Capítulo 26

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Limpo o rosto com as costas da mão e respiro fundo, puxando o ar devagar. Faz uns dez minutos que o treino terminou, mas resolvi ficar um pouco mais para trabalhar nas bolas paradas. Nos últimos dias, as coisas não têm sido fáceis. Admito que não imaginava que ficar sem jogar me deixaria tão desanimada. Já são cinco jogos fora desde que aquelas fotos vazaram, e desde então, não pisei mais no campo em uma partida oficial. Enquanto isso, Ayla, por outro lado, já voltou para o time. A jogadora da sua posição se machucou, e como não havia outra substituta, ela foi convocada de volta.

Ainda assim, não estou desmotivada. Pelo contrário, estou ainda mais focada para voltar com tudo. Nosso próximo jogo é contra o Palmeiras, no Allianz Parque, e tudo o que eu mais quero é sair de lá com a vitória.

— Ainda bem que você não foi embora. - diz Ayla, se aproximando e me tirando dos meus pensamentos. — O técnico quer todo mundo no auditório agora. - avisa.

Pego a bola que estava prestes a chutar e sigo Ayla até o vestiário. Pelo jeito, o técnico tem algo importante para nos dizer.

Assim que entramos, vejo boa parte das minhas colegas já reunidas no centro da sala. O técnico está lá, esperando pacientemente até que todo o time se junte. Quando todas estão presentes, ele começa a passar um vídeo das jogadas do nosso próximo adversário. Em seguida, ressalta alguns pontos importantes sobre nossa atuação e como podemos melhorar.

Terminada a análise, somos dispensadas.

...

Saindo do treino, a música começa a tocar aleatoriamente no rádio do carro enquanto dirijo. Começo a cantar junto, mas logo reduzo a velocidade para trocar de faixa quando meu celular, conectado via Bluetooth, começa a tocar.

— Pronto? - atendo, sem reconhecer o número na tela.

Sofi, tá em casa? - a voz de Joaquín, com seu sotaque inconfundível, me surpreende.

— Estou chegando, por quê?

Faz um favor pra mim? Uma encomenda minha vai ser entregue, pode pegar pra mim, por favor?

— Ok, mais alguma coisa? - pergunto, virando a rua do condomínio.

Não, só isso mesmo. Obrigado!

— Por nada, mas saiba que vou cobrar esse favor. - brinco, com um sorriso no rosto.

Eu te dou tudo o que você quiser. - responde ele, e agradeço por estar sozinha no carro, porque meu rosto fica vermelho na hora. — Mais uma vez, muito obrigado.

Nos despedimos e encerro a ligação.

...

Chegando em casa, encontro meu pai na cozinha. Ele me dá aquele olhar investigativo, típico dele, e não demora a soltar:

— Eu te disse que estava tudo bem. - falo, tentando manter a tranquilidade enquanto ele caminha até a mesa e se senta.

— Você disse, mas quis confirmar. - ele responde calmamente. Mais cedo, havíamos conversado por telefone, e eu dei a mesma resposta que dou a todos: "Estou bem". Mas meu pai sempre sabe quando algo não está certo. Ele puxa uma cadeira e bate de leve no assento ao lado. Relutante, mas sabendo que ele não desistiria, sento-me ao lado dele.

— Então, como você está de verdade? - ele pergunta, me encarando com aqueles olhos que sempre captam tudo. Desde pequena, nunca consegui esconder nada dele.

— Sinceramente? Não sei. - Respiro fundo. — É uma mistura de emoções. Estou triste por não estar jogando, com raiva porque não fiz nada de errado para merecer essa punição. Ao mesmo tempo, torço por cada vitória do time, mas também torço para que algo aconteça e eu volte para o campo. - Meus olhos começam a se encher de lágrimas.

Um Derbi Inesquecível - Joaquín Piquerez.Onde histórias criam vida. Descubra agora