Convivência Forçada

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Eu aguardava no saguão silencioso do prédio de apartamentos luxuosos onde Giovanna Marinho residia. Era cedo, pouco depois do entardecer, e a tranquilidade da noite contrastava com a tensão que eu sentia. Cada segundo era uma contagem regressiva até a chegada da minha mais nova protegida.

O prédio exalava opulência, desde o mármore polido no chão até as obras de arte nas paredes. Era o tipo de lugar onde os problemas eram resolvidos com dinheiro e influência, um ambiente que não deixava espaço para erros quando se tratava de segurança. Ali notei que minha presença pouco seria necessária, haviam seguranças por toda a parte desde a entrada do condômino extremamente privado até os jardins das casas e prédios pela qual ele era composto.

Finalmente, depois de longos minutos Giovanna apareceu. Descendo as escadas com uma leveza que parecia contradizer a situação séria que exigia minha presença. Seus belos cabelos encaracolados estavam presos no topo da cabeça e outra metade deles soltos, ela usava um conjunto jeans que parecia deslocado naquele cenário de riqueza onde todos passavam de terno ou vestidos elegantes mesmo estando em suas casas, e expunha sua jovialidade. Estava e era uma jovem muito bonita e autêntica, não pude deixar de notar.

"Fernanda, você por aqui tão cedo? Se soubesse tinha deixado a mesa do café da manhã posta para tomarmos juntas.", perguntou Giovanna ao me notar de pé na saída do prédio, com um misto de surpresa e deboche, como se minha presença pontual fosse uma inconveniência. "Achei que guarda-costas só aparecessem quando há perigo iminente."

"Ótima piada, mas já é noite. Meu trabalho é garantir sua segurança em todos os momentos e sou pontual com meus deveres, senhorita.", respondi calmamente, mantendo minha postura profissional enquanto observava cada movimento dela.

Ela revirou os olhos, claramente contrariada. "Não preciso de uma babá, Villa. Já disse ao meu pai que posso cuidar de mim mesma, que inferno."

Seguimos em direção à saída do prédio, em passos rápidos, eu um passo atrás dela, sempre alerta para qualquer sinal de perigo. Giovanna estava brava, era una jovem impetuosa, características que poderiam torná-la tanto um desafio pessoal para mim quanto uma vulnerabilidade no profissional. Ela facilmente se colocaria em perigo devido unicamente a sua teimosia.

"Veja senhorita. Eu entendo suas preocupações, já fui uma jovem da sua idade querendo viver as aventuras da vida e sei como é querer ter privacidade, viver como os jovens normais vivem e não poder. Meu pai possuía cargo de risco na segurança do país, protegia o presidente da época pra você ter noção, e viviamos em constante vigilância por isso até ele se aposentar e as coisas ficarem mais tranquilas.", comecei, escolhendo minhas palavras com cuidado para não parecer invasiva ou íntima demais. "Meu dever é garantir sua segurança em todas as circunstâncias, mas como te falei, alguns momentos de privacidade não serão retirados de você, eu vou estar por perto sempre, mas em alguns eu serei tão discreta que você nem vai notar ou se sentir vigiada por mim."

Ela bufou, virando-se para me encarar com um olhar desafiador. "Eu apenas não pedi por isso, Fernanda. Eu sou adulta, tenho vinte e cinco anos e preciso viver sobre as leis do meu pai o tempo todo, como se tivesse uns cinco apenas, tudo por causa dessa droga de vida que ele escolheu ter. Não é algo pessoal com você, eu só não quero você ou qualquer subordinado do meu pai me rodeando o tempo todo."

Respirei fundo, mantendo minha calma. "Não estou aqui para invadir sua privacidade, isso já deixei claro e não vou mais explicar. Meu objetivo é apenas assegurar sua segurança, trabalho mais para você e pela sua vida, que para o senhor Rodrigo. Sei que vai tentar muito pra que isso aconteça, mas não vou desistir dessa missão, já passei por coisa muito mais séria que uma jovenzinha rebelde, então espero apenas que possamos encontrar um equilíbrio."

On Guard | PitandaOnde histórias criam vida. Descubra agora