Confinados e constrangidos: A saga no buraco #2

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Tudo parecia muito irreal, e nem era a primeira vez que tinha um cadáver diante dos meus pés, a única diferença é que o corpo não era do meu pai. Depois de sua morte tudo começou a desandar, eu não tinha mais apoio nenhum, dinheiro, bens ou amor.

Que saudade do meu ferreiro.

Minha cabeça doía intensamente, eram tantos questionamentos, teorias e o som dos gritos de pavor do homem em minha mente que simplesmente perdi o controle.

Esqueci completamente do risco de estar imóvel frente a uma cena de crime, eu estava completamente paralisada. Até que senti duas mãos grossas e ásperas tocarem minha cintura violentamente e em fração de segundos me encontrar contra a parede, com uma mão em minha boca e a outra a segurar meus braços, de forma que não importava o tanto que me retorcia, eu não conseguia sair. 

Por que eu tinha que ser tão idiota a ponto de sair do esconderijo precocemente?

Fiquei com medo, mas novamente o impulso de sobrevivência estava ativado em meu corpo e dessa vez, mais intensamente. Não era a primeira situação estressante que experimentava, obviamente, nada tão grave como ser agarrada em uma cena de crime e estar indefesa.

Eu sabia me defender e já havia feito isso antes com homens maldosos,  ainda que não desse certo, estava determinada a tentar. 

— Não grita — Sussurrou em meu ouvido uma voz seca, calorosa e perfeitamente audível, a voz me fez sentir calafrios em todos os lugares do corpo. — Fica quieta e então poderemos conversar.        

E era óbvio que eu jamais iria gritar, eu sabia que gritar em um porão seria inútil, eu ouvi os gritos do homem, tive que ouvir mas ninguém apareceu para socorrer ele.

Minha sorte era que sempre carregava um punhal, nesse momento,  estava caído no chão a alguns metros da parede. Se a necessidade de garantir minha própria existência acarretasse na extinção de outra, não pensaria duas vezes antes de fazer o que precisava ser feito.

Já tinha um morto no local qual o problema em ter mais um?

—Fica tranquila, nada vai acontecer aqui. Eu estava me escondendo dos homens que mataram  o desembargador.

    A voz não se parecia com as de antes, mas eu não iria arriscar mais uma vez. Não era preciso esperar muito tempo para perceber que  teria uma oportunidade de mudar o cenário.

Assim como o previsto, em um pequeno intervalo de tempo o homem abaixou a guarda, sem pensar duas vezes, assim que folgou a mão,  mordi seu braço com força e tentei correr o mais rápido possível em busca da arma.

—Eu não vou te deixar me matar como fez com o pobre homem! — Estava completamente fora de si e meu coração estava muito acelerado.  — Antes que eu morra, te levarei junto.

Torci para que ele não percebesse o meu nervosismo e que meu corpo não falhasse. Consegui chegar no lugar que o objeto estava caído,  com o punhal em mãos e a habilidade que meu pai deixou para mim, nada iria me deter.

O homem resmungava da mordida de costas para mim e rapidamente  cheguei mais perto e o presenteei com um punhal no abdômen, ele era alto o bastante para alcançar seu pescoço, mas não o suficiente para impedir de me proteger.

— Vai me dizer quem é ou vai esperar ser morto, como o amigão ali? — Minha voz se assemelhava à da madame que esteve antes no mesmo ambiente e isso me desestruturou, não estava brincando. — Quer ter o mesmo fim?

— Olha lá!

O homem me distraiu de tal forma que assustei e com um tapa o punhal foi arremessado para o outro lado da sala.

Quanta estupidez cair em uma situação dessa!

— Não se aproxime de mim, estou sem o punhal mas ainda assim eu sei lutar!

— Eu só quero conversar, juro. Não vou te fazer mal.

O homem tentava se aproximar de todos os modos, com as mãos pra cima, sempre em uma distância segura, a todo momento tentava dialogar, mas eu seguia ignorando suas palavras e andávamos em círculos.

Ele não se aproximou do punhal, e isso me intrigou. Contudo, começou a desrespeitar o limite que visualmente eu impus. Dei um chute que deveria pegar em suas bolas, mas não chegou nem perto, o indivíduo era uma muralha e no fim, o meu pé que estava dolorido.

— Olha só, eu não vou te bater, nem nada que esteja pensando. Eu entendo o receio mas me escuta por um segundo, de preferência sem tentar acabar com a minha chance de ter filhos.

—  Eu não vou parar, fique longe de mim.

Comecei a lutar com o cara, que por alguma razão só se defendia e não me deu um único golpe.  O homem era grande e eu estava em desvantagem, ele poderia facilmente acabar comigo, a julgar pelo desenho contornado de seus músculos.

Ótima hora para reparar isso, senhor estrogênio!

—  Por que não me dá a chance de explicar?!

Olhei pro chão e percebi que o punhal estava perto, então me esforcei o máximo para alcançá-lo e fiz um corte na sua mão.

— Qual o seu problema?! —  Exclamou o homem enquanto levava suas mãos à blusa que posteriormente ficou ensanguentada.

— Você não viu nada! — Berrei e depois o empurrei com toda a minha força, porém, eu não contava com o fato do empurrão ter algum efeito, para a minha surpresa, o cara foi na direção do armário que desabou em cima do morto.

Ainda bem que já tava morto, né?

    De repente, após o barulho do armário ouvimos vozes vindo da escada. O desespero estampou o meu rosto, o homem agarrou meus cabelos e me puxou para o fundo da sala onde havia uma espécie de calabouço.

— Parabéns! Você conseguiu o que queria. Entre antes que os caras voltem e eu me arrependa.

Envergonhada e assustada, entrei no buraco do chão e o homem também, logo após, ele fechou a báscula e permanecemos encolhidos em uma posição desconfortável, próximos até demais.

Arkalis: O sangue realOnde histórias criam vida. Descubra agora