Em uma noite de lua cheia, quando os murmúrios da vila se misturavam ao vento gélido, Seraphina fez um juramento silencioso sob a árvore antiga atrás da antiga casa de Zara . Ela ergueu os olhos para o céu estrelado e clamou por Lilith, que agora se tornara sua única esperança. Já fazia um mês desde aquele dia, Seraphina estava se escondendo na floresta, ela estava suja e sem seu brilho
-Senhora Lilith.- ele murmurou, sentindo a presença sombria ao seu redor. -Eu lhe rogo, conceda-me uma oportunidade de reencontrar Zara. Estou disposto a sacrificar minha vida, minha alma, tudo o que possuo, se ao menos pudesse vê-la novamente. Ela era sua filha; permita-me buscar justiça em seu nome.
O vento parecia sussurrar em resposta, como se a própria natureza estivesse atenta às suas palavras desesperadas. Seraphina sabia que tinha evocado algo poderoso, algo que exigiria um terrível tributo pela sua promessa. Contudo, não podia recuar agora; a imagem de Zara queimando na fogueira ainda assombrava seus sonhos, e ela estava decidida a enfrentar qualquer consequência para corrigir tal injustiça.
Assim, sob o silente olhar das estrelas, Seraphina firmou um pacto com Lilith. Ele se tornaria seu servo, seu instrumento na busca pela reencarnação de Zara. A maldição se intensificou ao seu redor, transformando seu semblante jovem em algo marcado pela dor. Contudo, ela estava determinada a cumprir sua promessa, mesmo que isso significasse atravessar os séculos vindouros em busca da redenção perdida. Mas antes, ela faria com que os habitantes da vila pagassem por seus crimes.
-Você cometeu um ato que não deveria, jovem.- a voz de um homem foi ouvida como um sussurro perdido. -Minha filha não aprovaria isso.- Seraphina reconheceu a voz como sendo a de Kailander. -Ela não é confiável, você cometeu um erro grave.
-Fiz o que era meu dever.- respondeu ela firmemente. -Eu a amava profundamente e a perdi por causa de pessoas maldosas que só queriam um bode expiatório.
-Mesmo diante de tal injustiça, o que você fez não é justificável. Você jurou vingança, isso só lhe trará mais sofrimento.
-Eu sei- murmurou ela, incerta se o homem a ouvira. -Onde você está? Só consigo ouvir sua voz.
-Oh, jovem, ela me castigou; não posso mais viver entre os outros. Você se assustaria se me visse, ela me culpa, assim como culpa a você.
Seraphina sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando as palavras de Kailander se dissiparam no ar frio da noite. Ela sabia que seu pacto com Lilith não era algo para ser tratado levianamente; tinha aceitado as consequências, mas agora precisava focar em sua missão. A vingança que jurara não seria simples nem rápida, mas ela estava decidida a torná-la realidade.
Nos dias seguintes, um medo crescente começou a se espalhar pela vila. Os eventos inexplicáveis, os sonhos atormentados e os murmúrios de uma presença sombria pairando sobre a comunidade alimentavam o pavor. Seraphina, agora uma ferramenta de uma força além da compreensão humana, começou a urdir sua vingança.
Ela começou pelos líderes da vila, aqueles que permitiram e até aplaudiram a execução injusta de Zara. Um por um, eles experimentaram a manifestação do sofrimento de Seraphina. Suas vidas foram transformadas em um inferno de pesadelos e tragédias, enquanto Seraphina desencadeava os poderes sombrios concedidos por Lilith. Todos morreriam da pior maneira possível.
Os habitantes, antes unidos em sua condenação de Zara, agora se voltavam uns contra os outros, em suspeita e paranoia. As colheitas falhavam, as crianças adoeciam misteriosamente, e o desespero começava a corroer as fundações da vila. Seraphina observava tudo isso com um misto de satisfação e tristeza; cada ato de vingança a aproximava de seu objetivo, mas também a afastava mais de sua própria humanidade.
