II. Como tudo comecou a desmoronar.

276 32 7
                                    


☼☽

Camila e Dinah estavam exaustas, cada músculo do corpo delas clamando por descanso enquanto lutavam para separar a briga violenta à sua frente. O caos ao redor era ensurdecedor, gritos e palavrões se misturando com o som de socos e empurrões. Camila tentava ignorar a ardência latejante no supercílio aberto, o sangue quente escorrendo pelo rosto e prejudicando sua visão do olho esquerdo. Seus dedos trêmulos se esforçavam para limpar o sangue, mas a visão continuava turva.

Em um momento de desespero, Camila foi arrastada de volta para o meio da confusão. Sentindo-se impotente e movida pelo instinto de sobrevivência, ela agarrou o pé de um dos rapazes envolvidos na briga, puxando-o com força na tentativa de derrubá-lo.

De repente, a sirene de um carro de polícia ecoou pelo ar, um som agudo e penetrante que perfurou o caos como uma faca. As luzes vermelhas e azuis piscavam freneticamente, iluminando os rostos ao seu redor com os flashes de cor. Todos pararam, congelados em meio ao tumulto, o som estridente da sirene os arrancando da briga por um momento.

Falando sério agora Camila gritou, exasperada. Sua mão livre pressionou o supercílio, tentando estancar o sangramento. - QUEM FOI QUE CHAMOU A PORRA DA POLÍCIA?

Sunset Bay, primeiro fim de semana do verão de 2005.

5 horas antes da chegada da polícia.

— Eu chequei os freezers mais uma vez, a caixa registradora ainda está com aquele problema, Dinah. Você já sabe, empurra com um pouco mais de força para fechar. — Juan passava novamente as instruções, encarando as expressões entediadas de Camila, Dinah e Lucas. — Se sentirem que não conseguem dar conta, me liguem.

— Meu deus, homem, a gente tem tudo sob controle. — Camila levantou do banco de madeira, gentilmente guiando o pai até a porta de saída do bar. — Você já falou isso um milhão de vezes, eu sei tudo de cor e salteado, estou te dando o dia de folga, anda.

— Estou falando sério, Camila. — O pai a encarou quando os dois chegaram ao estacionamento. — Vou ligar durante a noite para saber se está tudo bem.

— Caramba, obrigada pelo voto de confiança, hein. — Ela ergueu as mãos ironicamente. — O que você deveria fazer era descansar essa cabecinha e focar em ter uma tarde legal com a sua esposa, sei lá quantos anos faz que vocês foram jantar fora. Nós cuidamos das coisas por aqui.

O homem maneou a cabeça em consideração, deixando um beijo no topo dos cabelos ondulados da filha antes de entrar na caminhonete Ford 1995.

— Eu vou ligar, hein. — Ele gritou, apontando para Camila quando o carro começava a se afastar.

— E eu não vou atender. — Ela gritou de volta divertidamente, despedindo-se do homem com um aceno.

Camila voltou para dentro do estabelecimento, dando de cara com Lucas e Dinah, que estavam entretidos em seus afazeres.

— Agora eu sei de onde surgiu a úlcera, esse homem é estressado.

— Quantas pessoas você está esperando? — Lucas perguntou, erguendo alguns pedaços de madeira que seriam utilizados na fogueira.

— Sei lá, umas cinquenta? — ela deu de ombros, pegando uma grande jarra vazia de vidro debaixo do balcão e colando uma folha de papel, com "gorjetas" escrito à mão.

— Por que é que isso tá me parecendo tão mal planejado? — Dinah questionou enquanto separava alguns copos descartáveis na bancada.

— Porque realmente foi, Dinah. — Camila respondeu, como se fosse óbvio. — Há um limite para o que eu posso fazer com um prazo de dois dias e orçamento inexistente. Vocês estão sendo muito pessimistas.

Corrente de retorno | CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora