Capítulo 2

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        Depois que passo pelo portal, defronto com uma nova Floresta de Elvegore, muito mais viva e bonita. Árvores grandes, plantas roxas enormes e um clima úmido, caminho ao norte do portal e me deparo com uma pequena vila peculiar. Habitada por bruxas e feiticeiros, caminho pela rua principal, com muitos olhares voltados a mim.
        Uma bruxa baixa utilizando roupas largas verde esmeralda, de aparência velha e acabada vem ao meu encontro, ela pergunta:
—Está perdida minha querida?—Não sei se é possível, mas ela aparenta estar na casa dos 200 anos, respondo:
—Não senhora, muito obrigada pela preocupação—Uma mentira deslavada que com certeza ela percebeu, porém não insistiu.
        Continuo a caminhar pela vila, um pequeno palácio há no alto das montanhas, gente importante deve morar lá, talvez os governantes da cidade, resolvo ir em direção ao palácio. É um longo percurso, provavelmente terei de atravessar a vila para chegar, a escuridão da noite me impede de ver com mais detalhes a cidade das bruxas, sigo uma iluminação que leva até a montanha que no seu pé começa uma escadaria enorme de pedras lisas.
        Subo a montanha, e lá no alto sinto um frio intenso, me apresso para o portão de carvalho do palácio e dou-lhe três batidas.
Espero, espero e espero, porém ninguém vem ao meu encontro, então decido rodear o palácio e tentar achar uma porta dos fundos, acho e por sorte está entreaberta. Me defronto com a cozinha do palácio, um cozinheiro vem até mim. Ele pergunta:
—Creio que acabaste de chegar na cidade, és a Aurora que tanto falam?—Me surpreendo por ele saber o meu nome, porém afirmo com a cabeça—Pois bem, a rainha Andrômeda lhe espera em seu trono.
        Uma armadura de latão sem uma pessoa dentro me acompanha até ao encontro com a rainha. Não consigo parar de olhar para dentro da armadura, será que consigo fazer um guarda de latão também? As vezes não consigo pensar em mim mesma fazendo coisas extraordinárias, começo a lembrar das palavras de meu pai "Você é uma abominação da natureza assim como a sua mãe, não presta para nada além de me satisfazer". Espero que ele esteja sendo torturado no inferno neste momento.
        No final do corredor, dois homens fortes protegem uma enorme porta com suas lanças negras. Liberam a passagem e abrem a porta. É um salão enorme com janelas grandes que cujo fazem passagem para a luz do luar, um tapete vermelho de 170 metros se estende até o final da sala, onde se encontra a rainha sentada em seu trono. Me aproximo do trono...eu deveria me ajoelhar? Afinal de contas é uma rainha, como se ela lê-se os meus pensamentos, responde:
—Não precisa de tanta formalidade, ainda mais por ter sido enviada por Zélita—Com certeza ela falou que eu viria ao seu encontro, por isso o cozinheiro sabia o meu nome—Você tem tantas perguntas e me interesso ainda mais pelo motivo que veio aqui, mas já é tarde, tudo será esclarecido amanhã de manhã, durma e descanse—Agora, olhando para o guarda de latão—Leve-a para o quarto da ala leste.
        Eu não consegui falar sequer uma palavra, mas realmente estou cansada para discutir, não hesito em ir para o quarto. O palácio é grande com corredores sem fim, depois de andar muito chegamos ao quarto. Com apenas uma janela extensa na parede direita e cortinas violetas, uma cama para dois com lençóis brancos e travesseiros azuis, tapete de um animal que não consigo identificar e uma pequena mesa de madeira de carvalho ao lado da cama. Nunca pensei que fosse dormir em um lugar tão belo algum dia, me apresso para me deitar e afundo na cama macia, fecho os olhos e durmo.
       Em meus sonhos, vejo uma lua vermelha no alto da montanha do palácio, um vermelho sangue, gritos de mulheres e de crianças, e vejo a Floresta de Elvegore em chamas.

15 de junho de 1631
07h32m

        Acordo assustada com tanto terror, nunca tive um pesadelo com tanta desgraça. Alguém bate na porta, dou permissão para entrar. Um homem trajando vestes largas de tonalidades azul e detalhes prateados entra no quarto, pergunto quem é.
—Eu sou Magnus, um feiticeiro, sirvo à rainha. Me pediram para lhe informar que a rainha deseja ver a sua pessoa às 8h30m no jardim do palácio.
—Estarei pronta até lá, porém não sei onde é o jardim.
—Um guarda virá lhe buscar, arrume-se—Um círculo de chamas azuis contorna o feiticeiro, as chamas se erguem e se apagam em segundos, o feiticeiro já não se encontra mais no quarto.
—Que retirada dramática a dele.
       Resolvo abrir a janela para ver a vila com mais clareza agora que já é dia. É uma vila encantadora, vejo uma costureira na frente de sua casa, a linha passa sozinha pelas agulhas e cria um lindo vestido dourado, sortuda quem for usar ele. Penso ver um conhecido lá em baixo, porém acho que estou delirando, não conheço ninguém da vila até então.
        Como funciona esse mundo mágico? Será que existem vampiros ou lobisomens...será que existem as famosas poções das bruxas que os cristãos tanto temem, terei de perguntar à rainha os detalhes desse mundo, para não acabar morrendo por ignorância de minha parte.

