Encrenca, e a sabedoria do grande Mumuzy #5

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Eu podia ouvir meu próprio coração bater descontroladamente, nunca imaginaria que um estranho guardaria o segredo que poderia me destruir.

E sinceramente, as primeiras impressões nunca foram meu forte; elas sempre me enganam. De qualquer forma, existia algo que me fazia sentir segura, mesmo em meio ao caos, mesmo nessa circunstância caótica.

Sinto que posso confiar, e aí começa o problema. Não se pode confiar a própria vida a alguém. As pessoas são imprevisíveis, e a vida se certificou de me ensinar essa lição.

—Ella, você está ouvindo? —Disse o homem interrompendo meus pensamentos acelerados.

Fitei os olhos enfeitiçantes do sujeito, sem dizer uma palavra. Quando ele sorriu para mim, senti um calafrio percorrer minha espinha; algo naqueles olhos hipnotizantes me dizia que eu não podia confiar.

—Ei, estou falando com você.

Mudei o campo de visão sorrateiramente, na tentativa de abafar os sentimentos perigosos que me rondavam.

Seguir minha intuição sempre me manteve segura, e agora ela estava me dizendo para ficar longe daquela pessoa, apesar de ter me encantado com aquele sorriso brilhante.

A razão sussurrava em meus ouvidos, revelando verdades absolutas: Nossas personalidades não são compatíveis, mas ele é irresistivelmente fascinante. Pode ter todos os sinais de encrenca, mas o que dizer daquele olhar que promete aventuras e mistérios, garantindo que nunca teria tédio?

Eu não sei o que dizer, ele era um completo estranho, um estranho que tinha domínio absoluto dos meus pensamentos. E eu não sabia lidar bem com isso.

—Droga. —sussurrei em um tom ansioso, tentando sair da bagunça interna que criei —Que droga!

Caramba... Eu preciso ficar longe.

—Você é sempre estranha assim? Eu estava tentando conversar e você simplesmente me ignorou, e não é a primeira vez —Exclamou o homem, visivelmente incomodado com a situação. —Isso não é legal.

Meu corpo exausto implorava por um momento de paz, enquanto minha mente teimava em não desligar, estava cansada de todos os problemas que tinha, inclusive daqueles que eu tinha acabado de me meter.

Eu sou especialista nisso.

A situação estava ficando cada vez mais desconfortável. Meu juízo não cooperava e eu tinha plena ciência que entre nós, só o silêncio podia funcionar.

Apesar de ter todos os motivos para apenas dormir e esquecer a pessoa do meu lado, ignorei as advertências da minha mente e, impulsionada por todas as minhas frustrações e desejos conflitantes, levantei.

—O que você está fazendo? Vai me dizer que ainda está com frio? — Disse o homem surpreso com o meu gesto inesperado.

Não disse nada, até me abaixar e ficar de frente para o indivíduo que estava sentado segurando as pernas.

— Por que você levantou? Eu não entendo o que quer, mas eu estou bravo com você. —Suspirou com frustração — Cacete, Ella! Não pode agir como uma criança e esperar compreensão.

Confesso que a situação me divertia.

Dessa vez, eu estava cara a cara com ele e pude observar perfeitamente a feição do sujeito que dominava meus pensamentos.

Seu rosto era um jogo de sombras e luz, marcado por uma mandíbula forte e bem esculpida. A pele impecável contrastava com uma cicatriz discreta ao longo da mandíbula, dando-lhe um charme intrigante. Seus lábios, perfeitamente desenhados e levemente curvados, destacavam a barba por fazer. Suas sobrancelhas bem definidas acentuavam ainda mais seu olhos cor de mel intensos e desconfiados.

Ele era fascinante.

—Você fica melhor de boca fechada, longossauro. — Um sorriso de canto tomou conta do meu rosto.

Minha respiração se tornou profunda e meu coração, completamente acelerado. Prendi o cabelo rapidamente, disposta a impedir qualquer pensamento racional, e segurei firmemente a gola de sua camisa.

Agora não tem mais volta.

Cheguei mais perto, amparada pelo desejo ardente, de saborear seus lábios provocadores. Em questão de segundos, suas pernas abriram, concedendo o espaço necessário, então me lancei em direção à sua boca que se abriu em um sorriso radiante e encontrou violentamente meus lábios, de modo que nada mais importava.

Para minha surpresa, o beijo tomou outra proporção quando suas mãos ásperas percorreram minha nuca e se fixaram em meu cabelo. Cada toque dos seus lábios era como uma chama que queimava dentro de mim, consumindo-me com uma intensidade avassaladora. O nó na garganta apenas evidenciava a perigosa sensação de o ter ao meu lado.

Sua língua abriu o caminho para me seduzir, com mais facilidade que o esperado, abrindo espaço para que eu vivenciasse o momento mais arrebatador que eu jamais poderia imaginar.

Eu preciso dele.

Minhas mãos desalinharam seu cabelo ondulado e seu cheiro que era uma mistura de âmbar e couro, me lembrava que, assim que aquele momento acabasse, eu estaria encrencada.

Tínhamos uma química indiscutível, eu não precisava me preocupar com a possibilidade de algo dar errado ou se aquela intensidade acabaria. Meu único dilema seria como sobreviver sem essa sensação nos meus dias.

Nos afastamos por alguns instantes para recuperar o fôlego, e eu aninhei meu rosto em seu pescoço, apreciando sua respiração ofegante normalizar. Fiquei tão envergonhada que não quis mais sair da posição, após alguns segundos ele cravou seus dedos no meu cabelo e me trouxe novamente à sua vista.

—Espero que a mão que está no meu cabelo não seja a que estava sangrando, agora pouco — Expressei sorrindo na intenção de ofuscar meu rosto corado, precisava quebrar o clima que pairava no ar.

—É mesmo!?

Ele fez uma expressão travessa e, com a mão machucada, tentou passar pelo meu rosto. Segurei suas mãos imediatamente e ambos caímos na risada. Era a primeira vez naquela noite que o clima não estava tenso e pesado.

E como eu adorei ouvir aquela risada.

Com uma de suas mãos ainda na minha nuca, ele iniciou uma série de selinhos que rapidamente se transformaram em um beijo quente. Como se conhecesse perfeitamente cada centímetro do meu corpo, de maneira que parecia pertencê-lo. Seus toques estavam cada vez mais intensos e eu sabia que eu precisava parar por ali.

—Eu sei que sou irresistível mas precisamos parar— A expressão desapontada me seguiu — Não faça essa cara, ainda estamos em uma igreja. E eu sei que não estou com muita moral, mas sou moça de família.

—Quem começou a brincadeira foi você — Sussurrou com uma careta travessa —Não seja chata, minha majestade. Sempre vou respeitar os limites que você impor.

—E eu nunca passaria desses limites antes de casar, que fique bem claro. Não sei onde estava com a cabeça, não sou assim. — Exclamei — O grande Mumuzy me ensinou que ninguém pode usufruir do meu corpo nu, se não aceitar minha alma por completo.

— Eu vou casar com você, Ella. Você vai ser a esposa gostosa que eu exibirei para os meus amigos.

— Você sabe que a maneira como você flerta é vergonhosa?

— Tudo bem, palavras não são o meu forte — Disse o cara roubando um selinho. 

Arkalis: O sangue realOnde histórias criam vida. Descubra agora