentar um?
— Psicólogo? — Deu um riso soprado, o vendo comer. — Minha mente tá ótima.
Sungho o olhou de soslaio enquanto mastigava e revirou os olhos.
— Ótima pra ser paciente.
Sungho recebeu um chute fraco nas costas. Já pensou muito em frequentar terapias mas seu dinheiro não era o suficiente para acabar, ou tentar acabar, com suas pendencias emocionais. Preferia ter uma casa quentinha e comer, além do mais, usava Sungho como apoio em seus momentos conturbados, e para ele estava o suficiente.
— Você deveria se concentrar em suas obras ao invés de se irritar com coisas que não são da sua conta. ─ Pegou uma fatia de carne e ofereceu para Taesan. ─ Já resolveu se vai...
─ Eu não vou.
Taesan mordeu a carne, deixando o silêncio se estender no ar.
─ Taesan, é sério.
─ Que marca é essa? ─ Apontou para a frigideira com a comida. ─ Tá muito gostoso, vou comprar sempre.
Ele se ergueu do sofá, mudando totalmente de tópico. Odiava suas atitudes mal pensadas, Taesan tinha o caráter de se livrar dos seus problemas antes que eles virassem uma bola de neve. Mas a depender de como se executam as soluções, essa bola de neve pode se tornar um iceberg.
Sungho era responsável por ajudá-lo a derreter suas adversidades, mas também podia ser uma geladeira os mantendo seguros até que Taesan pudesse ter certeza de suas decisões. Era uma relação de dependência e Sungho não via como se livrar disso.
─ Vou fazer quando o Woonhak vier aqui. ─ Abriu a latinha de cerveja, tomando um gole e comendo, agora, companhado de seu colega. ─ Ele só come pizza e salgadinho.
─ Acho que isso vai demorar, ele não vai querer me ver por um tempo.
Se encararam.
─ Não deixe meu filho longe de mim.
─ Filho o caralho, seu louco.
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OVERPROTECTIVE ✦ GONGFOURZ.
FanfictionDe rivais a companheiros de torcida, uma reviravolta inusitada. Compartilhando apenas a similaridade de ambos terem irmãos atletas, como Taesan e Leehan irão aprender a conviver entre si após tantos episódios conflituosos?