Capítulo 4 - Um Final Infeliz

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À medida que as décadas fluíam como água escura entre os dedos de Seraphina, o vilarejo virou uma cidade. Nunca encontrou uma sequer reencarnação de Zara, até que em uma tarde recebeu uma hóspede em seu hotel, Abigail era seu nome, assim que a viu ela sabia que era Zara, elas eram idênticas, e seu espírito brilhava em azul, a cor favorita de Zara.

A chegada de Abigail trouxera consigo um frenesi sutil, um vislumbre de esperança tingido de medo. Seraphina, sentia-se impelida a agir.

Abigail, uma jovem artista de espírito inquieto e olhos que pareciam vislumbrar um passado desconhecido, encontrou naquela pequena cidade não apenas um refúgio para sua criatividade, mas também um magnetismo inexplicável que a puxava para Seraphina. Ela sentia isso nos sonhos fragmentados, nas pinturas que fluíam de seus pincéis como se fossem memórias reprimidas.

Nas noites silenciosas, Seraphina mergulhava nos corredores sombrios de suas memórias, cada passo um lembrete doloroso da maldição que a assombrava. Ela sabia que qualquer tentativa de felicidade estava fadada ao fracasso, enquanto Lilith, com seu domínio implacável sobre o destino, tecia uma teia de dor e desespero.

Abigail, alheia às sombras que se desenrolava ao seu redor, dedicava-se às suas pinturas. Cada pincelada revelava figuras espectrais, rostos distantes e olhares perdidos que sussurravam segredos de um passado insondável. Seraphina observava de longe, sentindo o peso de séculos sobre seus ombros, sabendo que seu amor por Zara jamais seria libertado das garras do destino cruel.

Numa tarde, Seraphina finalmente decidiu revelar-se a Abigail. Encontrou-a na galeria local, diante de uma pintura que capturava a essência de um amor eternamente perdido.

-Abigail...- sua voz ecoou pelos cantos sombrios da galeria, carregada de uma mistura de emoções que a própria Seraphina mal compreendia.

Abigail virou-se lentamente, seus olhos encontrando os de Seraphina em meio à penumbra. Havia um reconhecimento silencioso, um entendimento profundo que transcendia o tempo.

-Quem... quem realmente é você?-, sussurrou Abigail, seu tom tremendo de emoção contida.

Seraphina deu um passo à frente, hesitante, seu coração apertando-se com a inevitabilidade do que estava por vir. Antes que pudesse responder, um arrepio sinistro percorreu a galeria, as luzes vacilaram como se o próprio espaço se contorcesse em antecipação.

Lilith, invisível aos olhos mortais, observava com prazer o desenrolar dos eventos. Seu riso ecoou nas sombras, uma presença que atravessava eras de dor e vingança. Mas nem Seraphina nem Abigail ouviram, absorvidas como estavam pelo drama de suas próprias vidas.

Subitamente, Abigail sentiu uma onda de perigo iminente.

-O que está acontecendo?- murmurou, seu olhar buscando desesperadamente entender.

Seraphina olhou para ela com uma tristeza profunda e um desespero palpável.

-Você não pode ficar aqui- sussurrou, suas palavras carregadas de resignação e pesar.

E assim, naquele momento fatídico, o inevitável aconteceu. Abigail, sem entender completamente o que estava em jogo, foi arrastada para um mundo de sombras e segredos milenares, onde o amor e a maldição teciam uma dança eterna sob o olhar implacável da eternidade.

Quando Seraphina finalmente ousou tocar Abigail, o destino implacável fez-se presente. Abigail esfriou-se instantaneamente, seus olhos perdendo o brilho azul que tanto lembrava Zara. Seraphina segurou seu corpo gélido, lágrimas escorrendo silenciosamente por suas bochechas, enquanto a luz da galeria enfraquecia ao seu redor.

E naquele momento de desespero e solidão, Seraphina compreendeu que estava fadada a essa tragédia. Sua maldição era uma tapeçaria de esperanças desfeitas, promessas não cumpridas e um amor destinado à eterna melancolia.

Lilith, observando de seu reino sombrio, saboreava a vitória amarga. Ela conhecia bem o poder de sua vingança, usaria Zara e suas próximas reencarnações como peões em seu jogo eterno de dor.

Assim, enquanto o mundo ao redor mergulhava na escuridão, Seraphina segurava o corpo sem vida de Abigail, ciente de que sua jornada solitária continuaria, marcada pela perda e pela eterna busca por redenção que jamais encontraria.

