Prólogo

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Alanis chorava aos pés do caixão de Theo como nunca havia chorado em sua vida inteira. Era como se tudo que ela havia vivido nos últimos 3 anos estivesse escapando por suas mãos. Não só o que ela havia vivido, mas todo um futuro, todo um planejamento, toda uma vida, que passaria ao lado da pessoa que jurou amor eterno. Ela não podia entender como aquele dia, que havia começado como um dia maravilhoso, havia se transformado em uma grande tragédia.

Às 00:11 daquela sexta-feira, Alanis se ajeitava nos mais minuciosos detalhes olhando para o enorme espelho de seu banheiro. O brinco longo de correntes prata que Theo havia dado a ela em seu aniversário de 28 anos combinava perfeitamente com a aliança de prata na mão esquerda de Alanis. A jaqueta rosa bebê que era usada por cima de uma camiseta preta trazia um belo contraste combinada aos cabelos terrivelmente pretos da garota. Mesmo estando em uma situação um tanto quanto especial, Alanis não largara de lado o seu Converse de cano alto, que mesmo um pouco velho ainda trazia um estilo mais "Alanis" para o seu look. Era a quinta vez que penteava o cabelo em uma direção diferente, tentando esconder um redemoinho que insistia em ficar à mostra.

Após checar seu hálito pela 13ª vez e borrifar o seu perfume mais caro 5 vezes em todo o corpo, a garota saiu de casa. Trancou a porta, sentia suas mãos tremerem. Alanis propriamente não sabia o porquê de estar tão nervosa. Aquele era só mais um encontro, com a pessoa com quem ela se encontrava há exatamente 3 anos. Mas era assim. Toda vez que ela estava próxima de encontrar o homem que amava, suas mãos suavam, seu coração acelerava, e ela sentia exatamente a mesma sensação de euforia que sentiu ao ser beijada pelo garoto pela primeira vez. Era Theo a razão de sua euforia. 

Desceu as escadas vazias do prédio, e ao chegar no estacionamento tentou abrir seu carro com a chave do apartamento. Inspirou por 5 segundos, e soltou em 8, suas mãos pararam de tremer, e a garota finalmente conseguiu achar a chave certa. Abriu a porta do carro e se sentou vagarosamente. Olhou para o painel, faltavam apenas 20 minutos para o horário que Theo a dera para chegar ao local. As instruções dele haviam sido bem específicas quanto ao horário e local:

"Olá, razão dos meus mais sinceros sorrisos. Acho que você se lembra que nesta sexta-feira nós completamos 3 anos de namoro. Se não fosse muito incomodo para vossa senhoria, gostaria de lhe solicitar presença nesta mesma data para um cortejo de teu agrado. Por favor, esteja presente na praia dos sonhos, às 00:53 em ponto - nem mais cedo, tampouco mais tarde.

Traje: despojado, porém elegante, entende?

De: um minerador de sorte

Para: a jóia mais preciosa deste mundo"

O bilhete guardado no bolso de Alanis parecia ter saído diretamente do século XVI, mas era só uma forma - que Alanis achava a coisa mais fofa do mundo - que Theo encontrava para se expressar sem se atrapalhar.

Alanis virava à esquerda a 3 quarteirões da praia, quando se deparou com uma viatura policial. Mesmo estando com todos os documentos em dia, e não estando transportando nenhum tipo de droga ilícita, o que menos queria naquele momento era ser parada pela blitz. Pediu tanto, mentalmente, para que isso não acontecesse, que Nossa Senhora Dos Pedidos Invertidos o ouviu, e o policial a parou no mesmo instante. Alanis encostou o carro, impaciente.

— Documento do carro e habilitação por favor. — O policial disse com um tom de voz desinteressado. Alanis colocou a mão no porta-luvas do carro. Por um momento uma imagem nítida de sua carteira em cima da mesa da sala de jantar passou por sua cabeça, junto com o desespero do que aconteceria a seguir. 

 — Acho que esqueci em casa… — Alanis foi capaz de unicamente olhar para o policial, levantar as sobrancelhas e sorrir desesperadamente.

— Eu lamento, mas não posso fazer nada por você, terei que apreender seu carro, senhori… — Antes de sequer pronunciar o final da palavra, um carro passou pela faixa contrária da rodovia, numa velocidade de no mínimo 120 km/h. Alanis teve menos de um segundo para parar de tremer, puxar o máximo de ar que conseguia, e em um ato impulsionado pela adrenalina, se aproveitou da distração do policial em parar o que aparentava ser um fugitivo. Ele não percebeu quando Alanis girou a chave do carro, e deu a partida em um piscar de olhos.

A jovem sabia que teria que arcar com as consequências daqueles atos mais tarde, mas também sabia que dentre todas as suas prioridades, a mais importante, era Theo. Respirou fundo. O painel do carro marcava 00:50. Com a velocidade que dirigia para não ser barrada novamente, em menos de 1 minuto se encontrava estacionado em frente à praia. O som do mar batendo às rochas sempre trouxe tranquilidade a Alanis — mesmo com o fato de ela sempre ter morado no litoral —, mas no momento ela só conseguia sentir euforia. Única e exclusivamente euforia.

Ao se dar conta de que já eram 00:52, a garota repetiu seu exercício de respiração e se preparou para sair do carro. Encostou a mão na maçaneta da porta, mas antes que fizesse qualquer movimento, a porta abriu, e revelou a luz mais brilhante que Alanis já havia visto em sua vida. O sorriso que era capaz de trazer luz a qualquer dia sombrio, os olhos que a faziam mergulhar numa profundidade superior à do oceano. 

O primeiro, único e verdadeiro amor de sua vida. Neste momento não havia mais nenhuma preocupação, nenhuma ansiedade, nenhuma dor, só existia uma coisa que importava no mundo todo, e essa coisa estava diante de seus olhos, sorrindo como se tivesse acabado de encontrar o mais precioso tesouro do mundo todo. E de fato, havia.

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