Capítulo 12 - Pepinos

5 1 0
                                    

O enterro de Bruna aconteceu por volta das 9 horas. Ugniria tinha chorado tanto que agora, não tinha mais água em seu corpo. Ela tomou um banho quente demorado, colocou um conjunto de moletom emprestado de Maria e deitou-se na cama.

Ela pegou o celular e hesitando, abriu a conversa com Vinícius, ele não havia visualizado a mensagem, Ugniria se sentia como uma traidora, mas não conseguia segurar o pensamento de que finalmente, mesmo no meio de uma situação tão dolorosa, ela tinha conseguido ver o rosto de quem lhe trouxe ao mundo.

A imagem mostrava uma mulher negra, vestindo um vestido azul que ia até abaixo de seu joelho, o tecido não estava colado, mas acentuava bem suas curvas. Ela estava ao lado de um homem alto e moreno, sorrindo alegremente. A imagem não estava muita nítida, não conseguia observar os detalhes e expressões da mulher.

"Onde você quer se encontrar?" – Ugniria digitou, mas não enviou. Seu coração estava disparado e sentia uma pontada de dor.

Após respirar fundo, ela bloqueou a tela e colocou o celular no chão, virando-se pronta a esquecer o assunto. Contudo uma ligação a fez retornar sua atenção ao aparelho, era uma ligação de um número desconhecido, como spam. Ela desligou a ligação, mas ficou surpresa ao ver uma mensagem de Vinícius.

"Me desculpe, estive bem ocupado esses dias."

Ugniria ficou ainda mais surpresa, em todos esses tempos, mesmo que ele passasse meses sem falar com ela, ele nunca tinha se desculpado ou explicado porque tinha sumido.

"Tá tudo bem com você?"

"Ela ainda não é a sua mãe. Mas deve ser alguém da sua família, tenho certeza que eu encontrei sua origem Ugniria"

Suas mãos tremeram, ela bloqueou a tela do celular e o depositou em seu colo, seus olhos encheram-se de lágrimas. Ela lembrou-se de Antônio que dormia no quarto ao lado, não conseguia esquecer seu semblante cansado, abatido e envelhecido no enterro pela manhã. Na sua mente só pairava uma pergunta: "Porque justo agora?".

"Eu tenho um caso pra resolver, na verdade, talvez o último da minha vida."

Ugniria não respondeu.

"Por isso eu preciso terminar o seu logo. Vou à sua cidade, me encontre na pousada de sempre, no quarto individual, amanhã às 15h".

"Okay"

[...]

Thiago foi levado ao quarto após a aula interativa ou seja lá como aquela coisa era chamada. Para ele era uma completa falta de tempo e recursos, mas ela ajudou a encontrar Clarice, talvez a sorte estivesse ao seu lado, pensou.

A caminho da sala, Thiago tinha conseguido reconhecer o prédio da entrada subterrânea e como esperado, tinha guardas na sua frente. A outra entrada dos túneis era pelo jardim, mas como ela estava desativada a muito tempo, o mato provavelmente já tinha tomado conta dela. Além disso, sem manutenção, eles poderiam acabar morrendo soterrados.

Thiago começou a traçar um rascunho de fuga em sua mente, mas de repente a imagem da Clarice preencheu seus pensamentos. Fazia muito tempo que não a via, ela não era uma mulher que chamava atenção à primeira vista, parecia mais uma adolescente conturbada do que uma pessoa problemática, não muito diferente de como parecia quando criança. Como diabos ela teria se ligado com David?

O pupilo pensou que quando a revisse, a repulsa e ódio seriam os seus primeiros sentimentos, mas não foi assim. Se aquele rapaz estranho não tivesse falado que ela era Clarice, ela não a reconheceria. De todos os traços que ela tinha quando criança, seus olhos continuavam iguais, um olhar profundo e instigante. Mas de volta a seus sentimentos, o que Thiago sentia naquele momento era a mais pura e inocente curiosidade.

A Meia luz da Verdade - Trilogia Portal de Arold - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora