III. Consequências

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O fusca azul parou com um solavanco em frente ao quintal da pequena casa. A construção era simples, esculpida em madeira envelhecida, coberta por tinta azul e enfeitada com janelas de veneziana há tempos desbotadas pelo sol. A pequena varanda era decorada por algumas redes de pesca penduradas ao ar livre. A imagem de Dinah, parada em frente à casa de braços cruzados, chamou a atenção de Camila. Ela acompanhou a amiga com o olhar enquanto Dinah se dirigia para a porta do passageiro do automóvel. Havia acordado a loira com uma ligação às quatro da manhã, implorando por companhia para ir até o laguna. Camila inspirou profundamente quando o olhar de Dinah caiu sobre si; a loira tinha uma das sobrancelhas arqueada, em expressão inquisitiva.

— E então? Seus pais comeram seu rabo? — perguntou Dinah, analisando a forma como os lábios de Camila começavam a esboçar um sorriso nervoso.

— Não tive coragem de encarar a bronca, saí de fininho antes que eles acordassem — confessou, sentindo-se culpada.

— Então você vai esperar até seu pai descobrir sozinho sobre a confusão de ontem? Camila, não sei se você percebeu, mas tomou seis pontos na cara. Acho que hora ou outra o Juan vai acabar notando.

A morena negou com a cabeça, girando a chave na ignição do fusca enquanto tentava dar a partida. Uma. Duas. Três vezes até obter sucesso. Quando pôde finalmente engatar a primeira marcha e sair da frente da propriedade dos Hansen, ela voltou a encarar a amiga.

— Olha, em minha defesa, eu só queria arrumar o Laguna antes de contar tudo, assim o impacto vai ser menor.

— É, definitivamente isso vai excluir a gravidade da briga corporal e a polícia ter ido até lá, genial.

Camila bufou, suas mãos puxando o volante de forma impaciente para direcionar o carro durante uma curva.

— Eu sei, só estou tentando não piorar as coisas. — Camila arfou, seus dedos batucando nervosamente no volante. — Preciso arranjar uma desculpa boa o suficiente. Não quero que o Lucas se prejudique por algo que aconteceu por minha culpa.

Dinah suspirou, olhando para fora da janela enquanto passavam pelas casas coloridas da vila.

— Fugir do problema não vai resolver nada, Camila. É uma cidade pequena, as pessoas falam. Ele vai descobrir mais cedo ou mais tarde. E você sabe como ele é. Mas é só a minha opinião.

— Eu sei, você tem toda razão. — Camila disse, seu pé alcançando a embreagem enquanto freava devagar para estacionar aos fundos do bar. — Talvez ele não fique tão bravo assim se perceber que eu estou tentando resolver tudo.

— É, boa sorte com isso. — Dinah murmurou, com uma mistura de ceticismo e preocupação, batendo a porta do carro com um pouco mais de força ao sair.

— Vou precisar — Camila disse, mais para si, antes de acompanhar a amiga.

As duas trocaram olhares longos e desesperados ao entrar no salão do bar. Copos e garrafas estavam espalhados por toda a extensão do chão de taco, contrastando com manchas de bebida e pegadas de areia. Dinah caminhou até a entrada que dava para a praia, destrancando a porta para observar o ambiente externo. Os pufes e cadeiras ainda estavam jogados pela areia, junto com os restos do que havia sido uma fogueira na noite anterior. Agora restavam apenas cinzas remanescentes dos troncos de madeira, rodeados por alguns copos plásticos, garrafas e bitucas de cigarro.

— Pelo menos aqueles filhos da puta deram boas gorjetas — disse Camila, surgindo no deque e segurando com as duas mãos uma jarra de vidro maior que sua cabeça, cheia até o topo de notas de dólar.

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⏰ Última atualização: Jul 30 ⏰

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