Capítulo 4

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Meus olhos quase não acreditaram no que viam: Miranda sentada ao lado da minha poltrona. Ao que tudo indicava, meus planos de viajar sozinha tomando taças de champanhe caro foram por água abaixo. Não pude segurar o impulso de olhar para a tela do meu celular verificando se aquele realmente era o meu assento. A mulher mais velha pareceu ter lido os meus pensamentos.

"Sim, Andrea. Este é o seu lugar."

Tentei me recompor o mais breve possível antes de respondê-la, mas tinha certeza que o nervosismo estava escancarado no meu rosto.

"Bom dia, Miranda. Eu não sabia que iríamos viajar juntas."

Miranda tirou os óculos escuros. Aliás, apenas Miranda Priestly era capaz de usar óculos escuros dentro de um avião sem parecer uma completa idiota. Olhos azuis percorreram o meu corpo de baixo para cima e por breves segundos minhas pernas ficaram trêmulas.

"Decisão de última hora. Agora por favor, sente-se, estou exausta de vê-la em pé."

A obedeci rapidamente. O cenário era absurdamente desconfortável, sentia meu corpo rígido e pesado. Ao mesmo tempo que adoraria virar o rosto para ver Miranda, apenas tal ideia me causava enjoo. Estava me sentindo idiota, eu já estive sentada ao lado da minha chefe inúmeras vezes, mas algo estava errado e eu não sabia dizer o que era.

Encostei a cabeça no banco atrás de mim e fechei os olhos, a viagem seria longa e de repente me lembrei de algo que havia esquecido por completo: amava viajar, mas detestava a parte de decolagem do avião. Ótimo. Mais uma coisa com que me preocupar.

Minutos se passaram até que os poucos passageiros se acomodassem em seus devidos lugares e então a voz da aeromoça ressoou pela aeronave informando sobre a decolagem e dando as instruções para o fechamento dos nossos cintos de segurança. Minhas mãos tremiam de uma forma que tornava a ação quase impossível. Para piorar, comecei a sentir a minha respiração mais rápida e pesada. Ah não, não, não, não, não. Por favor, não podia ser, aquilo não podia ser uma crise de ansiedade.

"Andrea? Andrea?" - a voz de Miranda ressoava distante, ainda que eu soubesse que ela estava há centímetros de mim. - "Andrea, olha para mim."

Mesmo que eu quisesse seguir mais uma das ordens de Miranda, não consegui. Meu corpo estava paralisado. Com muito esforço, falei:

"Não consigo fechar o meu cinto. Eu..."

Miranda se remexeu ao meu lado.

"Eu vou te ajudar, está bem?" - Meu cérebro estava dividido em diferentes direções, como: medo de decolar de avião, pavor de passar 8 horas ao lado de Miranda e o mais importante: Miranda estava me ajudando???. Antes que meus pensamentos pudessem se ramificar ainda mais, senti as mãos da mais velha ajustando o meu cinto.

"Consegui. Pronto, está tudo bem." - assenti com a cabeça e com os olhos fechados comecei a contar mentalmente para acalmar a minha respiração.

O avião começou a se mover e a aeromoça pediu para nos prepararmos para a decolagem. Fechei os olhos com ainda mais força, mas não parecia suficiente, meu coração parecia que iria explodir. Então, uma mão macia e gelada pegou a minha, a voz de Miranda veio logo em seguida.

"Será rápido, em poucos segundos estará tudo bem." - De alguma forma Miranda conseguiu me acalmar. A sensação pavorosa de vertigem passou pelo meu corpo quando o avião decolou e eu apertei a mão de Miranda, que por sua vez não tentou se desvencilhar e se manteve me segurando. Quando já estávamos no ar, ela finalmente soltou a minha mão. Ao me voltar para a mais velha para agradecê-la, ela estava com uma expressão preocupada e seus olhos passeavam por todo o meu rosto procurando por algo que pudesse denunciar que eu poderia entrar em colapso a qualquer momento.

"Obrigada." - eu disse olhando-a diretamente nos olhos.

Miranda se manteve em silêncio e me perguntei se seria naquele momento que ela me demitiria por ter dado um "chilique" a caminho de Paris.

"Não sabia que você tinha medo de avião."

"Eu não tenho." - Miranda levantou uma das sobrancelhas - "Quer dizer... tenho medo de decolagens, mas não das viagens de avião em si."

Miranda balançou a cabeça levemente em concordância e quando abriu a boca para falar algo, pareceu mudar de ideia e se voltou para a janela, se virando quase completamente de costas para mim. Algo me fez desejar ter a sua atenção novamente, queria que ela conversasse mais comigo e segurasse a minha mão de novo.

Passei o resto da viagem pensando na textura da mão de Miranda, no quão gelada e macia era. Repassei também a memória do seu olhar preocupado na minha direção e me fiz diversas perguntas: Por que ela havia decidido viajar comigo? Miranda realmente estava preocupada quando decidiu me ajudar durante uma crise de ansiedade? Em algum momento peguei no sono e me deixei divagar por dúvidas e pela presença da minha chefe que mesmo ao meu lado parecia há quilômetros de distância. 

Uma Semana em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora