Capítulo 2

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Cinco dias. Eu tinha cinco dias para arrumar as minhas malas e me preparar psicologicamente para viajar até o outro lado do Atlântico acompanhada de Miranda Priestly. Confesso, que apesar de todas as circunstâncias que envolviam a viagem a Paris, eu estava muito animada para visitar a capital francesa e ousei a fazer um pequeno roteiro que envolvia uma visita rápida à Torre Eiffel, e quem sabe, se tivesse sorte, ao Louvre.

Minha última ida à Europa foi aos 18 anos. Visitei uma amiga de infância que havia se mudado para a Itália com a família, desde então, já com 26 anos, nunca mais pisei no velho continente. Eu estava torcendo para que a rainha de gelo estivesse ocupada demais em uma das suas inúmeras reuniões e eventos e eu então pudesse ter um respiro do ar parisiense.

Eram 22:33 de uma segunda-feira e o meu guarda roupa estava espalhado por completo na minha cama, eu estava no meio de uma missão muito difícil: separar as peças que levaria para Paris. Felizmente, Nigel, mais do que um amigo do trabalho, quase minha fada madrinha, assim que soube que eu viajaria com Miranda, fez questão de me emprestar ainda mais roupas do closet da Runway. Dentre os inúmeros modelos de grife, selecionei vestidos, sobretudos, calças e saias da Versace, Dolce Gabbana e Calvin Klein. Depois de Emily (finalmente) adequar o meu nome nos eventos da Semana de Moda de Paris, notei que a maioria eram jantares e coquetéis que Miranda provavelmente não passaria mais que uma hora. Para essas ocasiões, optei por levar em sua maioria vestidos simples mas que facilmente custariam três meses do meu aluguel.

Eram quase 1:30 da manhã quando finalmente tinha ao menos metade da mala de viagem organizada e então decidi ir pra cama. Em algumas horas precisaria estar em pé para dar início ao meu dia de trabalho. Já de pijamas e devidamente acomodada debaixo dos meus cobertores, fechei os olhos e torci para sonhar com Paris.

Às 8 da manhã em ponto eu já estava atrás da minha mesa e com uma generosa xícara de café ao meu lado. Estava abrindo o segundo e-mail do dia quando ouvi o barulho já conhecido dos saltos de grife de Miranda. Ela nunca chegava tão cedo ao escritório, será que havia acontecido alguma coisa?

Miranda entrou na sala e jogou o seu casaco em cima da mesa (ainda vazia) de Emily. Não pude deixar de notar a saia preta e justa que vestia, caindo como uma luva no corpo e salientando o seu quadril. Usava também uma blusa branca com mangas longas e que deixava os ombros à mostra. Respirei fundo para lembrar onde e com quem estava.

"Bom dia, Miranda."

Miranda deu alguns passos e se colocou à minha frente, precisei levantar o rosto para olhá-la

"Onde está Emily?" - perguntou em um tom carregado de tédio e que beirava o sussurro.

"Ela... Emily foi ao médico." - menti rapidamente, eu não tinha ideia sobre onde Emily estava.

Miranda me olhou de cima de uma forma que me fez engolir em seco. Com uma das sobrancelhas arqueadas, perguntou:

"Está tudo bem, Andrea?"

Miranda NUNCA havia perguntado nada sobre mim.

"Sim, sim. Eu estou bem."

"Está com uma cara péssima e a respiração... pesada. Espero que esteja bem, a última coisa que preciso é de você doente na Semana de Moda."

Miranda se virou para seguir seu caminho até o escritório privado, e então retomou a atenção para mim.

"Nas próximas duas horas estarei ocupada e não quero ser interrompida absolutamente por ninguém, a não ser que o assunto seja as minhas filhas. Depois disso, quero falar com você."

Não tive tempo de respondê-la, pois entrou logo em seguida na sua sala. Voltei a respirar normalmente.