08h30m

        Noto depois de alguns minutos de ver o vilarejo pela janela que há um relógio no quarto. E vejo que já está na hora, escuto passos cada vez mais altos...presumo ser o guarda. Ele entra no quarto e com um grande ar de arrogância me pergunta:
—Você é a Aurora?!—Por algum motivo ele me irrita, talvez por lembrar o meu pai, talvez se eu pegar um fio de cabelo dele...melhor não, serei expulsa antes mesmo de conseguir respostas, respondo que sim com tamanha arrogância igualmente—Pois bem, a rainha lhe espera no jardim, me siga.
        Sigo o indigente e conheço melhor o palácio, passamos pela cozinha que conheci quando cheguei, pelos aposentos da rainha, estábulo dos cavalos e finalmente chegamos ao jardim, tudo bem arrumado e da maior qualidade possível. A rainha Andrômeda me convida para sentar, não hesito e sento em uma cadeira vermelha escarlate muito confortável.
—Aurora, perdoe-me por não ter lhe deixado falar ontem de noite, mas eu estava apressada e precisava resolver um assunto com os feiticeiros, podemos conversar melhor agora—Como que ela sabia a minha indignação quanto a isso? Eu mesma já tinha esquecido disso.
—Sem nenhum problema, deve ser difícil administrar um povo—Como um pedaço de pão enquanto espero a sua resposta.
—Um pouco, imagino que seja mais complicado ainda em tempos de guerra—Na maior cara de pau, sem hesitar, pergunto-lhe:
—Zélita me disse que bruxas tinham afinidade com algum ramo na magia, a senhora possui alguma afinidade em ler mentes?—A rainha ficou desconcertada, vermelha como uma cereja—mil desculpas...foi imprudente.
—Tudo bem, as pessoas sempre acham que sou intrusiva quanto aos seus pensamentos. Tento me controlar e me privar de tal ato, mas se torna difícil quando se tem vocação para o mesmo—Começo a entende-la, se eu pudesse ler mentes, eu não teria um pingo de vergonha na cara e usaria constantemente. Começo com algumas perguntas:
—Como funciona este mundo mágico? Existem espíritos, vampiros, lobisomens?—A rainha da uma risada contagiante.
—É maravilhoso ver o seu interesse pelo nosso mundo! A sua curiosidade lhe abre portas ao conhecimento, que é muito importante. Tudo será esclarecido em seu tempo, mas lhe direi o básico—Andrômeda inspira um pouco de ar—Em nosso mundo existem várias ordens, a ordem dos bruxos, a ordem dos vampiros, a ordem dos lobisomens, dos goblins, dos gigantes e muitos outros. Porém não nos damos bem, isso ocasionou no passado guerras sangrentas que são desgastantes para os dois lados. Isso já responde a sua pergunta sobre a existência dessas raças.
—De onde vem a magia das bruxas e dos feiticeiros?—A rainha responde com uma mão no centro de seu peito:
—Vem da alma da bruxa ou do feiticeiro. Quando uma pessoa pratica encantamentos das trevas, a sua alma é corrompida aos poucos...como uma maldição. Os encantamentos mais fortes possuem custos maiores igualmente. Porém eu gostaria agora de discutir sobre o motivo da sua vinda—começo então:
—Eu quero destruir a Igreja e cremar aqueles que a seguem—Andrômeda faz um esforço para não rir—qual o problema?
—Minha querida, você não é forte, não sabe nem o bás...—interrompi-a:
—Zélita já jogou essas verdades na minha cara, não preciso que outra pessoa faça isso de novo!—Um silêncio de 23 segundos novamente se instaura, o que me trás um déjà vu—quero que me ensine, quero fazer parte do Coven, quero o seu apoio—Depois de pensar bastante, a rainha parece chegar a uma conclusão:
—Destruir a Igreja é o mesmo que ir até o céu e atear fogo, confronta-los ocasionaria uma guerra entre a umbra e os divinos—Ela percebeu a minha cara de desentendimento—Uma coisa importante Aurora que você deve aprender: divinos são aqueles que servem à Deus, que são ascendentes...do céu em uma linguagem mais chula, como os anjos. Umbra são todos aqueles que não são divinos, incluem-se demônios, bruxas e feiticeiros, lobisomens, vampiros e dentre outras raças que não possuem o céu como origem, com uma única exceção aos mortais.
—Eu poderia juntar todos da umbra para lutar contra o divino?
—Talvez, a princípio, você é a protagonista deste livro—Não entendo aonde ela quer chegar, mas entenderei como um elogio estranho—Está decidido, hoje ao anoitecer começaremos o seu treinamento, e amanhã iremos oficializar a sua entrada ao nosso Coven!
—Muito obrigada vossa majestade!—Pulo da cadeira e dou um abraço apertado na rainha...sim, na rainha—Oh meu deus, mil desculpas.
—Tudo bem (a rainha disfarça o fato de ter gostado do abraço), você pode visitar a vila de Aron até ao anoitecer, o almoço será servido às 12h30m no salão principal, seja pontual Aurora.






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⏰ Última atualização: Jul 09 ⏰

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