Jornada de aceitação

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     Quando eu tinha 14 anos eu me descobri uma pessoa bissexual, e isso foi um grande choque para mim, mas não pelo fato de ter sido de repente, nunca é assim do nada. O choque veio por conta da criação que eu tive, onde isso não era bem visto e nenhum pouco comum, e muito menos comentado. O único contato que eu havia tido com pessoas LGBTQ vinha de uma prima minha, mas era algo que eu nunca tinha reparado, na minha cabeça ela e a namorada eram amigas. O que eu quero dizer é que a minha criação fazia eu pensar que não era algo normal, fazia eu fechar os olhos para esse realidade de um modo que eu não a percebia mesmo estando próxima de mim. Por isso o choque quando eu finalmente entendi os sentimentos que eu tinha.
     Eu fui criado desde muito novo em um âmbito religioso, a maioria (senão todos) os ensinamentos que eu tinha dentro de casa tinham a influência da religião cristã evangélica. Felizmente o choque de me descobrir bissexual veio após o primeiro ano de pandemia, época essa onde eu me soltei dessas amarras e comecei a desenvolver minhas próprias opiniões e entender quem eu era realmente. Isso facilitou muito a minha auto aceitação, e felizmente eu tinha (e tenho) ótimos amigos que me ajudaram a passar por isso e me receberam muito bem.
Aos meus 15 anos, quase 16, eu finalmente me assumi, foi uma jornada de 1 ano tentando criar essa coragem, e realmente, foi uma jornada pequena mas que pesou muito e eu precisava tirar esse peso. Infelizmente a reação não foi tão boa quanto eu queria, escutar seu pai falar que era mais fácil aceitar que você tivesse engravidado uma garota destrói a mente de qualquer pessoa. Até hoje eu luto contra isso, é uma memória que eu odeio lembrar.
     A intenção desse livro é tirar aprendizados de situações de merda, tirar o mínimo de prazer da vida quebrada na qual vivemos. No final, é só você e você, se aceite que tudo vai ficar melhor, não se importe tanto em ter a aceitação de outras pessoas, a sua é a melhor e mais importante de todas. Pense que você tem uma jornada de auto aceitação, e sim, você pode fazer algo pra tentar se aceitar, e não, você não pode fazer nada para que os outros te aceitem. E se você é mais alguém como eu, uma pessoa queer que os pais não aceitaram, pode ficar tranquilo que um dia eles vão reconhecer o erro deles, eu ainda espero que esse dia chegue, mas se não chegar eu viverei bem igualmente.

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