Duas horas mais tarde me levanto e sigo até a sala da minha chefe. Miranda era uma mulher difícil de decifrar, então, ainda que ela tivesse dito que queria falar comigo em exatas duas horas, era possível que assim que me visse me lançasse um dos seus olhares perversos indicando que eu estava atrapalhando o seu trabalho. Porém, já acostumada com a sua forma de agir e praticamente prevendo as suas reações, decidi seguir o que ela havia dito mais cedo. Preferia receber um olhar de desaprovação de Miranda do que ser chamada de incompetente, algo que acontecia raramente, mas me deixava com raiva. Eu era boa no meu trabalho e sabia disso.

Bati levemente na porta de madeira do escritório de Miranda e quando escutei um "Entre", senti alívio. Ao que indicava, minha chefe estava de bom humor.

Entrar na sala de Miranda me dava uma sensação estranha, sentia como se estivesse invadindo um local sagrado (o que de fato, em alguma medida, era.) O ar condicionado sempre estava na temperatura mais fria possível, obrigando qualquer um a colocar um casaco ainda que Nova York estivesse ensolarada lá fora. Não havia muitos objetos no escritório de Miranda, no máximo dois quadros de um dos seus artistas preferidos, na mesa apenas o computador e um bloco de notas acompanhado de uma caneta. Era claro, espaçoso, bonito e muito, muito desconfortável. Não havia como se esconder de Miranda ali dentro, o seu olhar alcançava cada centímetro da sala.

"Sente-se, Andrea." - ela me disse sem olhar diretamente para mim, mas indicando levemente com a cabeça a cadeira à frente de sua mesa - "Precisamos conversar sobre Paris."

Imediatamente abri o meu bloco de notas. 

"Claro, Miranda."

Ela então desligou a tela do computador e um arrepio se passou pelas minhas costas ao notar que Miranda dedicaria sua atenção inteiramente a mim, algo muito raro e que me deixava no mínimo nervosa. Um par de olhos azuis cristalinos me encarou e eu tratei de enfiar a minha cara no celular. Ninguém encarava Miranda Priestly de volta.

"Nossos quartos estarão no mesmo andar do hotel, a fim de evitar qualquer atraso da sua parte para me acompanhar em todo e qualquer evento que seja necessário. Veja bem Andrea," - percebi a pausa de Miranda e levantei o olhar, ela queria que eu prestasse atenção com os olhos também - "Você estará comigo em todo momento, eu preciso que você esteja atenta a cada passo que eu der, saiba exatamente com quem estou falando, quais serão os meus próximos compromissos, você será uma extensão de mim. A Semana de Moda de Paris é a mais importante para Runway e apenas os mais competentes estarão ao meu lado. Você entende o que quero dizer, certo?"

Bom, já vi que terei que dar adeus à ideia de turistar em Paris.

"Sim, Miranda." - concordei engolindo em seco. Eu não tinha ideia do que esperar de dias e mais dias colada à Miranda. Era o paraíso e o inferno na mesma medida

"Ótimo. Agora, sobre as suas roupas." - ela então pousou o olhar no meu rosto e depois para o meu colo - "Eu mesma reservei quais serão as peças que você deverá vestir. Todas estão de acordo com os eventos."

O fato me pegou completamente desprevenida. Miranda havia escolhido as roupas que EU usaria em Paris? Ela sabia que número eu vestia? Eram perguntas demais se passando pela minha cabeça e tudo o que consegui dizer, foi:

"Por que?"

"Como?"

Me ajeitei na cadeira indicando o meu desconforto.

"Por que você escolheu as minhas roupas? Quer dizer... eu já fiz a minha mala, Miranda."

Miranda revirou os olhos antes de me responder

"Fiz isso por precaução, não quero que você esteja vestida de forma inadequada. Nós duas sabemos de que forma você chegou na Runway."

Ela tinha razão. Essa megera tinha razão.

"Está bem." - concordei cansada - "E onde estão as roupas que devo vestir?"

"Serão entregues na sua casa hoje a noite, e em conjunto com elas estão as especificações de quando deverá vesti-las."

Apenas concordei com a cabeça enquanto esperava pelas demais informações que deveria anotar. Mas o silêncio pairou e me vi obrigada a olhar novamente para Miranda, que pareceu ser pega de surpresa. Eu podia jurar que ela estava me olhando enquanto eu estava distraída com o bloco de notas, mas deixei o pensamento se esvair quando ouvi o típico:

"Isso é tudo." 

Uma Semana em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora