0. Prólogo

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SIYEON

São francisco, 15 de julho de 2050

A família Lee vivia em perfeita harmonia, eram a família perfeita. Siyeon, a filha mais velha, apelidada carinhosamente de Singnie, era uma aluna exemplar e sempre tirava as maiores notas. Gahyun, a caçula, era a melhor nos esportes e sempre chegava em casa com mais uma medalha de ouro. A mãe, prefeita da cidade de São Francisco, fazia de tudo para deixar a vida das filhas um pouco mais alegre desde que o pai faleceu em um acidente de carro em uma viagem de férias na Coreia do Sul.

Com a condição de vida na Terra tornando-se cada vez mais precária, as notícias sobre o Projeto Alpha se espalharam pelo mundo, e, é claro, a Sra. Lee foi uma das primeiras a saber e se interessar pelo assunto, participando das reuniões para decidir a melhor maneira de colocar em prática a até então ideia. Ela pensou que talvez fosse uma oportunidade perfeita para as filhas terem uma vida digna, pois a Terra estava cada vez mais insustentável, com guerras, poluição e uma grande desigualdade econômica que se agravava cada vez mais.

Fazia anos que os astrônomos estudavam o planeta Ephimera, observando suas características e comprovando sua compatibilidade com a vida humana. Eles descobriram que o planeta possuía uma atmosfera rica em oxigênio, vastas áreas de terra fértil e um clima refrescante, características que o tornavam praticamente uma segunda Terra. Estudos mostravam que o planeta tinha ciclos diurnos e sazonais semelhantes aos da Terra, além de recursos naturais abundantes, incluindo água potável e minerais valiosos. Ele tinha tudo que a terra estava perdendo aos poucos com o passar dos anos.

As propagandas do Projeto Alpha que circulavam pela mídia e pelas diversas redes sociais mostravam imagens de cidades futurísticas com arquitetura moderna, cercadas por paisagens exuberantes e cheias de vida. A promessa de um novo começo em um planeta desconhecido cativava a imaginação das pessoas, oferecendo a esperança de um futuro melhor, longe dos problemas que aterrorizavam a Terra.

Era uma farsa, porém quase todos acreditaram.



Lee Siyeon! — Alerta de perigo! Quando a mãe chamava as filhas pelo nome completo, era porque coisa boa não vinha pela frente — Quantas vezes eu já te disse que não quero a senhorita chegando atrasada, hein? Principalmente nesse dia tão importante!

Assim que colocou o pé para dentro de casa depois de uma manhã cansativa na escola, Siyeon foi recebida pelos gritos raivosos da mãe, parecidos com o rugido de um leão furioso. Ela até tamparia os ouvidos para proteger a audição da tamanha gritaria, mas tal ato com certeza provocaria um olho roxo e uma perna quenrada. A mãe podia ser um doce quando queria, mas tornava-se uma fera assustadora uma vez que perdia a paciência.

Gahyun assistia tudo de camarote enquanto descascava uma laranja, sentada na mesa da cozinha. Ela fingia estar distraída com a música tocando no fone apenas para escutar Siyeon levar esporro e ter motivo para caçoar dela quando discutissem no futuro.

— Qual é, mãe? — resmungou, frustada. — Eu estava jogando ping pong com as meninas! Eu queria aproveitar o meu último dia aqui e... — calou-se no momento em que ouviu o suspiro irritado da mãe. Era melhor não provocá-la.

— "Meninas" pra lá, "meninas" pra cá. Estou cansada disso! — disse a mãe, visivelmente deprimida. — Você devia aproveitar o seu último dia com sua família.

Siyeon deixou a mochila pesada no chão e retirou seus sapatos, entrando na cozinha apenas com a meia branquinha, que logo ficariam tão encardidas quando o tênis que usava. Porém, a mãe deixou passar apenas daquela vez para poupar a paciência que já estava no limite.

POV | SuayeonOnde histórias criam vida. Descubra agora