devagarinho 🔞

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◜é que eu vi Deus quando olhei nos olhos seus
fiquei com medo e resolvi me afastar
mas tudo mudou
e hoje eu aprendi rezar
visse morena, não é que Deus existe mesmo!
e Ele mora entre o meu e o seu olhar
— onde mora Deus canção de rodrigo alarcon.

As despedidas nascem quando dois corpos, que se atraem magneticamente um ao outro como ímãs, se lançam em direções contrárias, se afastando, tomando metros de distância até que não se pode mais ver com os olhos, apenas sentir. Sentir que, em algum lugar ao longe, aquela energia que te atrai continua presente, pulsando e viva.

Ramiro sabia que estava deixando algo importante escapar por entre os dedos, sabia que sua existência dependia daquele momento, sabia que doeria. Mas, ainda assim, abriria mão. Era como se algo dentro dele dissesse que tudo bem, tudo bem aquela parte de si que vive em outro corpo se afastar dele, ir embora, porque muitas vezes antes isso já aconteceu o mesmo, mas o final era sempre o mesmo.

Ele sempre voltava. Sempre.

Quando ouviu as palavras de Kelvin, Ramiro parou. Engoliu para si tudo que sentia, tudo que queria dizer e não conseguia. Ele afastou as mãos do menor, lentamente, dando a ele a chance de fazê-lo voltar. Mas Kelvin não o fez, apesar do olhar de súplica.

Em nenhum momento, desde o penhasco, achou que o homem à sua frente havia morrido. Mas também, enquanto dirigia até ali, não achou que poderia tê-lo para sempre. Durante as horas sem notícias, Ramiro o sentia, sabia que estava vivo. A essa altura, Ramiro estava mais confiante em seus instintos, nas vozes que moravam dentro dele e que diziam o caminho que ele deveria seguir.

— Sim. — ele assentiu, secando as lágrimas com as costas da mão. — Sim, você deveria.

Ele notou o momento em que Kelvin franziu o cenho.

A vontade de Ramiro era tomar Kelvin em seus braços, protegê-lo do mundo, fazer um altar em devoção ao que sentia, fugir com ele para longe, onde nada nunca poderia causar tanto medo nele quanto o de perder o ruivo à sua frente.

Mas sabia, no fundo, que Nova Primavera não ofereceria nada de bom a Kelvin.

Ramiro fez uma renúncia.

Kelvin voltou a se aproximar dele, segurando o rosto do maior entre as mãos. Não entendia o que estava acontecendo, ainda que tivesse certeza de que as palavras haviam saído de sua boca, ele não entendia o que Ramiro estava fazendo.

Não queria ir embora, mas sentia que era necessário. Não queria que o outro o quisesse longe. Aquilo doía mais do que a própria partida.

— Você quer que eu vá embora?

Kelvin se sentiu um tolo assim que as palavras saíram, e Ramiro riu. Ele riu de uma forma triste que fez Kelvin se despedaçar por dentro em mil pedaços.

— Não, não é o que quero... — ele negou com a cabeça. — Ah, Kelvin... Se você soubesse o que eu realmente quero...

A voz saiu carregada de desejo, não apenas sexual, mas de vida. O maior o puxou pela cintura, colando o corpo no dele com certa força, cravando os dedos na pele macia sobre a roupa. Kelvin suspirou, puxando o ar quando seu corpo se arrepiou com as simples palavras, pelo simples fato de estar nos braços dele. Um dia antes, achou que jamais sentiria isso novamente.

— Mas então...

— Você precisa ir. — Ramiro se inclinou, tocando suas testas. — Antônio continua solto, Kelvin. Ele está por aí, foragido. Se ele voltar, se ele tentar algo novamente eu... eu não vou errar o tiro dessa vez.

karma | kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora