capítulo 10

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Encarar os olhos de esmeralda foi quase impossível. O barulho incômodo na Taverna foi de repente silenciado por um breve momento, como se não existisse mais ninguém ali, apenas nós duas. Eu ainda podia sentir o toque morno de sua mão vestida apesar disto, mas podia admitir que quase não era perceptível.

Senti minha própria mandíbula soltar um pouco, deixando minha boca um pouco entreaberta para respirar melhor. Mas, afinal, por quê?

— Lisa... — Comecei a falar, mas falhei em terminar a frase. Senti o aperto em minha mão ficar ainda mais firme, como se estivesse me garantindo que eu não iria ficar sozinha.

— Jean, não é a sua culpa. Além do mais, é melhor termos este rapaz debaixo do nosso nariz. O que ele poderia acabar fazendo se não fosse supervisionado por nós? — Ela falou novamente com aquele maldito tom doce. Poxa vida, eu comecei a ficar nervosa de repente.

— D-de fato, sim... Acho melhor aumentar a quantidade de guardas na biblioteca. Principalmente na parte do cômodo onde ele está tentando acessar. — Tropecei um pouco na minha própria fala, sentindo meu rosto esquentar com a minha própria fraqueza. Sentimentos e pensamentos confusos em um lugar turbulento definitivamente não combinam.

Escutei uma risadinha de Lisa, antes de sentir sua mão soltar a minha.

— Você me parece um pouco tensa. Algo de errado? — Disse a bruxa, o canto de sua boca levemente puxado para cima. Talvez evitando de demonstrar que estava se divertindo com a situação toda.

— Nada, nada... deve ser a cerveja. — Ela gargalhou ainda mais, levando a mão à boca.

— Mas, Jean... nem bebemos ainda! — Eu congelei com as palavras dela, dando um tapa em mim mesma mentalmente. Eu comecei a me constranger de vergonha novamente, bufando.

— Agh, você entendeu o que eu quis dizer! — As gargalhadas continuaram por alguns segundos, antes do garçom chegar, colocando os dois copos cautelosamente para não derramar a bebia alcoólica.

Lisa e eu brindamos, bebemos e sorrimos. Talvez a situação toda não fosse tão ruim, afinal. Claro, para pôr mais diversão na noite, pedimos mais dois copos de cerveja, aumentando levemente as brincadeiras.

Paguei a minha parte e ela a dela, logos saímos, não cambaleando, mas esbarrando nossos braços um no outro. Em alguma rua um pouco menos movimentada de Mondstadt, me escorei na parede, ofegante de tanto rir.

— Lisa, pelos Arcontes, minha barriga está doendo de tanto rir! — Gargalhei com as bochechas doendo de tanto sorrir e, aparentemente, Lisa estava na mesma emoção. Ela também se escorou na parede, gargalhando.

— Mas quem está rindo das minhas piadas é você! — Riu mais uma vez, antes de suavizar o olhar. Seu riso diminuiu um pouco, entretanto, não deixou de sorrir. Com um tom mais leve, voltou a falar. — Eu poderia te beijar agora. — Seus olhos me encararam fixamente, esperando uma reação.

Eu congelei, virando lentamente meu rosto para ela. Eu ouvi direito? Sempre escutei flertes e flertes, mas nada soou tão real quanto este. Senti a minha bochecha começar a formigar, que bizarro! Eu tinha certeza que a cerveja não produzia este tipo de efeito nas pessoas. Certo?

— ... O que você disse? Hehe... — Me fiz de boba, diminuindo meu riso também. Ela manteve aquele sorriso característico fixo, e o olhar não deixando meu rosto. Ela estava embriagada também. Mas as palavras... estas palavras me pareciam muito sóbrias.

— Eu disse que poderia te beijar agora. Não finja que não me ouviu, Jean. — Disse ela, endireitando a postura. Deu um passo à frente, me fazendo ficar em postura também.

— Eu adoro rir com você, mas acho que já está na hora de sermos reais uma com a outra. Ouvi você balbuciar algumas palavras baixas sobre procurar alguém, que, talvez, fosse ajudar você com a sua solidão. De tantos homens, eu queria ser a mulher que tornaria seus desejos uma realidade. — Seus olhos verdes não deixaram os meus. Outro passo, ela se aproximou mais. Fiquei nervosa. Depois de tanto tempo sendo confiante, senti minha dureza ser quebrada como uma casca de ovo, revelando uma gema mole. É a bebida, é definitivamente a bebida!

— Essa coisa de me contratar pra trabalhar ao seu lado, para me ver mais vezes... Não vou negar que sempre tive um interesse maior por você. Mas, você, tendo um interesse maior por mim de um momento para outro? É diferente para dizer o mínimo. — Ela deu o último passo, ficando exatamente na minha frente. Seu olhar perfurou a minha alma e eu engoli seco, suas mãos vagando para segurarem as minhas.

— Jean... — Ela falou mais baixo — O que você pensa sobre mim? — Inclinou levemente a cabeça para o lado, me analisando. Eu não soube responder.

Quero dizer, claro... Lisa sempre foi uma pessoa muito importante na minha vida. Não só companheira de trabalho, mas uma amiga. Uma das únicas pessoas em que posso confiar. As palavras que deveriam ter saído de minha boca, eram: "Você é uma amiga incrível, uma colega definitivamente competente e sociável. Uma das poucas pessoas em que eu posso ser eu mesma quando converso." Mas, ao contrário, as palavras foram engolidas pelo silêncio da rua.

Minha mente ficou em estado de choque. Logo eu, sempre pronta para a maioria das situações, não esperava por tais palavras. Eu tentei tirar algo do cérebro, mas meu coração estava batendo mais forte.

— L-Lisa, eu... — Fui cortada com a boca dela em contato com a minha.

Simplesmente.

O quê?

Meus olhos ficaram arregalados, totalmente chocados e sem reação. Não tive tempo de realizar qualquer ação, pois Lisa se afastou rapidamente com um sorrisinho no rosto.

— Espero que isso te ajude a pensar. — Ela piscou, se afastando e caminhando embora.

— O dia foi ótimo, devemos fazer isso mais vezes. Te vejo amanhã! — Acenou, sem nem mesmo me olhar. Ela só... me deixou, sozinha, mas não tão só, pois eu estava rodeada de pensamentos. O que diabos acabou de acontecer?

Toquei minha boca com a ponta dos dedos, esfregando suavemente o lábio inferior. Estou alucinando, tenho certeza. Foi a bebida! Foi... foi realmente a bebida?

Eu nem sequer respondi, apenas fui para a minha casa. Lisa tinha ações estranhas às vezes, mas nunca esperava por isso. Admito, não estou incomodada, mas... é estranho. Eu não sei o que pensar. Ela deve estar embriagada, não tem outra explicação lógica para isto...

Distraída, jurei ter sentido algum tipo de presença ao meu redor. Olhei rapidamente, não muito preocupada com isto, mas altamente confusa mentalmente com a minha situação, e só saí dali. Eu precisava pensar, e muito.

Será que... esse é o meu destino? Ainda tinha muito a pensar. Só queria ir para casa, e assim fiz. Me deitei, olhei para o teto e tentei adivinhar o que sentia.

— "Espero que isso te ajude a pensar", ela falou... Que coisa mais louca. Lisa é louca. — Falei comigo mesma, colocando uma mão sobre o peito.

— Mas talvez eu seja mais. Meu coração não está de acordo com as minhas palavras. Então, por quê? Isso... isso é estranho. — Murmurei, me virando de lado.

Eu fechei os olhos, deve ser a bebida.

Eu espero que seja a bebida.

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GENTE, MEU DEUS! Eu acabei parando, mais uma vez, por falta de criatividade. Admito que parei de jogar Genshin há um tempo, mas ainda adoro este casal. Não vou parar de escrever, não se preocupem... mas as ideias fogem de vez em quando.

Mas, e aí, ficaram surpresos? Espero que sim. Não se enganem, esta história terá outras surpresas... 😉

Beijos da autora. 🌹

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⏰ Última atualização: Sep 17 ⏰

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Poção Incurável - Lisa e JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora