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◜se for preciso, eu giro a Terra inteira
até que o tempo se esqueça de ir pra frente e volte atrás
milhões de anos, quando todos continentes se encontravam
pra que eu possa caminhar até você◞
— partilhar canção de rubel feat. anavitória.

Kelvin sempre soube que não conseguiria estar sempre com a avó, mas agora ali, de volta à Nova Primeira, quase podia afirmar que o ar da cidade mudara.

Estava no bar conversando com as meninas. Berenice parecia radiante por ter o melhor amigo de volta, e ele acabou ajudando em uma coisa ou outra, como quem é incapaz de ficar sem trabalhar. Até a louça lavou, e isso parecia conquistar até Zéza.

Apesar do clima mórbido junto à família La Selva, o resto da cidade seguia suas vidas normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Quando se vive plenamente e se faz o bem aos que estão à sua volta, ou pelo menos não se atrapalha a vida alheia, sua ausência é dolorida para quem fica. Agora, quando se vive apenas para si mesmo, sua falta não é notada. Foi o que Kelvin percebeu quando chegou à Nova Primeira. Todos já sabiam do que aconteceu com Antônio La Selva, e ele pensou ter visto até certo alívio no olhar de um ou outro cliente do bar.

No fundo, era triste. Mas o Karma também funciona assim.


Ramiro estava exausto e mal havia chegado à mansão. 

Foi informado que Irene partiu, aparentemente para a casa de algum parente para lidar com o luto pela morte do marido. Ramiro achou que fosse melhor assim, a viúva nunca foi muito sua fã e ele tinha coisas demais para se preocupar.

— Sinto muito pelo que aconteceu, Ramiro.  

A voz de Hélio o arrancou dos pensamentos, erguendo os olhos dos papeis a sua frente. O cunhado era jovem como Petra, mas sempre trabalhou e Ramiro gostava disso. Era estudado, tinha jeito com as pessoas e tinha uma certa luz muito parecida com a irmã.

— Tudo bem.... Sinceramente, estou mais preocupado com tudo que temos para resolver aqui.

Ele sorriu. Estava cansado de fingir que sentia muito pelo ocorrido, sinceramente estava disposto a seguir dali para frente. O funeral do pai foi simples e bastou. Quando a última rosa caiu sobre o túmulo de Antônio La Selva, um ciclo se encerrou.

— Estou aqui, se precisar de algo ou... — Hélio andava pelo escritório que antes foi de Antônio, como quem não sabe exatamente o que faz ali. 

— Na verdade, preciso. Sim.

Ramiro olhou para o cunhado como quem olha para uma luz no fim do túnel. O rapaz ficou desconfortável com o peso do olhar, até que Petra entrou no escritório. Olhou do marido para o irmão, e depois do irmão para o marido.

— O que está acontecendo aqui?

— Hélio estava me dizendo como ficaria feliz em assumir as fazendas.

Ramiro falou de uma vez, e Hélio engasgou na mesma hora. Petra foi até o marido, dando tapinhas em suas costas. O rapaz tirou os óculos e encarou o mais velho, sem entender o rumo da conversa.

Enquanto isso, Ramiro estava tão satisfeito com a ideia que sorriu, erguendo-se da cadeira que odivava.

— É isso. — apontou para os recém-casados. — Vocês vão assumir as fazendas, e eu vou ajudar, é claro. Mas sinceramente, não me vejo lidando com nada disso aqui.

karma | kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora