Capítulo 01

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Traição, ou artimanha, é uma quebra de fidelidade e confiança prometidas entre duas ou mais pessoas. Pode ser entendida de vários tipos, desde um relacionamento amoroso com um triste fim, até a relação entre chefe e subordinado. A última citada era o motivo pelo qual Min Hyunsik estava acorrentado, com as mãos imobilizadas e repleto de machucados em seu rosto e corpo.

— Está satisfeito? Me tratando como um saco de pancadas, seu próprio tio! Isso é inaceitável. — sua boca estava quase que completamente ocupada por sangue, mesmo assim não parava de desafiar o homem cruel a sua frente.

— Acho melhor ficar de bico calado. Bem, se você não quiser ficar banguela de vez, é claro. — sorriu ladino, se referindo aos dentes que havia arrancado por dizer besteiras.

— Seu cretino! Quando seu pai souber, ele...

— Ele não vai fazer porra nenhuma. Sou eu quem mando nesse caralho, caso não tenha percebido, titio. — seu sorriso morreu um pouco, mas logo se reergueu novamente. — Ninguém vai te salvar da morte se não me dizer o porque de estar fornecendo armamentos e munições para a máfia francesa.

O silêncio se instalou no galpão escuro visto como abandonado por civis que dirigiam pela estrada quase que desconhecida e longe do resto da civilização. Insatisfeito, o alfa depositou um soco no estômago do sujeito. A única coisa a se ouvir fora um grito.

— Quando eu te fizer uma pergunta, responda ou eu ficarei zangado, tio. Você não quer me ver de mal humor, eu garanto! — se afastou minimamente, parando em frente a uma mesa de apoio que portava das mais variadas armas brancas que ali se encontravam. Pegou uma adaga e deslizou o dedo indicador pela lâmina, saindo sem nenhum machucado. Estava notoriamente cega. — Vamos fazer um joguinho? Farei algumas perguntas e a cada resposta desagradável eu te arranco um dedo. O que você acha?

— Você é louco!

— E você ainda não viu nada, miserável.

O cheiro do alfa acorrentado estava fraco, expondo sua submissão a presença esmagadora do outro. Min Hyunsik estava amedrontado dos pés à cabeça.

— Porque fez isso? — a pergunta foi direta, sem enrolação. Min Yoongi era disso, na gíria dos jovens: papo-reto.

— Fiz o que? — o alfa mais velho se arrependeu segundos depois de ter perguntado. Arregalou os olhos assim que viu Yoongi se aproximando. — NÃO, NÃO, NÃO! — suas súplicas foram em vão, Min passou a adaga lentamente por seu dedo polegar, antes de afundar a lâmina em sua carne. Observava com satisfação a expressão de dor do outro.

— Resposta errada, velhote. — zombou, jogando o dedo solitário para longe, que caiu no chão sujo. — Quem te ajudou? Quero frases completas, Hyunsik, não desculpas esfarrapadas.

— N-Não tive ajuda. — menos um dedo. Mais sangue. — PORRA!

— Não vou perguntar novamente. — decidido a brincar com sua presa, Yoongi segurou a adaga com força, descontando sua raiva para não matá-lo ali mesmo, enquanto rodeava o outro. Hyunsik precisava aprender uma lição, mas ainda tinha planos para ele.

— Contratei alguns capangas para me ajudar na questão de entregar as armas. Merda isso tá doendo! — seu dedo ardia como se possuísse chamas.

— Pensasse nisso antes de trair a famiglia, cacete. — respondeu curto e grosso.

— O que vai fazer comigo? — tinha medo da resposta, mas precisava saber.

— Você ficará aqui, sem água e qualquer tipo de alimento. Mas não se preocupe, farei visitas, sabe, quando eu quiser mais informações. Aliás, tentar passar por cima de mim nunca foi uma boa ideia, mas agora você sabe bem disso, certo? Boa noite, titio!

Foram suas palavras antes de se retirar dali, sentindo-se aliviado por estravazar um pouco. Era naturalmente agressivo e precisava descontar sua raiva. A melhor saída para isso sempre foi bater em algo ou alguém, nesse caso.

Min Yoongi não era um alfa para brincadeira. Era um alfa de sangue puro, um dos únicos de sua espécie existentes no mundo. O líder da famiglia, a máfia sul-coreana que exerce sua influência e poder em países como a Coreia, Itália e Japão.

Trair sua confiança não foi muito inteligente da parte do irmão de seu pai. E ele pagaria caro por isso.

⚜️

— EU TÔ TÃO FELIZ, NOONA!

O ômega sorria pela milésima vez naquela manhã, juntamente ao irmão que estava eufórico pela grande novidade que havia recebido de um de seus colegas da escola, por mensagens de grupo.

— Eu sei, lobinho. — guardou o celular na bolsa, verificando o conteúdo para assegurar que não havia esquecido de nada. — Pare de gritar e vá arrumar esse cabelo, está parecendo um ninho de pássaro.

Recebeu um olhar mortal do mais novo, ganhando um sorriso lindo logo depois.

— Finalmente em todos os meus anos nessa escola, vou participar de um baile de máscaras! — repetiu aquela notícia mais uma vez.

— Isso porque não tinha idade o suficiente, mas agora você já é um adolescente. A partir de 14 anos, a entrada é permitida. — respondeu, sentindo-se animado pelo outro. Ficava feliz se Jungwon estivesse feliz.

— Sim, sim, noona. Mas... com quem eu vou? — um biquinho foi formado em seus lábios finos, havia puxado isso de seu pai. Já seu irmão, herdou os lábios volumosos de sua mãe.

— Como?

— Eu não tenho par! Para participar eu preciso de um! — sentou-se novamente no sofá gigante, cruzando os braços.

— Convide alguém para ir com você. Quer uma sugestão? Chame o Sunoo. — uma carinha enojada foi o que ganhou.

— O Sunoo? Eca! Ele é só meu amigo, nada demais. — rebateu.

— Sério? Pensei que gostasse dele, sempre saem juntos, o trata tão carinhosamente. Sem contar que ele é um ômega adorável!

— Gosto dele como meu amigo! — a voz soou histérica, alertando o irmão que não era uma boa hora para provocá-lo.

— Certo, já entendi. Você não gosta dele, então com quem vai?

— Não sei. Vou ver se chamo alguém, pode ser qualquer um. Mas nesse baile eu vou!

— Assim que se fala, agora vá arrumar esse cabelo feioso, pois precisamos sair urgentemente. Demorei demais na hora de me arrumar e estamos atrasados para chegar lá.

— Eu realmente tenho que ir? — havia tentado enrolar ao máximo seu irmão mais velho, usando a desculpa que estava ansioso para o baile que aconteceria daqui a uns meses. Realmente estava eufórico e usou isso a seu favor. — Não gosto de ir na casa do papai. Ele é chato.

— Compartilho do mesmo pensamento, mas não temos escolha. É um domingo, dia de almoço em família e você sabe que andamos negando alguns convites a mais dele. Já ultrapassamos todos os limites da nossa cota pelo resto do ano! — riram juntos. Jungwon se apressou em subir as escadas até sua penteadeira em seu quarto.

Era muito vaidoso, demais para um alfa. Palavras de seu pai. Às vezes aparenta ser um ômega.

— Pronto, noona. Posso ir no banco da frente? — desceu as escadas correndo, guardando o celular no bolso da calça jeans.

— Tudo o que quiser, lobinho.

Só esperava que ela não estivesse lá.






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