Em uma noite especialmente escura, quando a lua estava encoberta por nuvens pesadas, Seraphina visitou Kailander. Ela o encontrou em sua cabana isolada, um homem envelhecido e amargurado pela culpa que carregava, seu corpo e rosto desfigurados. Ele a encarou com olhos cansados, reconhecendo o peso da tragédia que ambos compartilhavam.
-Você acredita ter trazido justiça, Seraphina?"- ele perguntou com voz rouca.
-Não é justiça que busco, Kailander. É vingança- respondeu ela com frieza cortante.
Kailander suspirou profundamente.
-Está perdendo sua alma por isso. Ela não teria desejado isso.
-Eu não tenho mais alma, Kailander. Entreguei tudo a Lilith- retrucou Seraphina, sua voz ressoando com uma determinação macabra.
O homem balançou a cabeça tristemente.
-Então tudo está perdido, para todos nós.
Com essas palavras sombrias ecoando em seus ouvidos, Seraphina o abracou, um abraço de conforto e depois deixou a cabana, deixando Kailander para enfrentar seu próprio tormento. Ela sabia que a vingança não traria paz, apenas mais dor. Mas enquanto as chamas da vingança ardessem em seu coração, Seraphina continuaria sua jornada sombria, uma figura envolta na escuridão que ela mesma evocara, em busca de uma redenção que talvez nunca encontrasse.
Nos dias seguintes, o peso de suas ações começou a se manifestar de maneiras insidiosas. À medida que a vila mergulhava mais fundo na desordem e no desespero, Seraphina percebia que a vingança, mesmo que justificada em seu coração, cobrava seu preço não apenas dos culpados, mas de todos ao redor. Cada ato sombrio que executava em nome de Zara a distanciava mais da própria humanidade que um dia possuíra.
O tempo passou implacavelmente, deixando Seraphina marcada não apenas pelo pacto com Lilith, mas pelas cicatrizes emocionais de suas próprias escolhas. A vila, agora um retrato desolado de sua antiga harmonia, nunca mais seria a mesma. O medo e a desconfiança enraizaram-se profundamente, transformando o lugar outrora pacífico em um palco de sombras e suspeitas.
Em um momento de lucidez dolorosa, Seraphina viu refletido nos olhos dos habitantes o horror que ela mesma trouxera. O rosto de Kailander, agora solitário em sua cabana, assombrava seus pensamentos. Ele tinha sido um lembrete constante de que, às vezes, a busca por justiça pode se transformar em algo monstruoso.
No entanto, mesmo diante das sombras que ela havia desencadeado, uma centelha de arrependimento e redenção ainda brilhava dentro dela. Em meio ao caos que ajudara a criar, Seraphina encontrou-se questionando se a verdadeira justiça poderia ser alcançada através da dor e da ruína que deixara para trás.
À medida que as estações mudavam e a vila tentava se curar das feridas infligidas, Seraphina vagava pelos bosques circundantes, perdida em pensamentos sombrios e reflexões. Ela sabia que sua jornada não tinha um fim claro, apenas um horizonte indefinido de escuridão e culpa.
Assim, sob o olhar inescrutável das estrelas que testemunharam seu pacto inicial, Seraphina continuou sua caminhada solitária. A promessa de vingança, agora misturada com o peso da responsabilidade pelos destinos que alterara irreversivelmente, era o fardo que ela carregaria pelo resto de seus dias.
E enquanto a noite caía sobre a vila, os ecos dos eventos tumultuosos continuavam a reverberar entre as casas silenciosas, lembrando a todos que às vezes o preço da justiça pode ser mais alto do que qualquer um poderia suportar. Ela trouxe a vingança, mas o preço foi muito alto, seus dias eram infinitos, sua esperança quase morria, estava demorando demais para ela ter um pouco de paz.
1165 palavras
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Sombra De Fé
Fantasía|Concluída| Em um pequeno povoado cercado por tradições e fé, Seraphina , filha do respeitado pastor local, se envolve em um romance secreto com Zara, a filha do homem solitário que vive na colina. A cada domingo à tarde, eles se encontram em segred...