PRÓL2GO.

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O suor salgado despencando da testa e escorrendo até a ponta do nariz, conseguia sentir o sabor salgado toda vez que umedecia a boca. O tempo era seco, então o calor se prestava cada vez mais nítido. Suas orbes passeavam pela grama sintética, atravessando os cones e esquivando dos obstáculos com a bola.

Deu um chute certeiro na rede ao final do circuito, recebendo tapinhas nas costas dos companheiros de time e uma piscadela do treinador. O sangue aflorado, adrenalina na motivação, enxugou o suor com a camisa úmida, virando-se para arquibancada onde recebeu mais acenos e olhares sorridentes, mas nenhum era significativo.

─ Hanie. ─ Niki destravou a porta, quase não conseguindo por causa da mochila que resolveu se pendurar em sua mão à medida que virava a chave na maçaneta. ─ Ai, que fome.

Saiu reclamando, arremessando suas chuteiras e mochila nos cantos estratégicos da casa, seguindo, intuitivamente, em direção a cozinha onde normalmente encontra o indivíduo que busca.

─ Hanie?

Na porta do cômodo, não enxergou nenhuma silhueta no balcão. Franziu o cenho, dando meia volta e subindo as escadas.

─ Leehan? ─ Bateu no quarto do sujeito. ─ Uai.

A porta se arrastou lentamente, dando visão ao quarto minimalista do mais velho, estava arrumado como se não existisse uma alma que ocupava o âmbito. Seguiu para o quarto dos progenitores, lavanderia e finalizou no banheiro.

Encarou seu semblante neurótico na vidraça, espelhando seu âmago temeroso, entortou as sobrancelhas ao sentir uma pontada aguda atravessar o crânio. Desceu o rosto para as próprias mãos no mármore, sentindo a frieza se proliferar dos dedos ao pulso, seu coração tentava bombear sangue com mais fervor, contudo, seu método atrapalhava a respiração.

As suas narinas não eram o suficiente para carregar oxigênio, seus olhos produziam uma vinheta inconsistente, estreitando sua visão afim de deixar o cérebro tonto. Sentiu nostalgia, sua alma tentando escapar do torso.

Não viu umidade em seus olhos, apenas seu corpo estático a frente do espelho. Queria fugir, fugir de si mesmo e do medo de voltar a ficar sozinho, a coexistir com a própria sombra, amava estar cercado, sendo inundado por distrações que o faziam esquecer de quem ele era.

Escutava ruídos, um rastro negro subindo pelo ralo da pia, deslizando pelas paredes que protegiam o chuveiro, abafando o cômodo e torturando sua garganta com um toque maciço. Se encarou no espelho, observando seu reflexo mais uma vez acompanhado de um espectro de vapor cinza. Se vira sendo sugado cada vez mais pela fumaça, numa eterna paralisia do sono.

─ Niki. ─ Piscou uma vez, agora fora da penumbra. ─ Niki, cadê você? Vem me ajudar aqui.

O louro olhou para trás, a procura de rastros escuros, do odor de assombração, mas nada viu. Apenas escapou do banheiro revitalizando seu corpo gradativamente.

─ Onde você tinha ido? ─ Desceu os degraus até o irmão, com um alívio disseminado.

─ Te mandei três mensagens avisando que tava no mercado. ─ Leehan estirou as sacolas que segurava em direção do caçula, este que recolheu sem reclamações. ─ Ainda perguntei se queria que eu comprasse um sorvete de morango ou chocomenta.

─ E qual você escolheu?

─ Eu peguei o que você mais gosta, bobo. ─ Terminou de arrumar as chuteiras deixadas na entrada pelo mais novo para tirar um pote de sorvete de uma das embalagens no balcão.─ De chocomenta.

Esse era o sabor preferido de Leehan, na verdade.

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