Lilith a culpava, ela nunca teria paz, qualquer reencarnação de Zara morreria assim que Seraphina a tocasse, assim como aconteceu com abigail acontecerá com as próximas, isso nunca terá fim, Zara poderia ser filha de Lilith mais isso não a impedia de usá-la como vingança, sua filha a renegou quando ia a igreja isso doeu bem mais do que vê-la queimar até virar pó.

O vento lá fora ganhava força enquanto Seraphina se esforçava para aceitar a cruel realidade que a cercava. Abigail, agora apenas uma memória fria e distante em seus braços, representava não apenas uma perda pessoal, mas também um elo doloroso na cadeia interminável de sua existência amaldiçoada.

As lágrimas de Seraphina se misturaram com as sombras que engoliam a galeria, um reflexo sombrio de sua alma atormentada. A noite avançava, mas para ela, o tempo era apenas um eco vazio em sua jornada solitária. A presença de Lilith, embora invisível, era tão tangível quanto a própria dor que a consumia. A culpa, embora irracional, apertava seu coração como um punhal afiado.

O relógio na parede da galeria marcou as horas silenciosas da madrugada, mas Seraphina mal notou a passagem do tempo. Ela estava imersa em sua própria melancolia, presa entre um amor eterno e uma maldição sem fim. A presença de Lilith pairava sobre ela como uma sombra indomável, uma lembrança constante de sua impotência diante do destino.

Ao amanhecer, Seraphina envolveu Abigail em um manto de veludo escuro, um gesto de respeito por uma vida perdida e por uma alma que ela não conseguiu proteger. Ela a levou para fora da galeria, enfrentando o sol nascente que lançava suas primeiras luzes sobre a cidade adormecida. Deixo-a na frente da galeria e foi embora.

Enquanto caminhava pelas ruas familiares, Seraphina sentiu os olhares curiosos dos moradores locais. Eles sabiam dela, da mulher enigmática que carregava consigo um fardo que nenhum ser humano poderia compreender verdadeiramente. Mas nenhum deles poderia oferecer consolo ou entendimento.

A dor de Seraphina era solitária e única, como sua sina de guardiã de um amor amaldiçoado. Ela se perguntava se algum dia encontraria paz, se algum dia seria capaz de quebrar as correntes que a ligavam ao passado e ao destino sombrio que Lilith lhe impusera.

Enquanto a cidade despertava para um novo dia, Seraphina retornou ao seu hotel silencioso. A presença de Abigail ainda pairava como uma sombra ao seu redor, uma lembrança constante de tudo o que ela perdera e da missão que ainda tinha pela frente. Ela sabia que Lilith não descansaria; a mulher continuaria a tecer seu jogo de dor e vingança, usando cada encarnação de Zara como peão.

Nos dias que se seguiram, Seraphina mergulhou mais uma vez em suas lembranças dolorosas. Ela buscava desesperadamente por uma pista, por qualquer fio de esperança que pudesse guiá-la na sua jornada de redenção. Mas a história era implacável, repetindo-se através dos tempos com uma crueldade inabalável.

Enquanto isso, a pequena cidade onde Seraphina encontrara um breve vislumbre de paz continuava a viver sua vida cotidiana, alheia aos dramas imortais que se desenrolavam nos bastidores. Abigail foi enterrada com honras, sua vida breve e trágica lembrada pelas poucas pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-la.

No entanto, a paz foi passageira. Outra reencarnação de Zara estava destinada a chegar, e Seraphina sabia disso. A cada novo rosto familiar que surgia na cidade, seu coração se apertava de angústia e determinação. Ela se perguntava se algum dia encontraria uma maneira de quebrar o ciclo, de libertar Zara e a si mesma das garras de Lilith.

Enquanto isso mais uma reencarnação de Zara chegou a cidade, dessa vez seu nome era Elara, também era uma pintora, com a diferença que ela tinha um filho, um garotinho de sete anos, que fora fruto dos abusos de seu tio.

A diferença dessa reencarnação com a anterior, além da criança, era que a mulher, por incrível que pareça, se interessou por ela quando a viu em uma lanchonete, elas tiveram bons momentos juntas, mesmo que Seraphina não a deixasse a tocar.

Tudo o que é bom dura pouco, aconteceu a mesma coisa que aconteceu com Abigail trinta anos antes, na mesma galeria e no mesmo cômodo, aquilo deixou Seraphina sem chão e um garoto sem mãe.

1323 palavras.

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