Capítulo 19

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-‹←‹← Uma criança e apenas isso →›→›-

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Ao'nung logo percebeu que a garota não era tão incapaz quanto ele esperava, mas temia que ela olhasse para ele e pensasse que poderia ser melhor que ele. Sabendo que os filhos do ex-chefe não seriam tão desprovidos de talento igual a um recém nascido, ele iria fazê-la saber que essa era a posição dela perante a ele.

Seu pai o designou para continuar levando os filhos mais velhos dos Sully em suas missões de caça, já que a garota mostrava sinais de conhecimento na área, e Ao'nung agia de forma mais comportada do que sua irmã esperava dele.

At'anau, entretanto, estava ficando entediada com os dias que passavam e só via as mesmas partes da ilha dia após dia. Ela frequentemente examinava o céu em busca de sua banshee, imaginando se algum dia ela estaria vagando pelo ar em busca da garota.

Há alguns dias ela se perguntava se haveria montanhas além do recife ou atrás dos cantos da costa. Se existisse, seria necessário apenas uma preparação e planejamento para que as duas finalmente pudessem se encontrar novamente.

- Ela parece uma garota legal, At'an.

A menina olhou para o pai enquanto ele lhe passava outra lâmina para amolar, para a qual ela teve que olhar para cima e rebobinar as palavras que atravessavam de um ouvido pro outro.

Seu pai estava falando sobre fazer amizade com os filhos dos chefes do clã Metkayina quando percebeu como a garota não perderia tempo em voltar a sua rotina após terminar com seus deveres em realizar as aulas.

Certa vez, o homem pegou sua filha trocando algumas palavras com uma garota que lhe perguntava sobre suas capacidades de fazer flechas e At'anau apenas aceitou o pedido de fazer flezas para a menina antes de se afastar da conversa.

At'anau cantarolou em confirmação para a pergunta de seu pai ao perceber que o assunto sobre amigos havia feito seus pensamentos se voltarem para o único amigo que ela tinha nas montanhas.

- No que você está pensando? - Jake não podia fingir saber que sua filha não estava ouvindo-o e percebeu como ela estava pensando em outra coisa.

At'anau odiava quando seu pai fazia essa pergunta, sentindo que ela não deveria estar fazendo isso e que tudo o que estava em sua mente seria classificado como inválido, pois as palavras de seu pai deveriam ser mais importantes.

Mas a expressão em seus olhos mostrava apenas curiosidade e uma pitada de preocupação, mas apenas uma pequena ruga de precaução.

A garota hesitou antes de encolher os ombros levemente.

- Nada demais. - Ela manteve o foco nos dedos envolvendo a ponta afiada da flecha que seu pai passou para ela afiar a ponta.

O homem estendeu o pedaço moldado de osso de animal, mas o recuperou quando a garota o pegou, fazendo-a olhar para o homem que tentou encontrar seus olhos.

- Estou ouvindo.

At'anau franziu os lábios aceitando a ponta da flecha que seu pai estendeu novamente e olhou para o mar uma vez.

- Você acha que eles ainda estão lá?

Não demorou muito para o pai entender a quem ela se referia, mas ele esperava que não fosse. O pai voltou a moldar o material lapidado e a menina se sentiu estúpida por expressar seus pensamentos.

- Você não precisa se preocupar com isso. - Jake afirmou suavemente, olhando para sua filha uma vez para vê-la pisar em outra linha de pensamentos enquanto seus dedos trabalhavam em torno do material quase bem demais para ele acompanhar.

- Mas eu me preocupo. - At'anau murmurou, pensando em sua casa. Ela se preocupava com as pessoas que a impediam de voltar para casa, com seu povo esperando que eles voltassem para casa ou com o fato de algum dia voltarem para casa.

- Bem, não faça isso. - Exigiu o pai em tom consolador. - Esse é o meu trabalho.

- Quando poderemos voltar para casa, você tem alguma ideia? - A garota sutilmente deixou escapar sua pergunta que queimava a garganta enquanto começava a triturar as pontas das flechas como seu pai, que havia diminuído a velocidade, suspirando com o perguntar que nenhuma das crianças ousou expressar novamente, já que a resposta era sempre a mesma.

- Querida... - Mas a garota continuou com os olhos ainda baixos para suas mãos que trabalhavam.

- Estamos em casa. - Ela repetiu as palavras frequentemente ditas por seu pai. - Mas aqui parece mais um refúgio do que um lar. - Ela não sabia onde estava seu desejo de falar o que pensava emergiu, mas não se conteve enquanto segurava a centelha de confiança com graciosidade em ambas as mãos.

- Eles não vão nos encontrar, ok? - disse Jake. - Eu vou me certificar disso.

Mas era como se a menina não estivesse ouvindo as palavras tranquilizadoras e desesperadas de seu pai enquanto ela balançava a cabeça, mas não parecia concordar.

- Eu entendo. - Ela não encontrou os olhos de seu pai que apenas olhou para ela enquanto ela recolhia as duas lâminas que os dois haviam acabado e pegava as bases de madeira e a linha antes de soldar as duas peças juntas. - Quando nos encontrarem, prefiro que seja aqui do que em nossa casa mesmo, mas não estou pronta para me envolver nisso. Você precisa me dizer o que fazer. - Ela sentiu falta do jeito que seu pai estalava os dentes ao ouvir as palavras imprudentes de sua filha mais velha.

- Nada, e não fale assim.

Pela primeira vez a menina olhou para o pai cujos olhos perderam a suavidade. Ela engoliu o nó na garganta ao senti-lo se fechando quando percebeu que suas preocupações declaradas voaram sobre a cabeça do homem.

Ela tentou entender por que seu pai a abandonou no escuro depois de anos lutando lealmente ao seu lado como um de seus guerreiros mais poderosos, apenas para se tornar uma adolescente problemática aos seus olhos quando ela procurava sua conformação agora.

Ela tentou dissimular o significado de querer proteger seus filhos sem prepará-los para o inevitável, mas a única coisa que ela conseguia entender eram as flechas afiadas que o homem passou para ela em silêncio.

ᵀʰʳᵒᵘᵍʰ ᵀʰᵉ ⱽᵃˡˡᵉʸ • ᴬᵒ'ⁿᵘⁿᵍOnde histórias criam vida. Descubra agora