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- Aleah

O fervor das estradas americanas havia desaparecido ou apenas tornado-se vazio, a quantidade de carros diminuiu drasticamente devido ao nosso destino, meus olhos vagam através do insulfilme escuro do carro, a observar a vegetação rasteira e os animais deprimidos à beira da estrada. Pego-me pensando em como vivemos um um mundo dividido por extremos, onde uns levam suas vidas à sério demais, enquanto outros nem sequer pensam em suas próprias vidas, preocupados mais em viver o hoje do que pensar no amanhã. A sociedade em que vivemos não é composta por meio termos, aqueles que levam a vida à sério mas sempre pensando em viver no presente, e durante todos os meus 22 anos sempre busquei ser este meio termo.

Sejam aqueles mais sérios ou os que não dão importância a nada, todos tem em comum a normalidade em seu dia-a-dia, até mesmo aqueles sem planos algum acabam por ter um rotina fixa. Normal não passa de algo comum, e no meu dicionário pessoal comum tornou-se chato, e dentre os meus inúmeros medos está o pavor de tornar-me alguém comum. Devo dizer que estou orgulhosa de mim mesma, afinal não seriam as pessoas comuns que ficaram, de certa forma, animadas em ver que está dentro dos limites de Broken Hills, a cidade amaldiçoada da América.

Peguei a mania de anotar todos os meus pensamentos aleatórios em um velho caderno de capa escurecida, e não pude deixa de anotar o que talvez tenha sido a coisa mais sã que pensei hoje: Vidas Normais não podem ser comparadas a anormalidade, para escapar do terror do comum apenas mude-se para Broken Hills.

Fechei o caderno ao sentir a velocidade do carro diminuir, meu avô dirigia calado desde saímos de Las Vegas algumas horas atrás, assim como toda a minha família, ele também não aprova a minha mudança para esta cidade, e como sempre faço com qualquer opinião que não me agrade, apenas descartei. Paramos em frente à minha nova casa, uma estrutura aparentemente antiga, já que está foi uma das únicas casas que sobreviveram à destruição há mais de 50 anos atrás, e que após ser restaurada e colocada a venda foi o único lugar que me atraiu por aqui, por seu estilo clássico e principalmente por ser a menos assustadora de todas as casas que estavam à venda.

Desci do carro com pressa, desviando de muitas caixas na entrada que já haviam sido trazidas pela equipe de mudança, entrei na casa e não pude ficar mais aliviada ao ver todos os móveis já em seus lugares, tudo o que eu teria que fazer é abrir as dezenas de caixas com os meus livros, roupas, utensílios de cozinha e limpeza e peças decorativas, colocar tudo em seu devido lugar e tentar acostumar-me com a nova vizinhança.

Quando voltei a sair vi meu avô com pressa a ajudar os rapazes da mudança a levar as caixas para a sala de estar, ondei eu pedi que as levasse. Notei nas casas ao lado e todas eram de construção recente, feitas na restauração da cidade há 10 anos, os vizinhos espionavam tudo através das sacadas ou janelas, a maioria deles com olhares suspeitos na minha direção, como se já soubessem que eu sou a dona da casa.

"Aleah, querida, eu já vou ter que voltar." Meu avô surgiu logo atrás de mim, fazendo os vizinhos diminuírem a sua atenção. "Preciso voltar para Las Vegas logo, detesto deixar sua avó sozinha, mesmo que esteja com o seu pai." Dito isso ele me surpreendeu com um abraço, apertando-me forte e depositando um beijo no topo da minha cabeça. "Tem certeza disso, Aleah? Essa cidade não parece certa para você." Divagou preocupado, mas não evitei de sorrir ao ouvir suas palavras.

"Vai ficar tudo bem, eu prometo. Não acredite em tudo o que falam por aqui assim como não deve acreditar no que os outros falam sobre mim. Eu sinto como se estivesse que esta aqui, agora não tem mais volta, afinal eu começo no meu emprego no hospital psiquiátrico em dois dias." Tentei acalmá-lo mas pelo visto não adiantou, meu avô forçou um sorriso e beijou a minha bochecha, sussurrando um 'eu te amo, querida' no meu ouvido, e antes que pudesse responder ele já estava dentro do carro, deixando-me por minha conta em Broken Hills.

Broken Hills [short] + hesOnde histórias criam vida. Descubra agora