Um olhar do passado

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RICHARD

Depois de me despedir de Mellyne, caminhei pelas ruas de Paris com uma mistura de alegria e ansiedade. Encontrar alguém como ela era raro e precioso, e eu não podia deixar de pensar na conexão instantânea que sentimos. O brilho em seus olhos, a forma como ela falava sobre sua vida e seus sonhos - tudo nela parecia mágico.

Finalmente, cheguei ao prédio onde moro com meu pai e meu irmão, Raphael. Nosso apartamento estava localizado em um bairro elegante, mas para mim, aquele lugar sempre pareceu frio e distante. Subi as escadas e abri a porta, sentindo o familiar cheiro de madeira polida e livros antigos.

- Richard, é você? - ouvi a voz do meu pai, Rômulo Victorio San Sant, vinda do escritório.

- Sim, pai - respondi, tirando o casaco e pendurando-o no cabide. Caminhei até o escritório, onde encontrei meu pai, como sempre, cercado por pilhas de manuscritos e livros.

Meu pai tinha 51 anos, mas a vida pública e o sucesso como escritor o envelheceram antes do tempo. Ele raramente estava presente, sempre imerso em seu próprio mundo literário. Quando não estava viajando para eventos ou dando entrevistas, ele se trancava no escritório, trabalhando em seus próximos projetos.

- Como foi seu dia? - perguntei, embora soubesse que ele provavelmente estava mais interessado em seus livros do que na resposta.

- Ocupado - respondeu ele, sem desviar os olhos dos papéis à sua frente. - E o seu?

- Conheci alguém interessante - disse, tentando soar casual. - Uma garota chamada Mellyne.

- Hm - ele murmurou, como se não estivesse realmente ouvindo.

Decidi não insistir. Meu pai sempre foi assim, distante e absorvido em seu trabalho. Era difícil para ele se conectar com outras pessoas, inclusive comigo e meu irmão.

Enquanto me dirigia ao meu quarto, ouvi a porta da frente se abrir com força. Raphael entrou cambaleando, claramente bêbado. Seus olhos estavam vermelhos, e ele tinha um sorriso bobo no rosto.

- Richard! - ele exclamou, a voz arrastada. - Meu irmãozinho! Como foi a noite?

- Raphael, você está bêbado de novo - disse, tentando manter a calma. - Você não pode continuar fazendo isso. É irresponsável e perigoso.

- Ah, larga de ser chato - ele retrucou, empurrando-me levemente. - Eu só estou me divertindo.

- Isso não é diversão, Raphael! - minha voz se elevou. - Você precisa começar a levar sua vida a sério. Pense na mãe, pense no pai.

Ele riu, um som amargo e desdenhoso.

- Pai? - ele zombou. - O homem que vive para os livros e mal sabe que existimos? Não me faça rir, Richard.

Ouvindo nossa discussão, meu pai apareceu na porta do escritório, mas, como sempre, não fez nada. Apenas olhou para nós com um ar de desaprovação e voltou para seus manuscritos. O vazio que ele deixava em nossa vida familiar era palpável.

- Raphael, eu me preocupo com você - disse, sentindo minha paciência esgotar. - Só quero que esteja bem.

- Eu estou bem - ele resmungou, passando por mim e indo para o quarto, batendo a porta atrás de si.

Suspirei, sentindo a tensão e o cansaço me invadirem. Fui para o meu quarto, fechando a porta suavemente. Sentei-me na cama, peguei um livro e tentei me distrair. Mas minha mente continuava voltando a Mellyne, à forma como ela me fazia sentir. Peguei meu celular e olhei para o número dela, sentindo uma vontade imensa de mandar uma mensagem.

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