Meu Aconchego

Capítulo IV - Insista

"Pegue o que quiser de mim
Me plante agora em seu jardim
E se eu murchar, me regue
Insista em mim"

Insista em Mim - Ana Frango Elétrico

Depois da doce intimidade do primeiro banho juntos, Diego e Amaury foram para o quarto de hóspedes, onde o ruivo tirou da mala uma samba-canção com estampa de quadrinhos de super-heróis e vestiu, arrancando uma risadinha do namorado.

- Que foi? - Diego questionou, um tanto indignado, já se preparando para encarnar sua skin reativa. - Eu tenho uma do Homem-Aranha também, algum problema?

- Nenhum. Achei fofinho - Amaury respondeu enquanto vestia um calção branco de futebol.

- Ah, bom - Diego disse e pegou o celular. - Tô morto de fome. Vou pedir uma comida pra nós dois antes de começar o processo de montação.

Amaury revirou os olhos e fez um bico.

- Pedir, Diego? Vai pedir nada. Eu vou fazer a janta. Vai levar menos tempo que esperar para entregar e será mais saudável.

- Se você quer, não tenho nada contra.

- O que você gosta de comer, Di?

- Hum, acho que tenho um paladar bem infantil... Strogonoff, bife à milanesa, frango à milanesa, lasanha... mas na real como quase qualquer coisa de frango ou boi. Só não gosto de peixe, camarão, nada do mar ou do rio.

- Fritura, creme de leite, não come peixe... nossa... Vou ter que fazer reeducação alimentar com meu namorado e o filho dele.

- Trouxa. Eu como salada de vez em quando.

- De vez em quando, Diego? Caramba. Vou fazer uma sopa bem reforçada pra te dar energia para o show. Você toma uma sopinha?

- Tá, vou querer sua sopinha. Enquanto você faz, vou terminar de arrumar minha peruca. - Diego mexeu na mochila e retirou dela uma cabeça com uma lace loira com mecha cor-de-rosa. - Hoje eu vou virar uma loirona gostosona.

- Loira, é? Vai ficar uma gata.

- Miau - Diego disse rindo, e fez um gesto de arranhar com a pata como uma gatinha.

Amaury deu o sorriso mais safado do mundo, depois deu um beijo na cabeça de Diego e disparou antes de ir para a cozinha preparar a sopa:

- Eu deixo você me arranhar mais tarde.

- Eu vou. Ah, vou - Diego garantiu, com um sorrisinho sem vergonha.

Já na cozinha, Amaury ouviu o namorado cantarolando "Cheiro de Amor" enquanto arrumava a peruca e sorriu docemente lembrando-se da noite no bar. Não pretendia se envolver com alguém tão rápido e de forma tão intensa, mas aconteceu, estava entregue a Diego e a ideia de formar uma família com ele e com o filho dele estava crescendo rapidamente.

Já tinha planejado cozinhar e levar o jantar para os dois e quando foi ao mercado mais cedo comprar os ingredientes da sopa, flagrou-se pensando no dia em que fariam as compras juntos, ele querendo um carrinho mais saudável, Diego enchendo-o de porcarias práticas, enlatados e congelados, e Theo entre eles pedindo para pôr no carrinho uma guloseima ou outra.

Imaginando como seria a vida com eles, Amaury foi picando cenoura, cebola, couve, tomate e mandioca de modo rústico. Colocou tudo na panela de pressão, temperou bem e acendeu o fogo.

Enquanto a sopa cozinhava, ajeitou a bagunça que deixaram na sala depois da transa, colocou as almofadas de volta aos seus lugares e recolheu as roupas que ficaram largadas pelo chão. Não resistiu e cheirou a camisa de Diego, o perfume fresco dele ainda lá, lembrando que minutos atrás estava sentindo o mesmo cheiro diretamente na pele alva cheia de sardinhas e tatuagens.