Coletânea de one-shots :)

🍂🍃Why NOT you?🍃🍂

Demorei? Sim
Mas tá aí 😎
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Por mais que o pincel se movesse, ele não conseguia total satisfação com a obra. Seu coração atormentado não ficaria satisfeito com apenas aquelas pinturas. Seu rosto se contorceu em uma carranca, a metade desfigurada da sua pele roçando contra o material côncavo da máscara.

Respirou fundo...

Duas vezes.

Receberia uma visita hoje, alguém que aparentava querer vê-lo — ninguém queria vê-lo depois do seu acidente. Apenas as falsas cartas com falsas palavras de consolo como: "Meus pêsames", "Minhas condolências" entre outras baboseiras. Contudo, uma carta — unicamente aquela carta — que não dizia nada daquilo. Dizia "Procure um passatempo e pare de ser miserável", ou coisa parecida. Aquilo mexeu com ele...

— Duque Hans Floyd, — começou. Por Deus, era sempre a mesma coisa irritante. Sempre uma apresentação que ele iria com toda certeza ignorar. — a honorável viúva, Duquesa Anneli Windsor.

Os olhos de Hans se arregalaram por um milésimo de segundo, antes de se sentar e encará-la de volta. Os olhos âmbar dela contrataram com a luz do sol que era absorvida pela pele chocolate. Ele parecia... impressionado. Agora ela parecia... apática? Séria demais?

— Então é você... a autora daquela carta? — ele perguntou.

— Por Deus, eu assinei. Está constatando o óbvio. — respondeu contra o silêncio ensurdecedor da sala. — ... Como se sente?

— Por que? Irá desejar-me melhoras? — a mão enluvada tocou a máscara e o olhar desceu.

Desde o acidente anos atrás, o incêndio no teatro o atingiu. O duque ficou... desfigurado, para dizer o mínimo. Pelo menos metade dele saiu ilesa. Exclusivamente metade. O afastamento forçado da sociedade foi algo forçado, Hans foi "recomendado" a não comparecer em eventos sociais como bailes, ou até mesmo em caminhadas. O duque se enterrou em uma tristeza profunda demais para si mesmo suportar.

Ouvir as pessoas sussurrando sobre você não era a melhor das sensações...

— Se eu quisesse já o teria feito. — a mão enluvada segurou o leque. — Mas não quero, então não.

— Me pergunto o motivo. — riu. — Mas suponho que a entendo. Nem todos gostavam de mim.

— Eu nunca tive algo contra o senhor. — suspirou. — Eu nunca nem o vi, só vim todo o caminho até aqui porque fui induzida, já que não disse palavras muito gentis da última vez.

Ela realmente era uma dama intrigante. Não havia um pingo de pena por ele em seus olhos reluzentes. Hans descansou a cabeça no punho e sorriu.

— Se você é desse jeito miserável, a culpa não é minha. — ela cuspiu tomando um gole de chá fazendo-o engasgar-se com o seu próprio.

— Como?

— Ninguém está o obrigando a ficar aqui sentindo-se incapaz e com litros de auto piedade por si mesmo. Se quer sair, saia. Ninguém o colocou em uma coleira.

Os olhos do duque brilharam, eram palavras duras, sim, mas talvez... *talvez* ele precisava ouvi-las. O duque prontamente se levantou e prendeu-a contra o estofado, fazendo com que a viúva levantasse a cabeça lentamente.

— Como... Como consegue não ser afetada pelas opiniões?! Diga-me! — os dedos cravaram a estampa.

— Francamente. — olhou para longe. — Não precisa se desesperar, estamos apenas conversando.

— Não é uma conversa! É... O que você... Você está...

— Eu só estou expondo minha opinião, idiota.

Não era apenas uma opinião, como ela poderia apenas... Ela estava expandindo sua mente para lugares que ele não havia pensado.

... E ele estava amando isso.

Não era virtude ou sabedoria, era sinceridade pura... Muita sinceridade. E ele estava amando aquilo.

— Como você se casou... Falando desse jeito.

— Existem pessoas *e* acessórios. Eu fiquei viúva de uma planta decorativa. — Hans arqueou a sobrancelha. — Ele não ouvia.

— Eu ouvi.

— Não somos casados.

— Não seja por isso. — ele sorriu de maneira brincalhona, finalmente pondo um sorriso em Anneli. — Então... Duquesa...

Anneli Windsor esboçou um leve sorriso.

— Não vai me convidar para dormir aqui, vai?

— E se eu convidar?

— Eu recusarei.

Hans sorriu.

— E se eu insistir?

— Insistirei em recusar.

O duque sorriu e cruzou os braços antes de se sentar.

— E se eu a pedisse em casamento?

— Eu o respondo, "não".

Hans não conteve uma risada abafada. Anneli tomou mais alguns goles de chá. Era bom achar tanta franqueza para que pudesse ser honesta e, talvez meio insensível.