𝐀mor 𝐈nesperado

𝟎𝟎𝟐.

𝗧𝗔𝗘𝗛𝗬𝗨𝗡𝗚
       ╰> 𝘱𝘰𝘪𝘯𝘵 𝘰𝘧 𝘷𝘪𝘦𝘸

Chegar em casa depois de um dia na escola sempre é um alívio. Quer dizer, “casa” é um termo relativo. Nosso apartamento é mais um abrigo improvisado, as paredes tinham algumas rachaduras, a mobília era velha e surrada, mas era um apartamento dúplex e ali havia algo que eu prezava mais do que qualquer luxo: liberdade. Era um alívio estar longe dos olhares julgadores da escola ou dos sermões dos professores.

— Cara, você parece mais sério do que o normal — Comentou Jungkook, jogando uma maçã no ar e pegando-a de volta.

— Estresse escolar — Respondo, jogando a mochila no sofá.

— Ouvi dizer que a professora mudou os lugares na sua turma de literatura, é verdade? — Disse Mingyu, arqueando uma sobrancelha.

— Mudou sim. Agora estou preso com a princesinha da escola — Murmurei, lembrando da expressão irritada da mina quando se sentou ao meu lado.

— Jennie, né? — Jungkook sorriu. — Boa sorte, meu amigo. Ela não parece do tipo que vai facilitar as coisas pra você.

Revirei os olhos, cansado das provocações. Mas eles tinham razão. Ela não ia facilitar. E honestamente, eu também não queria que fosse fácil. Um desafio era sempre mais interessante.

— Aquela mimada é insuportável pra caralho. — Me controlei muito para não transformar meu comentário em um xingamento, mas o estresse já tinha dominado minha mente, me sufocando com força.

Jungkook ri, servindo três pratos com uma mistura de macarrão e vegetais. Não é nada gourmet, mas é comida. E a gente aprende a valorizar o que tem.

— E você achando que seu dia não podia piorar — Ele provoca, entregando-me um prato.

Sentamos na sala, devorando a comida. Enquanto mastigo, minha mente volta ao passado. Minha vida nunca foi fácil, mas eu aprendi a lidar com isso. Desde os onze anos, quando perdi meus pais, me virei sozinho. Passei por lares adotivos e, eventualmente, decidi que era melhor estar por minha conta.

Aos dezessete, consegui um trabalho em uma lanchonete, o que me permitiu alugar um apartamento pequeno junto com Jungkook e Mingyu. Eles são praticamente minha família agora, e juntos conseguimos manter as coisas funcionando.

Depois do almoço, nos espalhamos pela sala. Mingyu dedilhando em sua guitarra, o cara é um gênio na música, e o som ajuda a gente a relaxar depois de uma manhã puxada. Jungkook estava mexendo no celular, provavelmente ocupado enquanto troca mensagens com algumas mulheres, e eu estava deitado no sofá, olhando pro teto.

Era hora do horário livre do dia antes de irmos para o trampo e enfrentar a realidade novamente. Cada um de nós estava aproveitando o momento antes da volta à rotina estressante. Não é fácil manter um apartamento e ainda estudar, mas a gente dá um jeito.

— Sexta vou ter que sair do trampo mais cedo pro jogo — Comenta Jungkook, quebrando o silêncio, que trabalha numa loja de conveniência. Ele sempre pega os turnos noturnos e finais de semana, o que lhe permite treinar e estudar.

— Boa sorte com isso. Meu chefe tá pegando no meu pé de novo — Mingyu diz, revirando os olhos. Ele trabalha como garçom num restaurante, sempre voltando tarde da noite com histórias sobre clientes chatos e gorjetas miseráveis.

Eu trabalho numa oficina de motos. Comecei lavando e agora faço alguns reparos mais simples. Não é o emprego dos sonhos, mas é o que paga as contas.

— Pelo menos a grana tá entrando, não é? — Digo, tentando ver o lado bom da coisa toda. — A gente tem que se virar.

— Falando nisso, o aluguel desse mês já tá coberto? — Pergunta Mingyu.

— Já, coloquei minha parte ontem, tô livre — Jungkook responde. — E você, Taehyung?

— Depositei hoje de manhã. Estamos em dia — Confirmo, aliviado por saber que pelo menos não vamos ser despejados esse mês.

Esses momentos me lembram do que realmente importa. Amizade, lealdade e, claro, algumas boas provocações.

— Tá tudo certo pra sexta, né? — Dei risada — Jogo e depois a gente sai pra beber.

— Claro, mané — Jungkook responde, sem tirar os olhos do celular. — A gente vai ganhar e depois comemorar até de manhã.

— Não vejo a hora de ver as líderes de torcida tentando impressionar — Mingyu gargalhou alto, finalmente largando a guitarra. — Principalmente a Jennie. Acha que ela vai fazer o quê dessa vez?

Revirei os olhos. Aquele nome já me atormentou bastante hoje e ainda não cheguei nem na metade do dia.

— Provavelmente vai tentar comandar todo mundo como se fosse a dona da escola. Ela é irritante pra caralho, mas tenho que admitir que manda bem nas coreografias.

— Você fala isso, mas fica todo mexido quando ela aparece — Provoca Jungkook, rindo.

— Ah, vai se foder, Jungkook. — Jogo uma almofada nele. — A mina é só mais uma garota mimada. Nada mais.

— Sei, sei — Mingyu ri. — E qual vai ser o plano pra depois do jogo? Bar do RM?

— Bar do RM, certeza — Concordo. — Lá a gente pode beber tranquilo.

Jungkook se levanta e vai até a cozinha, voltando com três cervejas. Ele joga uma pra cada um de nós.

— Vamos fazer um brinde então, aos três fodidos que somos, mas que ainda conseguem se divertir — Ele diz, levantando a garrafa.

— Aos três fodidos — Repetimos, batendo as garrafas.

— Sexta vai ser foda — Diz Jungkook, já meio ansioso. — Ganhar o jogo, ver as líderes de torcida e depois encher a cara com os melhores amigos.

— Isso aí — Concordo, levantando a garrafa. — Sexta vai ser um dia e tanto.

Enquanto bebemos, a conversa flui fácil, falamos de tudo e mais um pouco. É nesses momentos que eu sinto que, apesar de tudo, tô no lugar certo. Com os caras certos.