𝐂apitulo 𝐃ois

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Henry ficou encarando a porta antes de finalmente decidir bater nela, mas não foi necessário ninguém do outro lado abrir, já que ela estava na verdade entreaberta.

A porta fez um rangido baixo enquanto o loiro a empurrava devagar, começando a ter visão do quarto escuro. Não dava para ver muita coisa, já que as outras janelas estavam completamente fechadas, apenas tinha uma aberta, que fazia um feixe de luz passar pelo quarto. Sentado na janela tinha um garoto que usava um longo moletom preto. Ele aparentemente tinha a pele clara e cabelos ruivos, que brilhavam com a luz da tarde.

Henry deu um passo para dentro do quarto e fechou a porta. Talvez aquela não seria uma boa escolha, mas ele não ligava muito. Só queria sair dali logo e fingir que esse outro garoto não existia. Além da má iluminação do quarto, ele estava super abafado. Fazendo Henry tossir algumas vezes, mas logo parando. Ele ficou em pé, apenas um passo longe da porta. Tentava inutilmente conseguir fazer os olhos se acostumarem com o escuro que tinha nos cantos do quarto.

O outro garoto assim que ouviu a porta se fechando olhou imediatamente para Henry, mas não se virou o suficiente ou desceu da janela. Ele apenas o olhou um pouco e se virou para ficar como estava antes. Henry esperou que o outro começasse a falar. Ficaram um tempo em silêncio, até que Henry pensou na possibilidade de que Nicholas quisesse que ele falasse primeiro. Então ficou quieto por mais um tempo, antes de finalmente dizer algo.

— Você pode cair lá embaixo se continuar assim.

Nicholas parecia surpreso, e finalmente se virou para ele, mas não se levantou da janela. Era um movimento arriscado e Henry pensou que Nicholas fez aquilo apenas para mostrar que não tinha medo de cair.

A iluminação continuava horrível, mas Henry conseguiu notar que o outro usava uma calça jeans rasgada além do grande moletom. O observou levar uma das mãos até o bolso da calça e tirar um papel dobrado. Ele continuou em silêncio enquanto desdobrava o papel, apenas depois de um tempo que ele começou a falar algo.

— Henry Harvey, dezesseis anos, negro, um e oitenta e três de altura. Foi internado pelo pai e trazido pela mãe. Fugiu de casa, morando na rua por um tempo. O pai afirmou que ele é problemático e que já se envolveu em brigas de rua. — Ele terminou de ler de repente, embrulhando o papel e jogando para trás de si. — Sabe o que é mais chato de ter carne nova na clínica? — Ele começou, a voz do garoto não era grossa como Henry tinha imaginado, mas não era fina. Ele tinha um tom zombeteiro que provavelmente ajudava a sua voz mudar. — É que as informações completas só vão parar na sala do babaca depois de um bom tempo. É um saco ficar tendo que escutar conversas dos nojentos que trabalham aqui. — Ele finalmente desceu da janela, e Henry notou o quão baixo o outro era comparado a si.

Henry o olhou enquanto ele se aproximava, com passos lentos. Era difícil diferenciar o rosto dele, mas era notável o pequeno sorriso em seu rosto.

— Você me parece inteligente, não te avisaram do perigo que corria vindo aqui?

— Me avisaram.

— Você tem sorte, meu humor está bom hoje, geralmente gosto de mostrar para os novatos do que eu sou capaz. — Ele parou, já bem próximo de Henry. — Todos que entraram aqui deixaram a porta aberta. Eu poderia te matar se eu quisesse.

— Mas você não quer. — Henry continuava com a mesma cara, já tinha recebido inúmeras ameaças nessa vida, isso não era nada.

— Eu poderia começar a querer.  — Ele analisou o rosto de Henry. — Já não gosto de você, parece ser do tipo que se acha demais, eu odeio isso. Mas... seria interessante descobrir mais de você, cada pecado seu. — Apesar do escuro era bastante notável a feição estressada que ele tinha.

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⏰ Última atualização: Jul 14 ⏰

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